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PGR pede investigação sobre Marconi Perillo ao STJ

O governador do Goiás teria pedido R$ 50 milhões da Odebrecht para a campanha de reeleição em 2014, segundo delatores

atualizado

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Reprodução/Estadão
***marconi perillo
1 de 1 ***marconi perillo - Foto: Reprodução/Estadão

O vice-procurador-geral da República, José Bonifácio Andrada, pediu, na última sexta-feira (9/6) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a abertura de inquérito para investigar o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO). A solicitação é embasada pelas delações dos executivos da Odebrecht Fernando Cunha Reis, Alexandre Barradas, João Pacífico e Ricardo Roth Ferraz. O STJ tem mantido sigilo sobre os pedidos de inquérito com base em delações da construtora.

O tucano pediu, em almoço com executivos da Odebrecht, contribuição de R$ 50 milhões da empreiteira para a campanha de reeleição, em 2014, segundo delatores. Executivos da construtora relatam que, à mesa, Perillo teria ressaltado as obras da empresa no Estado que governa e afirmou que gostaria de uma contribuição “do tamanho da Odebrecht” na região, de R$ 50 milhões de reais.

A empreiteira acabou pagando caixa dois de R$ 8 milhões à campanha de Perillo, de acordo com os depoimentos. Em 2010, o tucano já havia recebido R$ 2 milhões de caixa dois à primeira campanha, ainda segundo os executivos.

Depoimentos
O ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis relata ter sido apresentado, em 2010, a Perillo, durante um jantar na casa do então senador Demóstenes Torres (DEM/GO) – antes do encontro, afirmam os delatores da Odebrecht, Demóstenes já havia acertado o financiamento de R$ 6 milhões operacionalizados via caixa dois para a campanha ao Senado, onde ele ocupou cadeira entre 2003 e 2012, quando foi cassado por quebra de decoro parlamentar.

Tanto Demóstenes quanto Perillo prometiam à empreiteira engajamento para projetos de privatização do saneamento do entorno goiano de Brasília. O executivo afirmou que, com a deflagração da Operação Monte Carlo – que investigava as relações de políticos com o contraventor Carlinhos Cachoeira e a Delta Engenharia -, os projetos prometidos à Odebrecht foram paralisados.

Para a campanha de 2014, mais uma vez, executivos da Odebrecht dizem ter sido procurados pelo governador tucano. A secretária do chefe do Executivo goiano teria ligado para a secretária de Marcelo Odebrecht para marcar um almoço, que acabou sendo agendado para março daquele ano, no escritório da construtora.

“A intenção do governador ao marcar o almoço foi justamente ressaltar a forte presença das empresas do Grupo no Estado de Goiás, reforçar seu apoio aos investimentos do Grupo e, consequentemente, requerer o que ele chamou de ‘uma contribuição de campanha equivalente a nossa presença’ e que no segundo mandato daria continuidade aos investimentos, gerando mais obras no setor de infraestrutura”, afirma Reis.

Quando Marcelo Odebrecht se ausentou da mesa, após o almoço, o executivo relata ter acompanhado Perillo até o elevador. Nesse momento, afirma Reis, o governador teria pedido a “contribuição de R$ 50 milhões”. “Eu disse para ele que essa contribuição é absolutamente… não existe nesse sentido”.

A empreiteira então teria se comprometido a doar R$ 8 milhões, via caixa dois, para a campanha do tucano à reeleição. O contato entre o governador e os empresários teria se dado entre Alexandre Barradas e João Pacífico, da Odebrecht, e o interlocutor do ex-governador Jayme Rincon. O departamento de propinas então operacionalizou os pagamentos para o governador, dessa vez sobre o codinome ‘Master’, afirmam os delatores.

Barradas, que manteve contato com Jayme Rincon, hoje presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (AGETOP), relata que o representante de Perillo “ainda reclamou que a empreiteira teria definido o repasse de R$ 8 milhões, e não o valor de R$ 50 milhões pedido pelo tucano”.

“Fui, sentei com o Jayme, comuniquei o valor. Ele respondeu: ‘poxa, eu pensava que era mais substancial…’. Respondi: ‘O que eu tenho de determinação e liberação é esse valor, que já é muito, cara'”.

Os diretores responsáveis pela execução dos pagamentos a Marconi Perillo apresentaram valores divergentes dos que foram informados pelo presidente da Odebrecht Ambiental. Ricardo Roth Ferraz e João Pacífico alegam ter encontrado, no sistema do departamento de propinas da Odebrecht, repasses de R$ 500 mil reais, em 2010, e de R$ 2,75 milhões em 2014.

Defesa
Em nota, o criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o governador, afirmou:

“A abertura de um inquérito baseado tão somente nas palavras de um delator nos causa perplexidade.
A palavra do delator, como bem disse o Supremo Tribunal Federal (STF), não faz prova alguma. Pelo menos antes da abertura do inquérito, o que já é um gravame para qualquer homem público ou cidadão, seria necessário ouvir a pessoa indicada e abrir uma sindicância anterior.

O governador Marconi Perillo não tem nenhuma preocupação com o que foi dito pelos delatores e espera o conhecimento pleno do que consta na delação poder se manifestar. Conforme já demonstrado pela defesa e pela imprensa, há uma série de incongruências e incoerências nos depoimentos dos ex-executivos da Odebrecht.

A defesa aguarda que o mais breve possível seja dado o acesso à plenitude dessas delações para se pronunciar.”

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