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Mandetta sobre Bolsonaro: “Não usa máscara, aglomera, transmitiu a muitos”

Em entrevista ao Metrópoles, ex-ministro da Saúde criticou a divulgação do uso da cloroquina feito pelo presidente: “Tem um médico 24 horas”

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta
1 de 1 ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) não demonstrou nenhuma surpresa ao receber a notícia nessa terça-feira (7/7) de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dissera ter contraído o novo coronavírus.

“Quem aglomera, quem não usa máscara, tem uma chance enorme de contrair a doença. No caso dele, contraiu – e era esperado que contraísse”, comentou, em entrevista exclusiva ao Metrópoles.

O ex-ministro da Saúde e ex-deputado federal afirma que Bolsonaro precisa se conscientizar de que agora é um portador de uma doença infecciosa capaz de ser transmitida por gotículas de saliva.

Ele alerta para a gravidade de disseminação, uma vez que o presidente desrespeitou, por diversas vezes, as recomendações sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS) e até do próprio Ministério da Saúde.

Dados do Ministério da Saúde apontam que a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, matou, até essa quarta-feira (8/7) mais de 67 mil pessoas. Outras 1,6 milhão de casos foram registrados.

“Uma pessoa que não segue as recomendações, que não faz o isolamento, que não se trata, enfim, que não se cuida, transmite a doença para um número muito grande de pessoas. O presidente teve contato com muita gente. E essas pessoas tiveram contato também com outras tantas”, diz, ao avaliar que o ex-chefe transmitiu a muitos.

Cloroquina

Durante a conversa, Mandetta deseja melhoras ao presidente Jair Bolsonaro e recomenda ao chefe do Executivo federal repensar as atitudes que vem tomando sobre o novo coronavírus.

“Desejo que ele tenha forma leve, que melhore e que, principalmente, utilize esse período de isolamento para refletir e sair dessa doença com uma visão mais atenciosa para quem não tem toda a infraestrutura que ele tem”, afirma.

Mandetta faz referência, neste ponto, à divulgação do uso da hidroxicloroquina feita pelo presidente ao anunciar que estava com Covid-19. Bolsonaro fez questão de destacar que estava tomando o medicamento e disse confiar no tratamento.

“Estou tomando aqui a terceira dose da hidroxicloroquina. Estou me se sentindo muito bem. Estava mais ou menos domingo, mal na segunda feira. Hoje, terça, estou muito melhor do que sábado. Então, com toda certeza, né, está dando certo”, disse Bolsonaro, em vídeo.

Mandetta não critica Bolsonaro por ter tomado a cloroquina, pois “o presidente tem um médico 24 horas com ele”, mas alerta, no entanto, para o fato de que outras milhares de pessoas podem ter graves complicações ao tomarem o medicamento sem a prescrição médica adequada.

“O complicado é essa mensagem que ele passa de sugerir a automedicação. Muitas pessoas na idade dele têm problemas cardíacos, que com essa medicação podem ter arritmia cardíaca e morte súbita. Ele, não. Ele tem um médico 24 horas do lado dele, tem um CTI [Centro de Terapia Intensiva] reservado, fez ressonância no primeiro dia”, afirma.

Uso político

Por fim, o ex-ministro critica o uso político que Bolsonaro tem feito da cloroquina. Segundo Mandetta, é uma das formas com as quais o presidente acredita poder minimizar os desgastes da condução do governo federal sobre o novo coronavírus.

“Desejo que ele possa entender melhor as milhares de pessoas que tiveram diagnósticos ontem (terça-feira), no mesmo dia que ele, e que hoje (quarta-feira) estão em alguma cidade aguardando um leito de CTI que não existe”, finaliza o médico.

Só nessa terça-feira (7/7), 45.305 pessoas testaram positivo para Covid-19. Além disso, 1.254 morreram.

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