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Em 2018, governo federal gastou R$ 1,3 bilhão com viagens e diárias

Cifra é a mesma do orçamento de Boa Vista. Destinos internacionais representam 12% dos deslocamentos. Este ano, gasto supera R$ 52 milhões

atualizado

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1 de 1 abre4 - Foto: Arte/Metrópoles

Considerado um ano marcado pela crise econômica, política e social, 2018 também foi um período de aumento nos gastos com diárias e passagens aéreas no governo federal. As andanças de integrantes do Executivo pelo Brasil e pelo mundo custaram ao Tesouro Nacional R$ 1,31 bilhão. A cifra é 10,4% maior do que em 2017, quando atingiu R$ 1,189 bilhões.

A diferença de R$ 124 milhões é o mesmo valor aplicado pelo Ministério da Educação (MEC) no primeiro repasse do programa Mais Alfabetização no ano passado. Entre os órgãos que mais fizeram as malas, estão os ministérios da Justiça, da Educação e o extinto da Fazenda. Membros do governo realizaram mais de 23 mil viagens ao exterior — uma média de 63 deslocamentos diários.

Os dados (veja abaixo) fazem parte de levantamento realizado pelo Metrópoles, com base em informações divulgadas pelo Portal da Transparência. Os gastos correspondem ao período do mandato do ex-presidente Michel Temer (MDB), preso nesta semana no âmbito da Operação Lava Jato.

Para se ter a dimensão do custo aos cofres públicos, R$ 1,3 bilhão é igual ao orçamento aprovado pela Câmara de Vereadores para Boa Vista (RR) – capital com mais de 375 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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No ano passado, o governo federal custeou 1.074.193 viagens, entre nacionais e internacionais. Uma média de 2.942 deslocamentos diários. Volume alto, de acordo com o cientista político da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rudá Ricci.

Observamos se é muito ou pouco pelo retorno, se as viagens trazem investimentos. O que acontece é que não vemos resultados. É um gasto desnecessário e mal planejado

Rudá Ricci, cientista político da PUC-SP

Um problema crônico no governo, na avaliação do especialista. “É necessário ter controle pela sociedade civil dos gastos do governo. É preciso fiscalização para coibir o uso desregrado. A única forma de conter é saber em tempo real o gasto que será feito. Fora essa situação, é enxugar gelo. Temos que avançar nisso”, avalia.

Para o cientista político, conter esse tipo de gasto será o principal desafio para o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que já enfrenta alta nos gastos com cartão corporativo. “Isso cria uma casta e o Estado passa a ser um meio de vida com o dinheiro público. É imoral e pouco republicano, indecente. Estamos formando uma aristocracia num mundo capitalista”, conclui Ricci.

Em 2019, sob a administração de Bolsonaro, o Tesouro já gastou R$ 52,9 milhões com passagens e diárias. Ao todo, 12% das viagens foram para destinos no exterior. Somente com reservas em hotéis, o governo federal desembolsou R$ 27,5 milhões. Outros R$ 19 milhões foram gastos em passagens aéreas.

“Mais Brasil e menos Brasília”
Entre os integrantes da atual gestão federal, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, lidera o ranking de despesas com viagens. O governo desembolsou R$ 34,2 mil em deslocamentos de Mandetta e R$ 5,9 mil em diárias. O ministro realizou, entre janeiro e fevereiro deste ano, 17 voos para sete  cidades – Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Pacaraima (RR), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Recife (PE), Salvador (BA) e Florianópolis (SC).

Para a pasta, o gasto é justificado. “Assim, já nos primeiros meses, conseguiu estar em quatro das cinco regiões brasileiras, com o objetivo de acompanhar in loco o cenário de assistência à saúde no país. Mais Brasil e menos Brasília. A maior parcela das viagens foi realizada de voo comercial para diminuir os custos de deslocamento”, destaca nota da assessoria do Ministério da Saúde. O ministro usou as aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) em dois deslocamentos.

Conforme revelado pelo Metrópoles no começo do mês, ao menos cinco ministros deixarão o Brasil em março. Os titulares da Cidadania (Osmar Terra), Defesa (Fernando Azevedo e Silva) e do Turismo (Marcelo Álvaro Antônio), além do presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto), passarão juntos 23 dias longe do país, se somadas todas as viagens previstas.

O próprio presidente da República tem cumprido forte agenda internacional. Ele foi aos Estados Unidos entre os dias 18 e 22, passa esta semana no Chile e irá a Israel entre 31 de março e 4 de abril.

A reportagem questionou o Palácio do Planalto sobre as despesas. Por e-mail, pediu explicações de como o governo avalia esses gastos, o que justifica as viagens e quais são os critérios do governo para autorizar os deslocamentos. Até a última atualização desta matéria, o Planalto não havia se pronunciado. O espaço continua aberto a manifestações. 

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