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Manifestação pró-Bolsonaro tem faixa “Deus, perdoe os torturadores”

Manifestação ocorreu no sábado (1º/5), na Cidade de Goiás. Dupla usava roupas brancas de farricocos, semelhantes às do grupo Ku Klux Klan

atualizado

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Dois manifestantes estenderam uma faixa com os dizeres “Deus, perdoe os torturadores”, durante manifestação, no sábado (1º/5), em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na Cidade de Goiás (GO).

Contatada pelo Metrópoles, a prefeitura do munícipio confirmou a realização do ato.

A dupla estava vestida com trajes brancos de farricocos, que são usados na Procissão do Fogaréu, tradicional evento da religião católica na cidade. As vestes são semelhantes às do grupo racista de extrema-direita Ku Klux Klan.

Abaixo da faixa que pede que Deus perdoe os torturadores, há uma placa que diz: “Direita com Bolsonaro”.

A manifestação ocorreu na praça Largo do Rosário, em frente ao convento dominicano – congregação fundada por São Domingos de Gusmão, há oito séculos, e que, no Brasil, teve religiosos perseguidos pela ditadura militar.

Em nota, a Prefeitura Municipal de Goiás informou ter sido surpreendida com as manifestações realizadas no dia 1º de maio, em defesa de torturadores e da ditadura militar.

“A utilização de um símbolo da tradição religiosa e cultural da Cidade de Goiás, o farricoco da procissão do Fogaréu, para fazer apologia a tortura e a ditadura militar, é não somente uma afronta à sociedade vilaboense e à fé de nosso povo, mas configura crime, previsto no art. 287 do Código Penal”, assinalou.

“Celebrar a tortura, em frente ao Convento Dominicano, congregação que teve membros perseguidos e torturados é cruel. Do mesmo modo, fazer alusão a grupos supremacistas e ao racismo é atacar os Direitos Humanos conquistados, a duras penas, no Brasil”, prosseguiu o Executivo municipal, comandado pelo prefeito Anderson Gouvea (PT).

A Associação Cultural Pilão de Prata, que representa o patrimônio cultural afro-brasileiro no município, também repudiou a manifestação. “Inescrupulosos caminharam pelo território quilombola, em afronta à vida destes que carregam consigo o legado de seus antepassados”, afirmou a entidade.

“Estamos indignados e profundamente violentados diante de tamanho ato irreparável e digno de medidas jurídicas de responsabilização pelos diversos crimes cometidos de apoio à tortura, de racismos”, prosseguiu.

Leia a íntegra da nota:

“A Associação Cultural Pilão de Prata da cidade de Goiás repudia o ato organizado pelo grupo apoiador de Bolsonaro na manifestação ocorrida na cidade de Goiás em 01 de maio de 2021 que agiu violentamente de forma racista e criminosa criando aspectos de violência simbólica latente inspirados na seita Ku Klux Klan, assassina de povo negro.

Justo em solo sagrado e patrimonial da cultura afro-brasileira da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos erguida às custas do flagelo do povo negro e de seus remanescentes.

Inescrupulosos caminharam pelo território quilombola em afronta à vida destes que carregam consigo o legado de seus antepassados.

Mancharam o simbólico religioso da cidade de Goiás ao vestirem com referência às indumentárias representativas da Procissão do Fogaréu, tão cara para cultura de nossa cidade.

Em um momento tão crítico com mais de 400.000 (quatrocentos mil) mortos numa pandemia descontrolada profanaram o chão de Oxum, da Rainha Zinga, dos Bantus, das nossas crianças e dos nossos velhos.

Estamos indignados e profundamente violentados diante de tamanho ato irreparável e digno de medidas jurídicas de responsabilização pelos diversos crimes cometidos de apoio à tortura, de racismos.

Goiás é Patrimônio Mundial e isso é um crime contra a humanidade e a vida.

Pilão de Prata é vida do povo negro e jamais se silenciará!”

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