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Acusar Caetano Veloso de pedofilia é desconsiderar contexto histórico

Um dos artistas mais respeitados do mundo está acima de campanhas odiosas nas redes sociais

atualizado

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Daniele Venturelli/Getty Images
Caetano Veloso em show - Metrópoles
1 de 1 Caetano Veloso em show - Metrópoles - Foto: Daniele Venturelli/Getty Images

Paciência tem limite. Nesta semana, não consegui continuar sentado numa mesa de bar onde uma pessoa acusava Caetano Veloso de pedofilia (?!). Dizia que o “safado” transou com a futura esposa e mãe de dois de seus filhos, Paula Lavigne, quando a menina tinha 13 anos de idade. Ele teria cometido o crime de “estupro de vulnerável”.

Respirei fundo e perguntei antes de partir para ler um livro: Quando ocorreu essa relação? Em qual ano do século 20? Você deve saber que a lei que classifica essa relação como estupro de vulnerável é de 1990? Neste ano, Paula Lavigne já tinha vinte e poucos. O sujeito que me ouvia vociferou. “Você está defendendo a pedofilia?” “Certamente, aprova o artista nu do museu!”

A face do meu interlocutor ficou corada de sangue e os olhos vermelhos dilataram. O ódio que movimenta a corrente sanguínea é capaz de puxar gatilhos. Retirei-me para luz

Pedofilia é crime, hediondo e complexo, que deve ser perseguido continuamente. Somos todos contra por princípios, sobretudo, éticos. Mas precisamos definir e entender tal absurda prática. Um nu artístico não é pedofilia porque não há intenção de sedução nem desejo de se cometer ato sexual com menores. Trata-se de uma expressão do corpo nu, simplesmente.

Percebi que estava diante de um sujeito anacrônico, destituído de pensamento histórico e crítico. Aquele que observa e julga o passado com o olhar do aqui e agora, sem levar em conta o contexto político, econômico, social e os jogos e costumes de uma época. Como não tem informações nem pensamento reflexivo, age em “manada”, repetindo o que é compartilhado por aí.

A acusação criminosa sobre o amor de Caetano e Paula é anacrônica. É como se todos nós olhássemos o passado e acusássemos nossos avôs, bisavôs e tataravôs de pedófilos. Eles se aproximavam de suas jovens futuras esposas num contexto cultural, que necessitava ser quebrado com o tempo. Mas que, na época, era “aceitável”. Não havia legislação que regesse essas aproximações afetivas com o rigor e o cuidado que deve ter a relação entre uma pessoa madura com um adolescente.

A história de amor entre Caetano e Paula ainda teve o consentimento dos pais dela, o que o Código Penal de 1940 considerava como desagravante. É baseada nessas leis e contextos que, provavelmente, a defesa de Caetano e Paula vai processar o Movimento Brasil Livre (MBL), que iniciou a campanha #CaetanoPedófilo, atingindo números extremos de seguidores no Twitter. Daqui, torceremos para a justiça ser feita.

Independentemente do mérito artístico, Caetano Veloso sempre foi um homem corajoso, firme nas suas posições e coerente em posturas políticas. Goste ou não do que ele pensa, o cidadão Caetano defendeu princípios humanistas, lutou contra a ditadura militar, disse não à censura. Resoluto nas crenças, nunca teve problema em voltar atrás. É de carne e osso e em evolução.

Deve ser muito triste para um artista consagrado mundialmente perceber que alguns brasileiros perderam o pertencimento e o respeito por sua obra a partir de questões infundadas. O mundo respeita Caetano Veloso, um dos artistas contemporâneos mais importantes da história brasileira. Em 2017, completam-se 50 anos da Tropicália, movimento revolucionário da cultura nacional. Seria um tempo para celebrar.

Ainda bem que Madonna, a estrela estrangeira, o viu e se ajoelhou diante dele. Ele sorriu feliz. Como disse a grande atriz Camila Amado, “Caetano está em paz, sempre esteve”. É um farol.

Ave, Caetano e sua caetanave. Só não vai atrás do trio de Caetano quem já morreu

Nota do autor
Li atentamente todos os comentários. Sempre bem-vindos.
O texto deixa claro o quão é absolutamente contra a pedofilia. O que o texto rebate é a má-fé utilizada por segmentos que julgam e condenam Caetano Veloso por um crime que não lhe é atribuído. O texto não julga a relação afetiva e de aproximação entre Caetano e Paula. No entanto, deixa claro que houve o consentimento da família, parte interessada e afetada pela história.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Metrópoles.

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