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Comida engajada: jornalista faz críticas à política em canal de culinária

Raphael Prado já trabalhou em programas da TV Globo e hoje cria conteúdos em que fala de política enquanto cozinha

atualizado

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1 de 1 youtuber 1 - Foto: Divulgação

À primeira vista, não é possível ver nenhuma relação entre política e culinária, certo? Não para o jornalista Raphael Prado. Neste ano, ele criou um canal no YouTube para juntar as duas coisas. Enquanto cozinha pratos com nomes baseados em acontecimentos da política nacional, como “Quibe do Pronunciamento” e “Cuscuz de Uva Passa Boiada”, faz comentários ácidos sobre algum fato que ganhou destaque na mídia. “Desde a hora que eu acordo, já começo a me inteirar dos absurdos que a gente tem passado. Esse governo sempre me dá munição pra fazer comentários sarcásticos. Por exemplo, se não fosse tão difícil de fazer, uma sobremesa ideal para o momento seria Mil Folhas, afinal, até agora, a gente está sem saber por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro”, contou Prado sobre a criação dos vídeos.

A ideia para o conteúdo do canal, que leva o nome do jornalista, surgiu após o crescimento de movimentos recentes pedindo a volta da ditadura, AI-5 (Ato Institucional nº 5, considerado o mais duro de todos os decretos da ditadura militar) e fechamento do Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. “Lembrei que, quando a ditadura entrou nesse momento mais duro, pós-1968, depois do AI-5, os jornais publicavam receitas de bolo nos espaços que tinham notícias vetadas pela censura. E fiquei me perguntando: como seria a produção de conteúdo dessa galera que, hoje, é conhecida como ‘influenciador’?”, relembra Rapha. Na mesma época, os conteúdos da atriz Maria Bopp interpretando uma blogueira que falava sobre política enquanto fazia tutoriais de maquiagem inspiraram o jornalista a unir duas coisas aparentemente distintas.

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O canal de Rapha Prado tem cerca de 8,88 mil inscritos e todos os vídeos acumulam mais de 156 mil visualizações. Assim, pode aparecer quem curte e quem desaprova as críticas ao governo. “Raramente aparece alguém xingando. Nesse aspecto, eu preciso agradecer os algoritmos das redes sociais, porque acho que elas só compartilham entre pessoas que têm uma visão política parecida com aquilo que eu comento. É claro que aparece um ou outro, mas ganham como resposta o meu silêncio. Não posso gastar minha sanidade mental, que é um item raro pra todo mundo nesse momento, pra me preocupar com esse sujeito. Eu não consigo responder nem as centenas de pessoas que me elogiam… vou perder tempo com quem destila ódio?”, diz.

A audiência do jornalista também é composta pela própria classe política. “Já fui repostado por gente de vários espectros. Quando o Sérgio Moro caiu do Ministério da Justiça, acusando o presidente Bolsonaro de querer interferir na Superintendência da Polícia Federal do Rio, que estaria investigando seus filhos, eu fiz uma receita de ‘Pede, Moleque! (que o papai troca)’. Ele (vídeo) foi repostado pela ex-candidata a vice-presidente Manuela D’Ávila (PCdoB), a deputada federal Joice Hasselman (PSL), o senador Humberto Costa (PT), além dos deputados federais Alexandre Frota (PSDB), Ivan Valente (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB). Até brinquei que eu uni o Brasil”, lembrou Prado.

Rapha faz todas as receitas (e também produz todos os vídeos) sozinho, mas se define como amador na cozinha. Aprendeu a cozinhar quando mais velho e após a insistência do pai. “É importante deixar claro que eu sou cozinheiro amador. Meus vídeos usam a gastronomia pra aquilo que eu sei fazer, que é comunicação”, destacou.

A experiência do jornalista com o audiovisual começou bem antes do crescimento das mídias sociais. Trabalhou por quase 10 anos na TV Globo, onde o primeiro contato com o vídeo foi no Profissão Repórter. “Entrei no programa para cuidar do site, um convite do Eduardo Acquarone, então responsável pelos sites de jornalismo na TV Globo. E, uma vez lá, fui convidado pelo Caco Barcellos para fazer um teste no vídeo. Foi uma grande escola porque, nesse programa, o jornalista tem a oportunidade de fazer todo o processo da reportagem: produção, gravação, roteirização, edição etc. Quem aproveita todas essas etapas sai de lá preparado para qualquer coisa”, contou.

Após o Profissão Repórter, Prado se tornou editor do Fantástico e, em seguida, migrou para o entretenimento, onde trabalhou como redator do Caldeirão do Huck e Domingão do Faustão. Para o jornalista, esta área da comunicação oferece a possibilidade de sonhar e transformar vidas. “Sobretudo no Caldeirão, isso é muito perceptível. Ele me deu a possibilidade de conhecer 19 estados do Brasil, viajar de norte a sul conhecendo diferentes realidades, sotaques, pessoas. Eu fui um dos redatores que ajudou a desenvolver o “Um Por Todos, Todos Por Um”, por exemplo, que reforma ONGs.

Ver pessoas que estão transformando a realidade local de suas comunidades através da solidariedade, sem pedir nada em troca, sempre é um balde de água fria pra quem reclama da vida tendo tudo. Eu adoraria, por exemplo, que políticos tivessem essa mesma oportunidade, mas que fossem a esses lugares com a mente e o coração abertos para entender nosso povo. Quem sabe não estaríamos também numa situação melhor”, refletiu o jornalista.

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