metropoles.com

“Justiça deveria ser mais dura”, diz viúvo sobre pena de médico por morte no DF

O analista de sistemas Valdery Brito, 38 anos, perdeu a mulher, Jaqueline Ferreira de Almeida, em 2016. Ela morreu após uma endoscopia

atualizado

Compartilhar notícia

Facebook/Reprodução
Jaqueline4
1 de 1 Jaqueline4 - Foto: Facebook/Reprodução

Viúvo de Jaqueline Ferreira de Almeida (foto em destaque), que morreu em 2016 após ter sido submetida a um exame de endoscopia em clínica no Sudoeste, o analista de sistemas Valdery Brito, 38 anos, comentou a pena aplicada ao médico responsável pelo procedimento, Lucas Seixas Doca Júnior: “Acho que a Justiça deveria ter sido mais dura”.

A 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) manteve, por maioria, a condenação de Seixas. Os desembargadores, contudo, reduziram a pena de 1 ano e 4 meses de prisão para 1 ano, em regime aberto, e substituíram a pena privativa de liberdade por pena alternativa. O médico, portanto, não deve ser preso. A indenização foi fixada em pelo menos R$ 250 mil, mas o valor discutido no processo cível é maior.

O julgamento em 2ª instância ocorreu no dia 3 de dezembro de 2020. Dois desembargadores votaram a favor da manutenção da condenação e um foi contra. A defesa disse que vai recorrer da decisão.

Em entrevista à coluna Grande Angular, Brito comentou a dificuldade para reparar a morte de uma pessoa. “A gente não consegue mensurar o valor de uma vida. O que eu queria? Se ele pudesse voltar atrás e fizesse com que isso não tivesse acontecido, seria a melhor solução. Mas não é possível. Acho que ele deveria pagar. É leve a pena? Eu acho que é leve”, afirmou.

O médico é hoje o superintendente do Hospital de Base, unidade pública de saúde referência na capital federal. O viúvo da paciente, contudo, não critica especificamente a posição atual de Seixas como gestor: “Não posso julgá-lo de forma geral, mas na minha família ele errou. Ele pode ter 99% de acerto, mas, no meu caso, ele cometeu um erro”.

Advogado da família de Jaqueline e assistente de acusação, Renato Borges Rezende analisou que a pena baixa e a indenização pequena é uma falha do sistema penal, e não especificamente do TJDFT. “A condenação, em si, é boa. Mas as leis que temos hoje levam o Judiciário a fixar uma pena pequena em um caso com resultado tão grave, que é a morte. Pelo menos o mais difícil foi alcançado: demonstrar a culpa”, disse.

Endoscopia

Jaqueline morreu em outubro de 2016, com 32 anos, após ter se dirigido a uma clínica especializada em aparelho digestivo no Sudoeste e ingerido um gás chamado plasma de argônio, substância utilizada por unidades de saúde para o procedimento. Ela não conseguiu expelir o material, situação que a levou a uma parada cardiorrespiratória. A mulher deixou o marido e uma filha, que hoje tem 5 anos.

A denúncia de homicídio culposo foi oferecida à Justiça pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-vida) apontou que Seixas foi o responsável pela morte de Jaqueline, ao infringir proibição do Conselho Federal de Medicina (CFM) e cometer falha na assistência médica.

O acórdão da 2ª Turma Criminal diz que a evolução do quadro clínico da vítima “tem estreita ligação com o acúmulo de gases decorrente da realização do procedimento realizado pelo réu em sua clínica”. Na avaliação dos desembargadores, a demora de oito horas para levar a paciente a um hospital “teve importante contribuição para o resultado”, que foi a morte de Jaqueline.

O outro lado

Advogado de Seixas, Cleber Lopes disse à coluna que vai recorrer da decisão. “Temos um voto absolutório que autoriza um recurso chamado embargos infringentes. A Câmara Criminal vai examinar o acórdão e pode entender que o voto vencido pode prevalecer”, pontuou.

“Os votos majoritários consideraram, para condenar o Lucas, a existência de um parecer do Conselho Federal de Medicina que é posterior ao procedimento por ele adotado. O procedimento foi feito da maneira correta, adequada e a paciente sofreu intercorrência decorrente de uma cirurgia anterior”, pontuou Lopes.

Sobre a demora para levá-la a um hospital, o advogado disse: “A UTI do plano de saúde foi chamada no momento certo e a ambulância atrasou. O marido não aceitou que ela fosse removida pelo Samu, porque o Samu leva ao hospital público”.

Lopes ainda assinalou que Seixas é servidor concursado da Secretaria de Saúde: “E por sua competência, sem nenhuma indicação política, hoje ele é o coordenador-geral do Iges no Hospital de Base. Está fazendo um belíssimo trabalho cuidando das vítimas da Covid-19”.

O viúvo de Jaqueline, contudo, refuta a alegação de que não quis chamar o Samu. “Quem tem que decidir é a clínica, não é a vítima. Isso é algo que me revolta muito”, disse. O advogado da família também comentou a declaração da defesa do médico: “A decisão de chamar a ambulância deveria ser do Lucas Seixas, que não a tomou porque ele não estava na clínica. O Valdery não tinha conhecimento técnico para intervir”.

 

0

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?