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Semana em Fakes: intervalo da vacina deve ser levado em conta

Fake news que apontam que a vacina não funciona, mas se “esquecem” de considerar o período entre vacinação e imunização

atualizado

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Foto: Aline Massuca/Metrópoles
Campanha de vacinação na quadra do Cacique de Ramos
1 de 1 Campanha de vacinação na quadra do Cacique de Ramos - Foto: Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Infelizmente, nunca se fez tão necessário ao jornalismo reforçar “obviedades”. Quando falamos do fact-checking, essa necessidade se eleva à décima potência. A prova disso está na nova empreitada dos antivacinas. Dessa vez, histórias de pessoas que foram vacinadas e morreram por Covid-19 estão sendo utilizadas como argumento para a tese (falsa) de que a “vacina não funciona”.

Na última semana, mensagens apontaram que a morte de Agnaldo Timóteo e o aumento de óbitos no Chile e em Serrana (SP). Em todos os casos, as mensagens, áudios e vídeos que estão circulando em redes sociais não levam em conta o intervalo entre vacinação e imunização. Aí cabe uma explicação.

A pessoa não fica imunizada contra a Covid-19 (ou qualquer doença) assim que é vacinada. Como a vacina serve, na realidade, para criar uma memória imunológica contra um agente infeccioso (como o Sars-CoV-2), é preciso um intervalo de imunização. No caso da vacina contra a Covid-19, esse intervalo, de acordo com especialistas, só é atingido 15 dias após a aplicação. Tem mais: todos os imunizantes aprovados no Brasil (com exceção do da Janssen), são aplicados em duas doses.

No caso da Coronavac, o intervalo entre doses é de 14 a 28 dias. No caso da vacina Oxford, o intervalo adotado no Brasil é de cerca de três meses. No caso da vacina da Pfizer, o intervalo é de cerca de 21 dias. Levando em conta esses dados, a pessoa só estaria imunizada depois 29 a 43 dias após tomar a primeira dose da Coronavac, cerca de três meses e meio após tomar a primeira dose da vacina de Oxford, cerca de 36 dias após tomar a vacina da Pfizer e 15 dias após tomar a vacina da Janssen.

É fato que Agnaldo Timóteo havia tomado duas doses da vacina Coronavac. Porém, ele precisou ser internado com sintomas da Covid-19 dois dias após tomar a segunda dose. Ou seja: o mais provável é que ele já estivesse infectado antes mesmo de tomar a segunda dose do imunizante.

Em relação ao Chile (que apresentou um aumento nos casos e mortes por Covid-19 que forçaram um novo lockdown nacional), a questão é a mesma. O país acabou relaxando medidas de isolamento antes da imunização completa das pessoas que tomaram a vacina. Isso resultou em uma explosão de casos.

Quanto a Serrana, cidade que está ser cenário de um estudo em imunização em massa, o aumento de óbitos em março não reflete a falta de eficácia dos imunizantes. Os habitantes começaram a serem vacinados com a segunda dose após o dia 18 de março. Ou seja: até o último dia do mês, não haviam participantes do estudo completamente imunizados contra a Covid-19.

Vale lembrar que esse tipo de boato não circulou somente na última semana. Relatos que (entre outros problemas de informação) não levavam em conta esse fator circularam falando em mortes nos Estados Unidos, Brasil (geral e em um asilo) e Espanha.

Então, fica a dica. Se você vir uma mensagem sobre a morte de uma pessoa que já se vacinou contra a Covid-19, leve em conta se ela já está de fato imunizada. Casos de morte por Covid-19 em quem contraiu a doença 15 dias depois de tomar as duas doses até podem ocorrer, mas são (de acordo com estudos e com o que estamos presenciando) raríssimos. De qualquer forma, a receita é sempre a mesma: mesmo vacinado, continue se cuidando.

Trends da semana

As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos sete dias foram, em ordem decrescente, Ivermectina, Chapecó, Amazon, Ricardo Gomes de Lemos, Instagram, WhatsApp, Whatsapp, Novartis, Unimed e Merenda em casa.

Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos 7 dias foram, em ordem decrescente, sobre o golpe no WhatsApp que falava do programa Merenda em Casa, sobre um vídeo falsamente atribuído aos filhos de Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo, sobre um golpe falando em nome do Instagram, sobre Chapecó ter esvaziado UTIs com o tratamento precoce e sobre a bandeira da China ser sido hasteada ilegalmente no interior de São Paulo.

No Twitter, a matéria com maior engajamento foi a sobre o vídeo o milagre do tratamento precoce nas UTIs de Chapecó. O mesmo texto foi conteúdo mais compartilhado da semana do Facebook. No Instagram, o conteúdo de maior engajamento era o que desmentia que Paulo Gustavo havia morrido por Covid-19. A matéria foi a mais vista no Telegram foi a que desmentia que a Fiocruz estaria sabotando Bolsonaro. No YouTube, o conteúdo mais visto da semana foi o que desmentia o vídeo atribuído aos filhos dos três tenores.

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas

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