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Preso dos 300 diz que invadir Congresso não é antidemocrático: “É do povo”

Em entrevista exclusiva, bolsonarista Arthur Castro revelou preparação do grupo aos atos e o álibi no dia do protesto com fogos contra o STF

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Entrevista com Arthur Castro, integrante do grupo 300 preso em frente a PF.
1 de 1 Entrevista com Arthur Castro, integrante do grupo 300 preso em frente a PF. - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

No dia 14 de junho, quando o niteroiense Arthur Castro, de 38 anos, chegou em Brasília, ele selou o seu destino. Após almoçar em um restaurante – mesmo em plena pandemia –, conta, em entrevista exclusiva ao Metrópoles, que foi até a Esplanada dos Ministérios, onde iria encontrar sua “amiga-irmã” Sara Winter. Ambos fazem parte do grupo extremista autodenominado “300 do Brasil” e, naquela tarde, invadiram o Congresso Nacional.

Na sequência, um outro movimento simpático ao bolsonarismo lançou fogos contra o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF). Arthur é um dos cinco integrantes do grupo de presos pela Polícia Federal (PF) no inquérito contra atos antidemocráticos, que corre no Supremo.

Ele confirmou ter invadido o Congresso, mas negou – assim como Sara – ter disparado fogos contra o STF. Ainda assim, ele não vê a intimidação do Parlamento, ou do STF, como atos contrários à democracia, e se apega ao termo “casa do povo” para justificar as suas ações.

“A própria Câmara dos Deputados tem, nos boletins internos, falando que é a ‘casa do povo’. Quando leio uma matéria falando que invadimos o Congresso, invadimos o quê?”, ironizou. O termo “casa do povo” tem origem no fato de que parlamentares representam alguns dos principais setores da população brasileira, não que o prédio seja realmente uma “casa” aberta.

“Nenhuma manifestação nossa foi antidemocrática, afinal, o que é isso? Até hoje não sei o que é isso. Se alguém quiser fazer um protesto para chamar a intervenção militar, é antidemocrático?”, questionou. Segundo interpretação do STF – representante supremo da letra constitucional –, os militares não são o “poder moderador” da República.

Segundo a Constituição Federal de 1988, qualquer manifestação que pregue contra a democracia representativa é um ato, senão antidemocrático, inconstitucional. Ainda assim, Arthur e o seu grupo pensam e agem de forma distinta. E acreditam que manifestações de outros espectros ideológicos não sofrem as mesmas represálias que eles vêm enfrentando.

“Levantar bandeira pedindo para o STF parar de interferir no Executivo é antidemocrático?”, questionou. “O cara que jogou tinta vermelha no palácio do Planalto não foi preso. Se a gente faz uma coisa dessa, se a gente joga uma tinta vermelha em torno do STF, inventariam até pena de morte, mas não fizemos nada”, argumentou.

A informação de que o homem de 29 anos que jogou tinta vermelha no Palácio do Planalto no dia 8 de junho não teria sido preso, porém, é falsa. Ele não apenas foi preso, como responde pelo crime de dano ao patrimônio público.

Ku Klux Klan

Assim como o deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), Arthur Castro interpreta o movimento de grupos pró-governo que marcharam até o STF com tochas e indumentárias brancas como “religioso”. Ele nega que a inspiração estética do ato tenha sido no grupo racista Ku Klux Klan, que matou negros ao longo de décadas nos Estados Unidos. Arthur participou da encenação na Esplanada.

“Posso fazer manifestação religiosa na Praça dos Três Poderes? Eu busquei uma inspiração na Bíblia, em juízes, já que é sobre o STF”, disse, ao falar sobre o ato no qual os manifestantes se organizaram em fileira com tochas na mão e fizeram clamor aos juízes, o advogado Paul Karsten Farias. Karsten, que acompanhou a entrevista, trabalha na defesa de Sara Winter, e contou que a líder do grupo o procurou dias antes para pedir opinião jurídica sobre o protesto.

“Era no dia da Santa Joana D’arc, que é padroeira da Sara e morreu queimada na fogueira. Ela [Sara] resolveu clamar aos chefes do poder judiciário com um clamor religioso”, prosseguiu na explanação. “Se você comunicar ao Corpo de Bombeiro e a Polícia e eles derem o aval, você pode. Porque é uma manifestação pacífica com passagem na Bíblia”, defendeu.

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Arthur, entretanto, conta ter ficado preocupado com o aspecto visual do movimento, que poderia, em suas palavras, levar a uma interpretação “errada”. Pelo fato de haver “baianos” e “nordestinos” no grupo, porém, ele crê que essa ideia não teria sentido.

“Mais da metade eram baianos, negros e nordestinos. O nordeste abraça muito a causa porque estão passando um sufoco. De branco mesmo, só eu, a Sara, Giovanni e Felipe, que na verdade é pardo. Quando vi falando que era uma manifestação que remete à supremacia branca, achei que era piada”, disse.

Entre os políticos que, segundo Arthur, apoiavam o grupo estão Hélio Lopes (PSL-RJ); Carla Zambelli (PSL-SP); Daniel Silveira (PSL-RJ); Beatriz Kicis (PSL-DF); coronel Sandro (PSL-MG); Alê Silva (PSL-RJ); André Fernandes (ex-PSL, atualmente sem partido-CE); e Caio Bellote (PSL-RJ). Todos os citados pertencem ou já pertenceram ao ex-partido de Jair Bolsonaro, o PSL.

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