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Autismo e vacinação: primeira fake news de saúde causa danos até hoje

“Vacinar contra H1N1 pode causar o autismo!” Mensagem viral induz comportamentos equivocados e promove danos a todos nós

atualizado

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IStock
Child sitting on a floor
1 de 1 Child sitting on a floor - Foto: IStock

Você deve ter recebido em suas redes sociais a seguinte notícia: “Vacinar contra H1N1 pode causar o autismo!” Se essa informação fosse verdadeira, imaginem que escândalo seria. Mais do que isso: a irresponsabilidade do poder público seria um crime absurdo. Evidentemente, quando notícias como essa viralizam, oferecem um perigo imenso para a sociedade.

Essa notícia é mais uma fake news de sucesso. Ela cumpre o que promete: oferece à população informações falsas, induz comportamentos equivocados e promove danos a todos nós.

Neste caso, induz pais esclarecidos a não vacinarem seus filhos, possibilitando epidemias de doenças já erradicadas. Sim: quando um pai acredita numa dessas teses malucas e não vacina seu filho, ele não está colocando em risco apenas seu pequeno. Todas as crianças que convivem com a criança sem proteção também correm riscos.

A BBC publicou reportagem recente na qual revelou que na Europa uma epidemia de sarampo resultante da queda da imunização teve ao menos 500 infectados no primeiro trimestre deste ano e deixou as autoridades em alerta. Vejam que coisa: uma doença antiga, já controlada nos países mais desenvolvidos, virou uma epidemia por que alguns pais não vacinaram seus filhos. Em resposta, países como Itália e Alemanha passaram a discutir punições para quem deixe de vacinar seus filhos.

As fake news na área de saúde são muito mais antigas do que imaginamos. A mentira que relaciona autismo e vacinação teve origem em uma publicação do médico Andrew Wakefield (que, inclusive, perdeu seu registro em função desse episódio). Ele defendeu a tese de que a combinação das vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola poderia resultar no desenvolvimento do autismo. Escreveu isso em artigo de 1998, publicado na revista científica The Lancet. Doze anos depois, a mesma revista desmentiu a publicação.

O então médico perdeu seu registro profissional após investigações apontarem que não só esse, mas outros estudos assinados por ele foram realizados de forma fraudulenta.

O Ministério da Saúde, atento à importância de esclarecer fake news sobre o tema, criou o canal Saúde Sem Fake News, em agosto de 2018 – um canal exclusivo com a população. Disponibilizou um número de WhatsApp, um espaço para receber informações virais, que serão apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente se são verdade ou mentira. O número do serviço pelo ministério é 61-99289-4640.

Todas as fake news desmentidas pela pasta estão disponíveis aqui.

Até hoje, o ministério já recebeu 4.135 mensagens, tendo apurado 938 fake news. Os três principais temas abordados são vacinas, alimentação (dietas milagrosas ou curas de doenças por meio de algum alimento específico) e medicamentos (medicamentos milagrosos etc)

Mais importante do que desconfiar se essa informação é fake news ou não é ensinar nossos filhos a conferirem a credibilidade da informação. Somente assim estaremos educando nossas crianças para ouvir uma notícia com acuidade investigativa para que eles possam verificar a veracidade ou não do boato.

Como fazer isso? É preciso ensinar como checar essas informações. Informar quais são os sites confiáveis, ensinar a pesquisar, apresentar sites criados exclusivamente ao combate de fake news, como o Boatos.org.

Mas, acima de tudo, ensinar que tudo isso pode ser feito com uma comunicação amorosa. Que você não está duvidando da pessoa, apenas verificando a procedência da notícia em função da relevância que ela apresenta para todos nós.

Muitas pessoas, ao compartilharem fake news, se sentem ofendidas quando em resposta recebem o esclarecimento do boato. Acima de tudo, ensine nossos filhos a contradizer algo com carinho e amor.

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