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Felipe Santa Cruz sobre fala de Bolsonaro: “Foi como um tapa”

Presidente da OAB foi atacado pelo chefe do Executivo que usou o desaparecimento de seu pai, durante a ditadura, para provocá-lo

atualizado

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz
1 de 1 O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre as circunstâncias da morte de seu pai, Fernando Santa Cruz, desaparecido desde 1974, após ser preso, no Rio de Janeiro, pela repressão. Ao responder ao presidente, ele disse que tanto ele quanto outras famílias de desaparecidos políticos sonham em ter informações sobre o que ocorreu. Segundo ele, ouvir de um presidente da Repúiblica o que ocorreu com seu pai era o sonho de sua avó, D. Elzita, que morreu há pouco mais de um mês, sem notícias do filho.

“Foi quase um tapa quando ele disse que, se eu quisesse, ele diria o que aconteceu com meu pai. Eu quero. Eu e todas as famílias de desaparecidos no Brasil sempre buscamos isso. Minha avó morreu sonhando com um  presidente da República que esclarecesse para ela o que aconteceu com o filho dela”, disse Felipe Santa Cruz.

Ao ser questionado se aceitaria um pedido de desculpas do presidente, Felipe Santa Cruz sinalizou positivamente. “Com toda certeza. Para o meu coração basta. Minha vida é toda construída em negar o confronto. Eu tinha duas opções, viver envenenado pelo que aconteceu com meu pai no início da minha vida ou olhar para frente e levar da vida o que de belo eu sou”, destacou.

Fernando Santa Cruz desapareceu em 23 de fevereiro de 1974 depois de ter sido preso por agentes do DOI-Codi no Rio de Janeiro. Estudante de direito, ele era funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo. Ele tornou-se um dos 210 desaparecidos políticos da ditadura. No total, durante os 21 anos do governo militar, 434 adversários do regime foram mortos.

No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse, durante live no Facebook, que o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, está “equivocado” quanto à morte de seu pai e alegou que ele não foi morto pelos militares, como defende o advogado. Enquanto cortava o cabelo durante a transmissão ao vivo, o chefe do Executivo federal sustentou que foi o próprio grupo de militantes antiditadura militar do qual Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira fazia parte em Recife, a Ação Popular Marxista-Leninista, que teria executado o pai do hoje presidente nacional da OAB.

Era a segunda vez que Bolsonaro falava do assunto no dia. Pela manhã, ele havia provocado o presidente da OAB, com quem vem tendo discussões públicas, afirmando que poderia explicar a Felipe Santa Cruz as circunstâncias da morte do pai dele, desaparecido durante a ditadura militar. O presidente reclamava da postura da OAB referente à investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca contra Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018.

As declarações de Bolsonaro também repercutiram na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), que emitiu nota criticando o comportamento do presidente. Após o apontamento, Bolsonaro trocou integrantes da comissão e substituiu o presidente postando um vídeo no qual sua avó declama uma poesia para o filho desaparecido.

Santa Cruz lamentou novamente a postura de Bolsonaro. “Hoje, foram afastados integrantes da comissão que há anos tenta dar respostas a pessoas sofridas como minha querida avó. Minha solidariedade aos que deixam tão relevante missão, com a certeza de que cumpriram seu papel”, comentou.

 

 

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