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Defesa de Temer cita de Gabriel García Márquez à Bíblia Sagrada

Rebuscado, documento de 89 páginas entregue à Câmara traz citações e ditos populares para desqualificar acusações da PGR contra peemedebista

atualizado

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1 de 1 temer-ilustra - Foto: Joelson Miranda/Metrópoles

Contudo, Fermina Sánchez se sentou em seu capricho com a determinação cega dos  amores contrariados, e se casou com ele a despeito da família, com tanta pressa e tantos mistérios que dava a impressão de fazê-lo menos por amor do que para cobrir com o manto sacramental algum descuido prematuro.

Contra a flecha, a prosa e o verso. Foi com o trecho acima – pinçado do romance O amor nos tempos do Cólera, do escritor colombiano Gabriel Gárcia Márquez – que os advogados do presidente Michel Temer (PMDB) decidiram abrir as 89 páginas da defesa do peemedebista contra a segunda denúncia formulada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. O documento, assinado pelos juristas Roberto Soares Garcia e Eduardo Pizarro Carnelós, foi protocolado no fim da tarde desta quarta-feira (4/10) na Câmara dos Deputados, onde as acusações serão apreciadas.

Assim como na carta-queixa do então vice-presidente da República Michel Temer a Dilma Rousseff, a peça de defesa tem escrita rebuscada. Ditos populares, citações bíblicas e trechos de entrevistas também preenchem o documento, no qual os defensores de Temer acusam de (Judas) “iscariotes” tanto Janot quanto os delatores da JBS que atribuíram ao presidente o papel de chefe de organização criminosa supostamente formada por integrantes do PMDB. Além de Temer, foram denunciados os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil).

“Infelizmente, o dr. Rodrigo Janot Monteiro de Barros abusou de sua independência funcional, extrapolou suas funções institucionais, revelando a mais absoluta e inadmissível parcialidade contra o defendente”, diz trecho do documento. De Formosa (GO), os irmãos Joesley e Wesley Batista, delatores e donos da JBS, têm sua proveniência assinalada:

“Apesar de sua origem interiorana, os aliados do ex-procurador-geral olvidaram antigo dito popular, prenhe de sabedoria e muito conhecido nos rincões de Goiás e de todo o Brasil: ‘A esperteza, quando é muita, vira bicho e engole o dono'”, discorre a defesa. “Em sua busca frenética por algum deslize na fala, inadvertidamente gravada, de seus interlocutores, os espertos (o sambista talvez os definisse como ‘malandros-agulha’) acabaram por gravar suas próprias conversas, as quais exalam o fétido odor das patranhas a que se dedicaram com tanto afinco em sua busca por impunidade, pela qual se propuseram pagar, acusando de forma vil o presidente da República”, prossegue o documento.

É golpe
Ao entregar formalmente a defesa de Temer ao Parlamento, o advogado Eduardo Carnelós classificou a segunda e última “flecha” disparada pelo ex-procurador-geral da República contra o presidente de “tentativa de golpe”, armada e tendo por base provas forjadas.

“E, como refletiu [a filósofa alemã de origem judaica] Hannah Arendt a respeito da conduta espalhafatosa do promotor encarregado de levar a cabo a acusação contra Adolf Eichmann, “(…) [a] Justiça não admite coisas desse tipo; ela exige isolamento, admite mais a tristeza do que a raiva, e pede a mais cautelosa abstinência diante de todos os prazeres de estar sob a luz dos refletores (…).”

No documento, a acusação formulada pelo Ministério Público Federal é classificada como “indevido assédio de natureza política, que beirou a atuação oposicionista”, em uma conduta considerada “absolutamente indevida” para quem ocupa “a posição cimeira” do Ministério Público Federal.

Para sustentar esses argumentos, os advogados do presidente citaram série de declarações de Rodrigo Janot anteriores à apresentação da segunda denúncia. Bem como o fato de a primeira acusação ter como base a gravação “clandestina” de conversa entre Joesley Batista e Temer no Palácio do Jaburu, durante encontro noturno não registrado na agenda oficial da Presidência.

Também é ressaltado o fato de, inicialmente, os ex-dirigentes da JBS terem recebido perdão total pelos crimes confessados. “(…) não demorou muito para que o Brasil ouvisse do trôpego ex-procurador-geral que Joesley & Cia. teriam fraudado a confiança do Ministério Público Federal, o que levou à quebra unilateral de acordo de delação’, destaca a defesa.

Imprestáveis
Na avaliação dos advogados do presidente, toda a segunda acusação contra o peemedebista se sustenta sobre dois pilares: as palavras dos delatores da JBS e o depoimento do também delator e operador financeiro ligado ao PMDB Lúcio Funaro, chamado no documento de “criminoso de bitola larga”, com participação nos escândalos do Banestado e do Mensalão.

“Todas [palavras que] pretendem fazer crer na participação do presidente Michel Temer em ilícitos. São imprestáveis para justificar o recebimento da denúncia formulada”, sustentam os advogados do presidente. Um trecho da Bíblia, destacado ainda na primeira parte do documento, parece invocar aos “detratores” de Temer a ira divina:

Levantai-vos, juiz da terra, castigai os soberbos como eles merecem. Até quando, Senhor, triunfarão os ímpios? Até quando se desmandarão em discursos arrogantes, e jactanciosos estarão esses obreiros do mal?

Salmos 92, 2-4

E Fermina?
É, ainda, nas primeiras páginas da peça de defesa que os advogados de Temer explicam a escolha do trecho do best-seller O amor dos Tempos do Cólera para apresentar seus argumentos:

“Se no lindo romance de Gabriel García Márquez do qual se extraiu a epígrafe para este capítulo, apesar da pressa com que se houve Fermina Sánchez ao se casar com Juvenal Urbino, o que fez menos por amor do que para cobrir com o manto sacramental algum descuido prematuro, ela ainda pôde ao final viver feliz com seu amado da juventude Florentino Ariza, o açodamento do ex-procurador-geral não pode resultar em final feliz para ele e seus propósitos malsãos, porque, mais do que descuidos prematuros, a ação de S. Ex.ª tem a marca da infâmia, e esta já se conhece hoje, ainda que não por inteiro”, discorrem os advogados do presidente. “De tudo, há de alvissareiro o fato de que esse tempo passou, as nuvens da tormenta provocada por flechas em dança da chuva já se dissipam, e a Procuradoria-Geral da República hoje voltou aos trilhos do respeito à ordem jurídica do país”, sublinham.

Ao pedir que a denúncia seja descartada pela Câmara dos Deputados, os juristas que assinam a defesa destacam que a Casa não é composta por bandoleiros, mas por homens e mulheres com consciência da importância de não permitirem a instalação de mais uma grave crise política-jurídica no país e de evitar novos prejuízos à vida institucional brasileira.

Veja abaixo as palavras mais usadas no documento: 

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