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Marcelo Ramos: “Bolsonaro não pode se dispersar com Olavo de Carvalho”

Ao Metrópoles, presidente da comissão especial da reforma da Previdência disse que não se pode sacrificar quem ganha salário mínimo

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Presidente comissão
1 de 1 Presidente comissão - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Em entrevista concedida ao Metrópoles nesta quinta-feira (09/05/2019), o presidente da comissão especial da reforma da Previdência na Câmara, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), chamou a atenção para a necessidade de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não “se dispersar” com temas que não sejam a reforma da Previdência. Segundo o deputado, a “centralidade” da proposta exige que Bolsonaro fale todos os dias sobre a reformulação das regras para a aposentadoria dos brasileiros e evite “ficar batendo boca sobre Olavo de Carvalho”, o conhecido guru do bolsonarismo.

“Nesse momento da vida do país, pela centralidade que o tema da reforma tem, até para que o governo dê certo – mais do que isso, para que o país dê certo –, o presidente não pode se dispersar. Não pode ficar batendo boca sobre Olavo de Carvalho. Ele tem que falar sobre Previdência todos os dias”, enfatizou o deputado, que tem conduzido na Câmara os trabalhos de análise do mérito da proposta enviada pelo Planalto.

Confira a íntegra da entrevista:

Ramos argumentou ainda que, diante das dificuldades econômicas enfrentadas atualmente pela população, não dá para pedir sacrifício de quem ganha um salário mínimo. Ele se considerou um “entusiasta” da reforma, mas alertou que a Câmara deve retirar da proposta professores, trabalhadores rurais, idosos e pessoas com deficiência que hoje têm direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).

“Eu defendo a reforma, mas não dá para pedir sacrifício de quem ganha um salário mínimo, para o trabalhador rural, para o pescador, idosos e deficientes”, destacou.

“Governo precisa falar a verdade”
O deputado considera que o governo precisa começar a explicar o principal motivo da reforma para a população. Ele questionou o discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) de que a proposta serve para combater privilégios.

“O governo precisa falar a verdade em vez de dizer que a reforma da Previdência é para combater privilégios. Não é verdade. A reforma é para fazer ajuste fiscal”, enfatizou. “Por que o governo tem medo de defender um discurso que tem que ser feito? Isso [ajuste fiscal] não é ruim”, pontuou.

O deputado já foi filiado ao PCdoB e ao PSB, legendas que hoje são totalmente contrárias à proposta do governo. Eleito pelo PR, ele assumiu a missão de presidir a comissão especial que analisa a reformulação da Previdência, prevendo muitos ajustes no texto elaborado pela equipe econômica.

“Eu sou um entusiasta da reforma. Mudou muita coisa. Entrei no PCdoB muito jovem e não tenho desapreço pelo meu passado. Essa militância guardou em mim um profundo sentimento humanista. Com o tempo, fui percebendo que o Estado não gera riqueza, ou seja, ideias não compatíveis com a esquerda”, observou.

O amazonense afirmou que a nossa geração “precisa fazer alguns sacrifícios” para evitar uma crise econômica no futuro. “Se pensarmos só na gente, vamos resolver a vida da nossa geração e jogar as próximas no caos absoluto. Teremos que fazer alguns sacrifícios para livrar as [gerações] do futuro. São os meus filhos. Eu quero fazer os sacrifícios necessários para que eles possam ter a esperança de um país próspero”, disse Ramos.

Para o deputado, é preciso entender a regra do BPC. “A reforma propõe que idosos e deficientes de baixa renda recebam R$ 400 até os 60 anos e, depois, um salário mínimo. Ninguém vive dignamente com esses valores”, argumentou Ramos.

Faltam votos
Ramos evitou falar sobre o tempo para se aprovar a proposta na Câmara, mas disse que o importante é o governo conseguir votos para aprovação do projeto, condição que, segundo ele, ainda não existe.

“O prazo de julho [para a matéria ser votada] foi de Maia [o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)]. Ao ser nomeado, eu recebi o prazo dele. Portanto, o meu desafio passou a ser concluir os trabalhos em junho, para ser votado em julho”, detalhou o parlamentar. “Acontece que tem uma parte desse tempo que não depende de mim. Tem 198 dizendo que são a favor, portanto não adianta. Não tem voto para votar no plenário. Hoje, ainda está muito longe disso. Tem que amadurecer. As pessoas vão se convencendo ou discordando. Os ajustes vão sendo feitos, para que seja constituída a maioria. No que depende de mim, estou fazendo”, explicou.

O deputado criticou o ministro da Economia, que chegou a dizer que os servidores públicos teriam feito parte da “roubalheira” do governo anterior. “Isso é uma covardia com os servidores. Temos uma grande maioria dedicada, que faz a máquina funcionar”, defendeu.

Outro fator que atrapalha a aprovação da reforma da Previdência, na opinião do deputado, é a carga de preconceitos do governo em relação à política. “O fundamento da eleição do presidente foi o preconceito. Ele não foi eleito por um programa de governo. Foi eleito pela negação do que existia. Isso é fácil, difícil é governar”, afirmou Marcelo Ramos. “Existem bandeiras hoje que não são nem da direita nem da esquerda. São civilizatórias. Trabalhar, comer, liberdade. Isso é de qualquer pessoa que tem o mínimo de humanidade. Esses valores têm de ser respeitados por qualquer plano de governo”, observou.

Sobre o salário dos políticos, o deputado disse que muito das críticas fica no campo demagógico. “Uma tranquilidade eu tenho: nenhum eleitor meu acha errado o quanto eu ganho. Presto todas as contas e devolvo tudo a eles”, enfatizou.

Coaf
Para ele, as mudanças feitas na medida provisória que reestrutura os órgãos do Executivo não significaram derrota para o governo, mas indicou que a atual administração federal ainda não construiu sua base de apoio no Congresso Nacional. A comissão especial mista que analisou a proposta aprovou a volta do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Economia e tirou do Ministério da Agricultura a função de demarcar terras indígenas e quilombolas.

“O governo nunca teve força no Parlamento. Ele tem votos do PSL, com uma série de nuances, porque a bancada é muito sensível. E o Novo, que tem uma relação com a pauta ideológica liberal. Tirando isso, o governo não tem mais nada”, avaliou.

Ao falar sobre as insinuações da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP) – que disse ter notado um “temor excessivo”, entre os parlamentares, de o Coaf ficar com o ministro Sergio Moro –, Ramos devolveu o questionamento.

“Eu devolvo a declaração. Quem diz isso é porque tem um temor excessivo que o Coaf continue na Economia, onde ele está em qualquer lugar do mundo. Polícia pode até beber na fonte de dados do Coaf, mas Coaf não é polícia”, afirmou Marcelo Ramos. “O ministro [da Economia, Paulo] Guedes é hoje o principal porta-voz da República depois do presidente. Aí estão desconfiando dele? Espera aí, ele não é digno do governo? Tem alguma coisa estranha aí”, concluiu o parlamentar.

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