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Umami Deli: restaurante brasiliense especializado em PF japonês

A casa aposta nos bentôs (pratos feitos) e nos bowls de macarrão

atualizado

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Guilherme Lobão/Metrópoles
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1 de 1 WhatsApp-Image-2018-09-28-at-09.33.06-41 - Foto: Guilherme Lobão/Metrópoles

Não despreze a marmita. Se há um princípio orgânico da alimentação fora do lar para a classe trabalhadora é o da quentinha. Da boia-fria embrulhada em pano para preservar a quentura porquanto puder às caixas de isopor dos ambulantes na rua, o marmitex está na gênese da nossa sociedade desde os tempos da vida rural. E, longe de ser exclusividade nossa, o prato feito embalado pra viagem apenas se reconfigurou ao longo dos séculos ao sabor da tecnologia e dos arranjos sociais. A marmita hoje vem de moto, por meio de aplicativo.

Megalópoles como Tóquio, Nova York e São Paulo há tempos reúnem centenas dos mais populares empreendimentos orientais no ramo da alimentação: as lojas de souzai-ya. Trata-se de delicatessens japonesas que ofertam quitutes e produtos de toda sorte, mas sempre dedicadas a servir marmitas. Brasília, em seu cosmopolitismo subdesenvolvido, ganhou a primeira casa do gênero há pouco mais de seis meses. A Umami Deli, situada na rua do mercadinho japonês Mikami, apresenta o conceito ao público brasiliense, com uma variedade enorme de bentôs (pratos feitos) e bowls de macarrão.

O lámen, prato mais popular da gastronomia japonesa, tem espaço limitado ainda por aqui. É servido apenas duas vezes ao mês. Em outubro será nos dias 10 e 24. A ênfase, portanto, é no PF mesmo, normalmente montado com uma carne (ou tofu na versão vegetariana), gohan, salada e uma porção de verduras (kimpira ou curry).

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Tonkatsu bentô: porco empanado com verdura, kimpira e gohan

 

À frente da loja está o imigrante japonês Takashi Suguiura, que antes trabalhava com importação de Guaraná Antártica para seu país. Ele divide as tarefas na cozinha com a esposa, mas recepciona a clientela em português bem esforçado. Mas costuma descer à cozinha sempre que alguém pede o tan tan pasta.

Este prato só Takashi faz – e não consegui uma explicação muito eloquente sobre isso. Por R$ 30, o bowl reúne carne suína moída, bok-choy e um molho picante de gergelim, mas que é um tanto gorduroso. A decepção: Takashi usa espaguete italiano. Com o Mikami ali do lado? Que coisa. Há opções com o macarrão soba, de trigo-sarraceno, também. Caso do Nikussoba (R$ 35), servido frio com alga e um refogado de carne bovina com cebola e gengibre.

Considero, contudo, mais interessantes as combinações dos bentôs. Tonkatsu muito bem empanado, tenro; um karagee (semelhante ao nosso frango à passarinho, só que desossado) de fritura irregular, mas um ótimo curry japonês aigake (R$ 30 o grande).

Não deve ser de se espantar que o Japão tenha em sua cozinha afetiva grande influência do sudeste asiático. Além de assimilar o curry na culinária doméstica, as combinações de temperos indianos conhecida como massala predomina em muitos preparos. Aqui, há uma curiosa batata frita temperada com o mix de condimentos (R$ 18 a porção grande).

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Na Umami Deli, há ainda uma série de acepipes tipicamente japoneses, mais destacados do que os pratos. Estamos diante de um trabalho bem feito, de aspecto caseiro. Ainda falta profissionalismo. E com isso não quero dizer que dependa da consultoria de um gastrólogo ou um chefão porreta. Falta aqui o profissionalismo logístico mesmo: mais consistência no serviço, menos irregularidades de cozimento…

Está aí, contudo, um ótimo lugar de refeições ráfidas, PF de boa qualidade, e sobretudo com saborosas opções de entrada. Admito certa adicção pelo nikuman (R$ 8 a unidade). O pãozinho cozido (o mesmo bao chinês) vem com recheio de porco perfumado por gengibre, devendo uma picância mais elevada, embora muito bem feito.

A gyoza de Takashi também merece atenção (R$ 18 a porção com seis peças). Suficientemente elástica, finalizada na chapa com os babados da massa tostados, os pasteizinhos de porco vêm acompanhado de um molho à base de shoyu, gengibre e cebolinha.

Reluto em pedir sobremesa por aqui. Colonizado pela confeitaria europeia, o paladar ocidental não costuma sentir muita graça dos doces de feijão azuki. Aqui, ele é servido de forma curiosa: dentro de uma panqueca (um crepe, vá lá) em forma de peixe. Massudo e enjoativo, mas uma experiência que deve agradar a molecada. Em minha última visita provei o “cupcake” de batata-doce. Denso, mas com açúcar equilibrado. Prefiro os biscoitinhos amanteigados de matchá vendidos próximo ao caixa.

Ao final, a Umami Deli presta um serviço que há década encontramos a cada ruela da Liberdade (SP) ou de Manhattan. Parece que Brasília está amadurecendo aos poucos seu comércio de rua — para o bem e para o mal. Neste caso, recebo de muito bom grado uma lojinha de marmita japonesa.

Curioso como nos nobres espaços de discussão da gastronomia não se fala sobre o bom e velho marmitex, o relegando a uma condição inferior. Talvez seja seu aspecto um tanto quanto desgourmetizado, sem a assinatura de um chef, sem tomilho ornando. Bem, eis minha colaboração para o debate.

Umami Deli
Na 414 Sul, bloco B, loja 31. Tel: (61) 99623-4603. Das 11h às 19h. Sábado até 17h. Fecha domingo. Ambiente externo e interno. Delivery. Desde 2018

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