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Conheça “Zózimo Barbosa”, fina HQ que baseou a série “Cidade Proibida”

História em quadrinhos de Wander Antunes e Gustavo Machado segue as desventuras de um fanfarrão detetive carioca

atualizado

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A boa notícia da renovação da série “Cidade Proibida”, da Rede Globo, para uma segunda temporada, faz lembrar novamente que o êxito deste material é baseado em uma muito singular história em quadrinhos realizada por dois craques brasileiros deste meio, e que uma nova edição deste material acaba de sair pela Editora Noir.

FOTO_JOÃO_MIGUEL_JR/DIVULGAÇÃO
Vladimir Brichta e Maeve Jinkings em “Cidade Proibida”

Isso renova a sinergia entre teledramaturgia e HQs que existe no Brasil desde as adaptações, de um meio para o outro, de personagens como “Capitão 7” e “Vigilante Rodoviário” (nos anos 50 e 60), até coisas de Laerte que saíram na “TV Pirata”, versões de “Ed Mort” e “Aline” para a TV, “Radical Chic”, desenhos animados de Maurício de Sousa e também uma impagável versão de “Vida de Estagiário” (de Allan Sieber) como sitcom.


“Zózimo Barbosa – O Corno que Sabia Demais e Outras Histórias” é o nome do volume que compila as principais tramas do detetive fanfarrão carioca e sua idiossincrática entourage, que inclui um truculento “tira” à moda antiga (Paranhos) e um gigolô extraído direto dos anos 50 (Bonitão). A nova edição traz o material que já havia sido publicado pela Pixel em 2007, porém com duas histórias inéditas, uma redesenhada e vários extras, como textos explicativos e rascunhos das ilustrações.

Quem viu a série da Globo sabe o clima que permeia esta HQ ainda um tanto injustiçada (porque merecia mais atenção do próprio meio quadrinístico): Zózimo é um detetive malandro e safado (Sam Spade dos trópicos), no Rio dos anos 50, que se envolve na investigação de todo tipo de caso de adultério. O corno que “precisa apenas saber”, o corno que “paga com sangue”, o corno sacaneado por seu próprio amigo, etc. O clima é de uma chanchada da Atlântida dirigida por Watson Macedo: fuleiragem, carioquismo, uma boa dose de insinuações politicamente incorretas e picardias.


Uma das melhores coisas é a recuperação de gírias e maneiras de falar da época. Após breve leitura já estamos repetindo os chistes dos carismáticos personagens: “espeto!”, “orgia!”, “gaita!”, “batata!”. Ao mesmo tempo, o estilo clean (meio “linha clara” francesa mesmo) do desenhista Gustavo Machado nos propicia um vibrante passeio por um Rio vintage e nostálgico: estão lá a praia de Copacabana e seus trajes de banho do arco da velha, o Jóquei, o Jardim Botânico, etc. Além disso, bares antigos e até carros de época, como o famoso Ford Bigode.

O sucesso deste ótimo quadrinho vem, é claro, da maestria de seus autores, ambos veteranos com ótimo currículo e um tanto fora desse circuito “indie” de quadrinistas brasileiros contemporâneos. O roteirista Wander Antunes fez carreira na Europa, e assinou uma das mais belas adaptações de literatura brasileira para as HQs: “Clara dos Anjos”, do grande Lima Barreto, com o magnífico ilustrador Lelis. Já Gustavo Machado está no mercado brazuca desde a época da Grafipar (anos 70) e fez história no nosso quadrinho infantil (coisas como “Zé Carioca” e “As Aventuras dos Trapalhões”).

“Zózimo Barbosa” efetivamente traz algo que escapa à pretensão das tendências mais contemporâneas no quadrinho brasileiro. Primeiro, uma equipe roteirista/desenhista sem a pretensão de “autoralidade”, “experimentalismo”, “vale tudo”. Antunes é macaco velho e sabe que, às vezes, basta um personagem bem delineado, uma trama que seja capaz de engajar o leitor (com as devidas viradas narrativas) e um traço bem feito, de saltar os olhos, para se efetivar uma HQ que se preze.

Assim, é na natureza picareta de Zózimo, na correria de Bonitão para conseguir uma “bimbadinha”, no olhar safadinho das femmes fatales adúlteras cariocas e até nos modos de pseudoliteratura noir de Paranhos que vamos sendo encantados por esta simples arte de quadrinizar fazendo uma leitura do passado e da história de seu próprio país. Diante de tanto “Star Wars” e filmes da Marvel, o ar de uma obra não tão globalizada parece até perfumado pela gafieira carioca.


Aos olhos vigilantes de certa correção política dos dias atuais, “Zózimo” pode parecer até inadequado (afinal, trabalha com clichês). Os homens são machistas. Os diálogos, de uma malemolência já não mais aceita, e as mulheres estão sempre prontas para dar uma escapadinha. Porém, é visível a intenção de Antunes em oferecer um retrato de época sem concessões e que inspire também a reconhecer como o mundo e nossos hábitos mudaram. A referência aqui, é claro, recai também sobre Nelson Rodrigues, e é impossível ler “Zózimo” sem lembrar do bordão de uma de suas obras máximas: “perdoa-me por me traíres”.

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