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Piauíndia tempera comida com muito afeto mas pouca picância

Mesmo reformulada, a casa ainda deve em alguns aspectos, porém, é uma boa experiência

atualizado

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Guilherme Lobão/Metrópoles
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1 de 1 piauindia - Foto: Guilherme Lobão/Metrópoles

Senti de muito longe agradável e intenso cheiro do masala preparado por Evandro Viana no longínquo Condomínio Solar da Serra, no Jardim Botânico. Desci do carro, ao fim da estrada de chão, após atravessar os condomínios que o antecedem, de estrutura mais urbana, e logo fui abraçado pelo charme bucólico dentre as árvores do Cerrado em um cenário de horizonte montanhoso onde funcionava o único restaurante indiano do Distrito Federal: o Piauíndia. Era o ano de 2013.

Aquela comida de pinta exótica para os paladares de uma cidade como esta, com pouquíssimo registro migratório do sudeste asiático (se comparado a outras capitais), ousou colocar em pauta as misturas condimentadas mundialmente referendadas, mas de uma raridade ímpar no comércio local. Mandalas e outras insígnias da cultura hindu dividiam espaço com cordéis e alusões ao Piauí de Evandro. O acolhimento xamânico de sua companheira, Nicole Magalhães, tornava a experiência afetiva. Estávamos almoçando em um fim de semana na casa dos anfitriões, literalmente.

Nesses cinco anos, o Piauíndia passou por mudanças significativas. A maior delas foi em termos de negócio. Como profissionalizar o serviço, até então muito familiar, amador? E em qual ponto, de modo a não descaracterizar totalmente aquela paisagem cerratense e interiorana?

Voltar ao Piauíndia, agora funcionando em uma rua de esquina na charmosa Vila Planalto, escondida por entre copas baixas das árvores, demonstra um amadurecimento na concepção do projeto informal de anos atrás. O tempero está muito parecido, pode-se perceber melhor consistência entre preparos, mas infelizmente, continua sem picância (e sem opções de molhos e pimentas legais). A casa escora-se na cômoda oferta de Tabasco, este coringa dos restaurantes mexicanos que temem espantar clientes com uso de pimentas de verdade.

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Outra diferença relevante está no nome cunhado, que agrega o subtítulo Restaurante Fusion Indiano. Não vou me alongar sobre o uso do termo em inglês, pois já fora esculhambado o suficiente, sendo utilizado para referendar casas com problemas conceituais práticos ou conferir charme “gourmet” a restaurante de filé-com-risoto.

O fusion de Nicole e Evandro parece-me ter mais propriedade, uma vez que ajuda a equilibrar expectativas por uma gastronomia tipicamente indiana. Aqui, o indiano é mais espiritual e conceitual, embora fique muito evidente no uso de receitas clássicas.

Há a pakora de vegetais (um bolinho rústico de legumes fritos em massa de grão-de-bico) e as samosas (pasteizinhos recheados de batata e ervilha em tempero de curry). Muito bem feitas as entradinhas, dignas de nota. O pão chapati já não me agrada suficientemente. Massa excessivamente elástica. Mas os chutneys são bem pronunciados em tempero, caso da pastinha de manga e a de maçã.

Dentre os pratos principais, ainda percebo algumas limitações vindas dos tempos de outrora. Quando em 2013, o Piauíndia reservava-se o direito de servir apenas três tipos de curry. Com a diversificação e formalização do negócio, veio o menu ampliado. Mas com ele, não é raro observar ausências. Um tanto frustrante para quem vê a promessa de um porco vindaloo e de um thali de cogumelos não encontrá-los ao momento do pedido.

Em uma nova visita recente pude provar o curryzinho adocicado e superperfumado de cogumelos. Fungos cozidos corretamente e guardando muito frescor. Não penso o mesmo do tradicional frango tandoori. Excessivamente oleoso, ficou devendo também um sabor mais entranhado na carne.

Fico entre o Cordeiro dos Deuses – super bem preparado em um molho curry suficientemente cremoso e denso, com as especiarias bem pronunciadas – e o moule de camarões – um ensopadinho do crustáceo que fez as delícias de Caetano Veloso, após o show recente em Brasília.

Termino a refeição sempre com a vontade de provar o gulab jamun que conheci no Solar da Serra, mas não tive a sorte de encontrá-lo. O doce de manga com especiarias não fica atrás. Uma delícia. Mas não saia de lá sem provar o suco de Nicole, uma mistura de limão, abacate e manjericão. Representa toda uma noção de equilíbrio da dieta ayurveda. Se não consigo percebê-lo no corpo imediatamente, certamente sinto um frescor único no paladar e na alma.

É coisa de três ou quatro anos para cá que começaram a abrir restaurantes de comida indiana em Brasília. Conheço todos e confesso ter dificuldade em elencá-los em um ranking minimamente, pois eles compartilham de um mesmo problema: a inconsistência no serviço e na cozinha.

O Indian House ainda praticava uma cozinha que se podia chamar de mais autêntica, mas acredito que o melhor juízo neste caso não é apenas técnico, mas afetivo. Neste último quesito, o Piauíndia entrega um banquete do tamanho do coração de sua proprietária.

Piauíndia Restaurante Fusion Indiano
No Acampamento DFL, Rua 5, casa 2A, Vila Planalto. Tel: (61) 3574-4234. De terça a sexta, das 12h às 15h. Sábado até 16h. domingo até 17h. Ambiente interno e externo. Desde 2011

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