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“Festa danada” de Guedes emperra reforma administrativa na Câmara

Líderes da Câmara também se mostram contrários a atender agenda de privatizações enviada pelo Planalto

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
1 de 1 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A capacidade de articulação política, desde o início do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), foi alvo de críticas de parlamentares e governadores.

Neste ano, marcado pelas eleições municipais de outubro, a capacidade de aprovar pautas consideradas impopulares, como redução nos direitos de servidores públicos pela reforma administrativa – que atinge um contingente de 12 milhões de eleitores -, seria difícil. Líderes partidários ouvidos pelo Metrópoles avaliam, porém, que a situação tornou-se ainda pior depois de episódios recentes de verborragia do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Na avaliação dos parlamentares, depois que o economista afirmou que a valorização do dólar, que bateu recorde histórico em sua administração, acaba com a “festa” que era “empregadas domésticas” viajarem para a Disney logo após ter chamado servidores de “parasitas” tornou quase nula a chance de o Parlamento avaliar mudanças sugeridas pela equipe econômica na área.

Dessa forma, fica passível de evolução no Congresso a aprovação da autonomia do Banco Central e a proposta de emenda à Constituição (PEC nº 45), que prevê uma reforma tributária. Em comum, ambas foram escolhidas pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como prioridades para 2020.

Da mesma forma, líderes da Casa passaram a tratar com mais distanciamento as privatizações, tão defendidas pelo governo, mas consideradas desgastantes ante o mesmo funcionalismo público que havia sido chamado de “parasita” por Guedes.

“Aqui, ninguém vai entrar em desgaste. O governo tem que assumir o desgaste todo. Quer fazer, faça as privatizações. Se depender de nós, não”, disse o deputado Paulinho da Força (SD-SP), importante liderança do grupo de partidos chamado Centrão.

Na semana passada, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (PSB-PE), falou sobre a possibilidade de a administração de Jair Bolsonaro pegar carona em uma proposta de reforma administrativa que está em tramitação na Câmara e que já venceu a parte de admissibilidade constitucional. Depois, disse que o governo recuou dessa ideia e poderia mandar uma nova PEC para mudar as condições de contratação do serviço público.

Independente da forma de tramitação, a proposta não deve receber a atenção dos parlamentares que o governo deseja.

“A reforma administrativa não entra na pauta porque perde”, disse o deputado federal José Guimarães (PT-CE). “Ainda mais depois das peripécias do Guedes”, relembrou o petista.

“No ano passado, o governo ameaçou mandar e não mandou, agora ele chama o servidor de parasita? O ministro da economia não se dá o respeito”, criticou.

“Trotezinho”
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), reclama da falta de conversa do governo com os parlamentares e aponta, como consequência, o adiamento na análise das pautas governistas.

No caso das privatizações, Efraim diz que não há qualquer conversa do secretário de Desestatização e Desinvestimentos do Ministério da Economia, Salim Mattar, com deputados ou senadores.

“Eu acho difícil aprovar os pedidos. Não tem ninguém fazendo essa interlocução. Salim não é um interlocutor disso aqui dentro”, disse o líder, que apontou as pautas defendidas por Maia como aquelas que devem deslanchar em 2020. “Tem tanta coisa para a gente tratar este ano. Autonomia do Banco Central vai. Reforma tributária vai”, destacou.

Para Efraim, caso haja alguma disposição em mudar as regras do funcionalismo público, será em ritmo de maratona, bem mais longo do que se pretende para a reforma tributária. “Reforma tributária vai ser corrida de 100 metros. A administrativa vem ali no trotezinho. Antes da eleição, eu acho que é só isso”, disse o líder do DEM.

“Cangapé”
Efraim comparou a ideia do governo de pegar carona em uma reforma administrativa em tramitação a um golpe de capoeira chamado “cangapé”, que consiste em um pontapé na panturrilha para fazer o adversário cair durante a luta.

“O governo quer fazer um cangapé. Estou sabendo. Cangapé é um golpe da capoeira, quando você dá uma banda”, comparou o líder. “Aí a pessoa dá aquele pulo, que sai de um canto e já cai do outro”, concluiu.

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