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Proliferação de festas de verão desafia sistema de saúde em cidades menores

Pandemia de coronavírus avança, mas promotores e frequentadores de eventos seguem exercendo pressão por retomada do setor

atualizado

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Espirro - coronavirus
1 de 1 Espirro - coronavirus - Foto: Pixabay

Apesar de passada a virada do ano, as festas deste período de verão e de férias seguem pressionando os gráficos que registram o avanço do contágio e as mortes pelo coronavírus. Com autorização ou clandestinas, elas se tornaram assunto constante nas redes sociais nas quais são divulgadas – e, em proporções semelhantes, denunciadas.

Essa retomada conturbada do setor de eventos coloca em campos opostos os cientistas, que temem o terreno livre para a contaminação, e os empresários, que alegam não aguentar mais prejuízos após quase um ano de restrições pesadas.

Chama a atenção que parte considerável das festas tem ocorrido em cidades turísticas interioranas, onde não costuma haver uma rede hospitalar complexa, preparada para atender, por exemplo, pacientes graves de Covid-19.

O Metrópoles conversou com o administrador de um perfil no Twitter dedicado a denunciar aglomerações festivas, o Brazil Covid Fest, que disse (sem se identificar, porque a divulgação tem lhe rendido ameaças) que o fenômeno é nacional e não há um perfil específico de festeiros que se enquadrem como típicos irresponsáveis, apesar de jovens serem maioria nos eventos. “Aglomeração existe na esquerda, na direita, no centro”, afirma ele, que tem recebido muitas denúncias de festanças promovidas por políticos.

O perfil divulgou, apenas nos primeiros dias de 2021, grandes festas em locais afastados das capitais, em praias como Pipa e São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, ou na Ilha de Javah, em Salinópolis, no Pará, cidade que já registrou 55 mortes pela doença. Além de comemorações da posse de prefeitos nas cidades maranhenses de Riachão e de São José dos Basílios e um megashow de forró em Campo Maior, no interior do Piauí – onde não há leitos de UTI para tratar Covid-19, e os casos graves, como o de um médico da cidade, precisam ser transferidos para Teresina.

Veja exemplos:

A pessoa responsável pelo perfil de denúncia diz acreditar que a ação tem o poder de constranger promotores e participantes desses eventos, e diz que vê mobilizações semelhantes em outras redes, como Instagram e Facebook. “Eu recebo denúncias em comentários e vou no perfil de participantes e artistas para confirmar se o vídeo é atual. Normalmente eles postam, divulgam. Mas quando a gente mostra e pega mal, muita gente apaga o perfil, deixa privado. Teve o caso de um médico que, depois de ser flagrado, foi muito cobrado – ele e o hospital. Então, tem um efeito, sim”, afirma.

Essas aglomerações também têm sido noticiadas por veículos de imprensa em todo o Brasil. As grandes festas de posse dos novos prefeitos foram registradas nesta semana. O Portal T5, parceiro do Metrópoles, mostrou na terça (5/1) uma festa, sem nenhuma medida de prevenção ao novo coronavírus, realizada por vereadores da cidade de Monteiro, interior da Paraíba, após eleição da mesa da Câmara local.

Com comida, música e danças, o local foi tomado por parlamentares, correligionários e apoiadores, que pareciam não se preocupar com a possibilidade de contaminação pelo vírus e a disseminação do mau exemplo. Imagens da festa se espalharam nas redes sociais, e o material viralizou.

Veja imagens desta e de outras festas já em 2021 pelo país:

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Os perigos

As festas podem acontecer em cidades paradisíacas do interior, mas atraem um público que vive nos grandes centros, onde o vírus circula mais. “Não há dúvidas de que teremos nos próximos dias e semanas um aumento de casos e mortes relacionados a essas aglomerações. Tanto na população que vive onde acontecem as festas quanto entre quem viaja, além dos familiares dessas pessoas”, avalia o epidemiologista José Cassio de Moraes, consultor da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

O especialista ouvido pela reportagem diz que não é completamente contra a reabertura no setor de turismo e lazer, mas avalia que seria importante focar em passeios ao ar livre e evitar festas. “Dá para manter distanciamento social em uma viagem de turismo, mas em uma aglomeração de festa é muito difícil. As pessoas ali bebem, estão sem máscara, falam alto, se abraçam, é um ambiente muito propício para a propagação do coronavírus”, explica o epidemiologista.

O outro lado

Nesta semana, o novo ministro do Turismo, Gilson Machado, escreveu em artigo que o setor “não aguenta mais lockdown”. Segundo ele, a temporada de verão 2020/2021 será decisiva para a recuperação do turismo. O texto foi publicado no jornal Folha de S.Paulo.

“É importante notar que, após meses de isolamento forçado, aprendemos a conviver com o coronavírus e a tomar todos os cuidados necessários para nos proteger do contágio”, escreveu o ministro, sem apresentar dados, e embora a curva de contágio não apresente uma tendência de queda. O Brasil registrou 1.248 mortes por coronavírus na terça-feira (5/1) – o maior número desde 25 de agosto.

“Não podemos deixar milhares de chefes de família em todo o país sem seu ganha-pão. Promover o retorno de nossas atividades com segurança, assegurar a proteção aos turistas e trabalhadores não devem ser vistos como antagônicos, mas como processos perfeitamente complementares”, escreveu ainda Gilson Machado.

Em comunicado divulgado também nesta semana, a Associação Brasileira de Produtores de Eventos (Abrape) rogou ao poder público que crie regras para que festas possam ser realizadas com alguma segurança sanitária e que coíba os eventos ilegais – que, para a entidade, mancham a reputação do setor.

“O setor de eventos é o mais sacrificado nesta pandemia do novo coronavírus: 97% das atividades estão completamente paralisadas e mais de 450 mil postos de trabalhos formais, entre diretos e indiretos, já foram exterminados”, argumentou Doreni Caramori Júnior, presidente da Abrape.

“As festas ilegais no fim de ano, como mostrado pela imprensa, revelaram que há uma demanda, que tende a se manter com as férias. O ideal é que haja uma regulamentação para que os locais que apresentem condições epidemiológicas permitam a realização de eventos legais, seguindo corretamente os protocolos: de outro modo, o Estado estará empurrando toda a demanda para a ilegalidade, como temos visto”, completou ele.

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