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Funaro: Temer, Geddel e Moreira Franco sabiam do esquema na Caixa

Em audiência à Justiça Federal, operador financeiro explica como funcionava conluio para desviar recursos do banco a grupo político do PMDB

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1 de 1 Funaro-carro2 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Questionado sobre quem do PMDB sabia sobre a existência de suposto esquema de desvio de recursos da Caixa Econômica para abastecer o grupo político do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o operador financeiro Lúcio Funaro foi enfático. “Geddel, com certeza. O Lúcio, irmão dele, também, com certeza. O Henrique [Eduardo Alves], Michel Temer, Moreira Franco…”, garantiu.

A declaração foi prestada ao juiz titular da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, na tarde desta sexta-feira (27/10). Tido como operador da legenda do presidente da República, Lúcio Funaro depôs por pouco mais de duas horas e meia (entre 17h e 19h30, aproximadamente) sobre o conchavo que teria desfalcado o fundo de investimento FI-FGTS, controlado pelo banco, e que foi revelado pela Operação Sépsis, da Polícia Federal, um desdobramento da Lava Jato.

Delator no caso, ele detalhou a participação dos demais réus na ação penal decorrente da Sépsis: Cunha; o ex-ministro Henrique Eduardo Alves; o ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, e o empresário Alexandre Margotto. “Eu ratifico 110% todos os termos da minha delação premiada. Não estou aqui pra brincar. Estou aqui para falar a verdade”, garantiu.

O Chuck do DF
O operador confirmou ao juiz Vallisney informação inédita prestada mais cedo por Fábio Cleto. O “Chuck” – flagrado em mensagens de textos trocadas com o ex-dirigente da Caixa e que até esta sexta (27) não havia sido identificado – é Ricardo Leal, ex-integrante do Conselho de Administração do Banco de Brasília (Consad/BRB).

Leal atuou como arrecadador da campanha vitoriosa de Rodrigo Rollemberg ao Governo do Distrito Federal. Considerado pessoa próxima ao atual ocupante do Palácio do Buriti, ele renunciou ao Conselho de Administração do BRB em fevereiro. Embora tenha deixado o posto, mantém prestígio no banco.

O ex-vice-presidente da Caixa, ouvido por meio de videoconferência a partir de Campinas (SP), onde está preso, detalhou: “Ricardo Leal é um amigo do Lúcio [Funaro] e do [empresário] Alexandre Margotto, que mora em Brasília e me foi apresentado logo que cheguei. Ele me ajudou a alugar casa, e a gente conviveu bastante de forma pessoal”.

Choro e mágoa
Durante sua conversa com o titular da 10ª Vara Federal, Lúcio Funaro chegou a chorar ao dizer, com a voz embargada, que está há mais de um ano sem ver o pai – “não tenho coragem de encará-lo depois de tudo isso” – e a lembrar da filha pequena, que foi encontrá-lo pela manhã na sede da 10ª Vara Federal.

“Minha vida se transformou em um inferno. Não tinha opção, não tinha saída”, afirmou, ao explicar por que decidiu firmar termo de colaboração com o Ministério Público Federal, tornando-se delator. “A única mágoa na minha vida é ter encontrado o Fábio Cleto e ter indicado ele para a Caixa”, disse.

Cleto foi quem entregou o esquema de corrupção enfronhado no Fundo de Investimento do FGTS da Caixa que, segundo ele, era capitaneado por Cunha e Funaro. No início do depoimento, Funaro admitiu: “Quem indicou Fábio Cleto para Eduardo Cunha fui eu”.

Os dois personagens citados estão presos em decorrência das investigações: enquanto Cleto cumpre pena em Campinas (SP), Cunha é detento do sistema prisional do Paraná, mas está em Brasília desde o fim de setembro para prestar esclarecimentos à Justiça Federal. O ex-deputado, inclusive, acompanhou a oitiva de Funaro na sala de audiência da 10ª Vara Federal.

“Nenhum partido, nenhum líder de governo (…) indica uma pessoa para algum cargo que não seja para ter algum proveito financeiro ou proveito político”, afirmou Funaro, ao detalhar como o esquema teve início.

Gastos incompatíveis
Cleto já depôs ao juiz Vallisney: sua oitiva começou na quinta (26) e só foi concluída nesta sexta (27), pouco antes de Funaro começar a ser ouvido. Ele disse ao titular da 10ª Vara Federal ter partido de Eduardo Cunha sua indicação à vice-presidência da Caixa e acrescentou que o ex-ministro Henrique Eduardo Alves validou a escolha. Mas foi graças a Funaro que ele chegou ao ex-deputado.

Também admitiu ter participado do suposto esquema de desfalque na Caixa para abastecer, com propina, o grupo político de Eduardo Cunha: além de tê-los apresentado, Lúcio Funaro seria o primeiro intermediário das transações, antes de o próprio ex-deputado assumir as tratativas com o dirigente do banco público.

“O que eu fazia era dar dinheiro mensalmente para o Alexandre [Margotto] pagar as contas dele pra sobreviver, porque Fábio [Cleto] sempre falava que não tinha dinheiro; dizia que gastava R$ 40 mil por mês”, prosseguiu Funaro. “É mentira. Fábio gastava, por mês, só de conta, 40 mil dólares.

Funaro contou ter parado de pagar as despesas de Cleto porque os gastos eram incompatíveis com o cargo que ocupava na Caixa, o que poderia levantar suspeitas.

Outros envolvidos
Segundo o operador, ele e Eduardo Cunha eram bastante próximos e mantinham “negócios” desde 2003. Funaro chegou a dizer que foram 15 anos de parceria. A dupla teria mantido por volta de 780 encontros para tratar de propinas vinculadas ao esquema Caixa. “Almoçávamos constantemente; ele [o ex-deputado] me dava conselho constantemente. Às vezes, quando eu brigava com alguém, ele dizia: ‘faz assim, faz assado’. Sempre respeitei muito a opinião dele”, destacou Funaro.

Um dos encontros mencionados, segundo o operador, ocorreu durante almoço na casa do empresário e também delator Joesley Batista. Além do anfitrião, dele e de Cunha, teriam participado do encontro o igualmente delator e ex-diretor da JBS Ricardo Saud e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, que está preso em Natal (RN) em consequência da Operação Sépsis.

“Não é verdade o que Cleto diz, que todas as operações [de desvio de recurso] são de responsabilidade dele e do Cunha. As operações de responsabilidade minha são com a Eldorado [pertencente a holding J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista] e da BR-Vias”, acrescentou Funaro.

Veja outras declarações de Lúcio Funaro ao juiz Vallisney:

– Sobre ter virado delator: “Não é uma posição cômoda estar sentado aqui. É uma posição chata, mas é uma posição que eu tive que assumir”.

– Sobre brigas com outros presos da Lava Jato detidos na Papuda: “Não tenho condição nem de me mexer, quanto mais brigar com os outros”.

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