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Reação a vandalismo fortalece Lula, mas pressão aumenta sobre Dino e Múcio

Especialistas avaliam que presidente Lula, apesar do apoio recebido, tem difícil desafio de pacificar país e ministros chamuscados

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Luiz Nova/Especial Metrópoles
O ministro Flávio Dino conversa com a imprensa em Brasília - metrópoles
1 de 1 O ministro Flávio Dino conversa com a imprensa em Brasília - metrópoles - Foto: Luiz Nova/Especial Metrópoles

A tentativa de insurreição promovida por bolsonaristas radicais que depredaram as sedes dos Três Poderes no último domingo (8/1) provocou reação mundial de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Recém-empossado, o petista também conseguiu unir autoridades e lideranças de todo o país em torno da defesa da democracia e, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, está saindo fortalecido do episódio, enquanto a oposição à direita está fragilizada e dividida.

Nem tudo, no entanto, são ganhos para o presidente, porque a resistência violenta a seu governo e o terrorismo de extrema direita se mostram ameaças maiores do que se previa inicialmente, avaliam os mesmos especialistas.

Esse cenário coloca sob intensa pressão os dois ministros de Lula diretamente responsáveis por lidar com ameaças violentas vindas de bolsonaristas que não aceitam o resultado da eleição: Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, e José Múcio, da Defesa.

Para o cientista político Francisco Fonseca, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), os apoios que Lula está recebendo o fortalecem politicamente, mas, em termos de governo, áreas centrais se mostraram fragilizadas: justamente a segurança e a defesa.

“O ministro Dino mostrou, em postagens e falas antes do ataque a Brasília, que tinha informações sobre o perigo em potencial, mas mesmo assim foi pego no contrapé”, afirma o especialista. “A disposição, ou falta dela, de Ibaneis [governador afastado do DF] não era novidade para o governo federal. Também já se sabia quem é Anderson Torres [ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do DF], bem como da posição política da polícia de Brasília. Mesmo assim se ficou só no discurso”, completou Fonseca, que faz críticas mais duras ao ministro da Defesa.

“Não dá para negar que seja um tema complexo, mas não se viu um esforço profundo do ministro Múcio para desmontar o acampamento de radicais em frente ao QG do Exército em Brasília, que já havia causado problemas. Pelo contrário, ele preferiu esperar que os atos se desfizessem por si próprios, o que não aconteceu. E, mesmo após os atos terroristas, houve o episódio do Exército fazendo barreira para impedir a PM já sob intervenção federal de desmontar o acampamento. Onde estava Múcio, que não determinando ao comandante do Exército que cumprisse a ordem que também já tinha vindo do Supremo Tribunal Federal?”, questionou o cientista político. “Enfim, ficam muitas dúvidas sobre se Múcio ainda tem condições de seguir ministro da Defesa”, completa o especialista.

A dúvida de Fonseca é partilhada pelo também cientista político André Cesar, da Hold Assessoria Legislativa. “Não me espantaria se o ministro Múcio pedisse para sair”, afirmou, em entrevista ao Metrópoles. “Os sinais que vêm das Forças Armadas ainda são muito dúbios, e o momento é de muita tensão no rastro dessa tentativa de tomada violenta do poder, que ainda não sabemos se está contida e resolvida ou se pode pipocar ainda, mesmo que com menos força, em Brasília ou outros pontos do país”, completa o especialista, que cita pesquisa feita nas redes sociais ainda no domingo (8/1), pelo Instituto Quaest, mostrando que chegou a 90% a reprovação dos atos terroristas contra o Estado Democrático de Direito.

“É um número grande, mas os 10% que restam e que vibraram com o quebra-quebra em Brasília, se projetados para o conjunto da população, representam uns 2 milhões de pessoas. Então, o que tivemos em Brasília foi um evento que deixa sequelas, e o governo Lula vai ter de trabalhar com elas”, frisa André Cesar.

Direita dividida

Os especialistas ouvidos pelo Metrópoles também concordam que o campo político da direita sai fragilizado e dividido do episódio do ataque terrorista a Brasília, numa crise com potencial de se agravar diante dos desdobramentos previstos para o futuro, como a abertura de uma ou mais CPIs no Congresso na abertura do ano legislativo, em fevereiro.

“A direita vai ter que se rearrumar, se reagrupar. E esse é um processo em que se perde poder”, avalia André Cesar. “Neste primeiro momento, há uma divisão entre os atores políticos que se opõem a Lula. A maioria dos que estão se manifestando está reclamando do vandalismo, criticando fortemente. Isso os coloca como uma espécie de direita mais moderada e não cooptada pelo poder do governo federal. Talvez, finalmente, uma terceira via se formando, que se opõe a Lula e ao bolsonarismo radical”, completa.

O professor Francisco Fonseca também vê uma divisão entre direita moderada, que, segundo ele, pode ter mais espaço no debate público, e direita radical, que deve ficar mais isolada politicamente.

Ele alerta, no entanto, que isso “não quer dizer que a direita vá se tornar sem influência” “Essa extrema direita que se mostrou capaz de praticar terrorismo é organizada e financiada. Tem dinheiro do agro, tem milhares de CACs que estão perdendo seus privilégios e estão indignados. São militantes violentos que só não vão se tornar um perigo permanente se o Estado for capaz realmente de responsabilizá-los pelo que aconteceu em Brasília. Senão, corremos o risco de seguir o caminho de um país conflagrado pela violência política, como a Colômbia”, afirma o cientista político.

 

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Dino defende Múcio

Enquanto o ministro da Defesa está recolhido desde os atos terroristas em Brasília, o titular da Justiça continua se manifestando bastante nas redes sociais e em entrevistas. Sobre as acusações de omissão das forças policiais do DF, Flávio Dino alega que o governo federal não tinha poder de agir mais energicamente antes que a intervenção federal fosse decretada, o que só aconteceu no fim da tarde de domingo, quando as sedes dos Três Poderes já haviam sido invadidas.

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Dino também defendeu o papel do colega de Esplanada na crise, além das próprias Forças Armadas. “O ministro José Múcio optou por um caminho de diálogo com as instituições militares, e ele não pode ser condenado por isso. O resultado depois pode levar a julgamentos precipitados, e eu prefiro acreditar que o ministro Múcio fez o máximo”, disse o ministro da Justiça, na segunda (9/1). “Eu quero aqui fazer uma veemente defesa da correção, da lealdade, da sinceridade do ministro Múcio ao comandar uma das áreas mais difíceis do governo. Difícil pelas circunstâncias e pela história brasileira”, completou Dino.

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