metropoles.com

Redes bolsonaristas criam versão de que infiltrados vandalizaram o DF

Influenciadores e parlamentares bolsonaristas estão afirmando, sem provas, que radicais de esquerda seriam os responsáveis pelo caos

atualizado

Compartilhar notícia

Felipe Torres/Metrópoles
GSI
1 de 1 GSI - Foto: Felipe Torres/Metrópoles

A invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília, por radicais bolsonaristas inicialmente levou euforia às redes de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda no domingo (8/1). À medida em que as imagens de depredação do patrimônio público foram vindo à tona e causando repúdio no Brasil e no mundo, porém, influenciadores e parlamentares bolsonaristas passaram a adotar a tática de culpar supostos infiltrados de esquerda pela destruição.

A mesma tática foi usada pelas redes bolsonaristas no rastro da repercussão da destruição em Brasília, no último dia 12 de dezembro, e remonta à estratégia usada por extremistas dos Estados Unidos para tentar tirar a responsabilidade de radicais apoiadores do ex-presidente Donald Trump que invadiram o Capitólio do país há dois anos e também tocaram o terror.

Por lá, após longa investigação, pelo menos 900 pessoas acabaram presas, outras 350 ainda são procuradas e ao menos 192 foram condenadas à prisão — todos eram trumpistas radicais.

Por aqui, a versão que grande parte dos bolsonaristas tenta passar é a de que radicais de esquerda teriam se infiltrado e tornado violenta uma manifestação pacífica.

Os indícios apontados em postagens nos grupos bolsonaristas no WhatsApp e no Telegram, além das redes sociais, são frágeis: a imagem de alguém com o rosto coberto, por exemplo, é usada como “prova”, diante do argumento de que manifestantes de direita não usam essa estratégia.

Veja exemplos do que está circulando em grupos bolsonaristas monitorados pela reportagem:

0
Participação de parlamentares bolsonaristas

Além dos grupos em aplicativos de troca de mensagens, redes sociais, como Facebook e Twitter, estão servindo para propagar a versão sobre os supostos infiltrados. E o esforço conta com a adesão de parlamentares bolsonaristas reeleitos.

O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) postou vídeo no Twitter de um influencer bolsonarista denunciando o que seriam infiltrados do MST — sem nenhuma prova — e questionou: “Alô, Alexandre de Moraes! Esses petistas infiltrados que promoveram o caos e vandalismo ontem serão responsabilizados? Lula, quer fazer intervenção federal para conter seus vassalos?”.

O deputado federal José Medeiros (PL-MT), ex-vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, postou, nesta segunda-feira (9/1), que “essa invasão aos Poderes não resiste a uma simples investigação, para descobrir quem está por trás, mas a imprensa e muito menos ao XERIFE [refere-se ao ministro Alexandre de Moraes] o resultado não interessa”.

Antes, em outra postagem, ainda no domingo, Medeiros havia relativizado a violência, que chamou de “revolta do povo”: “A reflexão que faço é quando os responsáveis pela revolta do povo farão um exame de consciência. Não pensem que prisões, bombas, narrativas vão pacificar o país. O que pacificará o Brasil será transparência sobre essas eleições”, escreveu.

Veja exemplos do que está circulando nas redes bolsonaristas:
0

Convocações feitas por influencers bolsonaristas

A versão sobre esses supostos infiltrados ignora que dezenas de participantes nos atos golpistas em Brasília estão sendo identificados como militantes bolsonaristas de longa data e que personalidades conhecidas do campo da extrema-direita passaram os dias anteriores ao ato estimulando o caos.

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, por exemplo, afirmou, em 27 de dezembro, em vídeo publicado em sua conta no Instagram, que o Brasil “precisa mergulhar no caos para se livrar dele”. Veja:

Os extremistas Oswaldo Eustáquio e Bismark Fugazza, que têm mandados de prisão em aberto desde o ataque a Brasília, em 12 de dezembro, e estão foragidos, usaram o mesmo tipo de retórica em postagens nos últimos dias. Bismark sugeriu uma revolta aos moldes do Sri Lanka, em julho do ano passado, quando manifestantes invadiram sedes do governo e a residência presidencial e obrigaram o ex-presidente do país a fugir e renunciar.

Eustáquio afirmou, também em vídeo nas redes sociais na última semana: “Se tomarmos o Congresso Nacional, nós certamente teremos a vitória”. Veja denúncia feita nas redes sociais pelo jornalista Eduardo Matysiak:

Compartilhar notícia