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Em busca da vagina perfeita: skincare para a região vira tendência

De iluminador a máscaras. Cuidar da pele da vulva é novo patamar de autocuidado. Especialistas advertem: nem tudo são flores

atualizado

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1 de 1 timothy-meinberg-aXSHlhxuIDw-unsplash - Foto: Unplash

Lavar com sabonete específico, esfoliar, aplicar uma máscara, hidratar e finalizar com um iluminador. Até aí, uma rotina de skincare normal. Isso se, em vez da pele do rosto, não estivéssemos tratando da vagina. Ou, sendo mais precisa, da vulva.

Acredite ou não, itens de skincare vaginal são tendência no exterior. A revolução tem sido chamada de v-care. O autocuidado com a região é defendido por diversas marcas, que ampliam a oferta de mercadorias na mesma medida que tentam “derrubar tabus”.

Parte dessa revolução íntima vem na esteira do sucesso de movimentos de incentivo ao empoderamento feminino, que passam a ter mais consciência de seus corpos. Olhar, cuidar e entender a própria vulva é tomar para si um lugar que vai além de dar prazer a alguém, justificam.

Os lançamentos recentes englobam pomadas, óleos e loções com finalidade puramente estética ou de bem-estar.

Uma pesquisa no Reino Unido comprovou que 50% das mulheres britânicas não sabiam dizer, por exemplo, quais eram os grandes e os pequenos lábios. Os fabricantes dessas mercadorias asseguram que a ideia é dar mais autonomia a quem usa.

Algo no sentido “minha vagina, minhas regras”, muito além de querer um órgão sexual atraente para o parceiro (ou parceira). É para quebrar paradigmas, defendem.

E dinheiro não falta. Segundo um estudo recente da WGSN Beauty, a indústria de cuidados pélvicos deve movimentar US$ 26 bilhões até 2026. “A vagina está no foco”, cravou Emma Grace Bailey, do bureau de tendências, à Vogue australiana.

Alertas

Especialistas, entretanto, são céticos em relação a essas medidas. Por ser extremamente sensível, não é aconselhável usar na vagina produtos com álcool, parabenos, fragrâncias, ou os que alterem o pH biológico.

“Esses produtos interferem na microbiota vaginal, prejudicam até a chegada do espermatozoide no colo do útero, um risco para quem quer engravidar”, alerta a ginecologista Bruna Pitaluga. “O uso de óleos, cremes e perfumes alteram essa informação natural”, reitera a especialista, que é contra o tal “skincake da vulva”.

Segundo Bruna Pitaluga, o uso de produtos químicos pode favorecer o crescimento de doenças típicas da vagina. “Vejo um marketing violentíssimo, e nenhuma comprovação científica”, critica. Segundo ela, a flora vaginal se caracteriza por uma dominação de lactobacilos, fundamentais às mulheres em idade fértil.

Para ela, a vagina é preparada para se defender, sem que haja a necessidade de recorrer até mesmo aos conhecidos sabonetes íntimos. “Muitos conseguem selo de aprovação, mas apresentam um pH de 7, quando o normal da região é 4”, complementa. A profissional ensina: a vagina deve ser lavada como fazemos com as axilas, e tratadas com normalidade – nem para mais ou menos. Um sabonete convencional dá conta do recado. “O maior empoderamento é você aceitar quem é. Querer mudar o cheiro da vagina, por exemplo, é bizarro. Ela tem cheiro, e isso está associado à saúde.”

O tubo vaginal é uma mucosa. Já a pele da vulva se assemelha a de qualquer outra do corpo. Como tal, pode escurecer, envelhecer e ficar flácida. É preciso cautela com os tratamentos que tentam reverter isso. “Temos de usar produtos pensando como se fosse a mucosa da boca e, na boca, não usamos os mesmos cremes que na pele. São diferenciados, próprios, para não mudar esse pH”, defende o dermatologista Erasmo Tokarski. O melhor é manipular, caso o médico ache necessário.

Para ele, a maior parte dos itens de v-care é pura mise-en-scene. “Não existem estudos que mostrem a eficiência”, conta.

Apesar de a ciência não estar ao lado da indústria, todos os dias, consumidoras são “bombardeadas” com novidades. Confira algumas opções disponíveis no mercado:

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