metropoles.com

De olho em palanques, Bolsonaro tenta bombar ministros “outsiders”

Histórico mostra que auxiliares presidenciais encontram obstáculos ao se vincular ao governo para tentar se eleger

atualizado

Compartilhar notícia

Igo Estrela/Metrópoles
Presidente Bolsonaro participa da cerimônia de Assinatura dos Contratos do Leilão do 5 Palácio do Planalto4
1 de 1 Presidente Bolsonaro participa da cerimônia de Assinatura dos Contratos do Leilão do 5 Palácio do Planalto4 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Empenhado nas campanhas de aliados que lhe rendam palanques eleitorais em estados-chave e que garantam base parlamentar robusta em um eventual segundo mandato, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem investido em seus ministros menos conhecidos.

A principal estratégia para esse outsiders (como são conhecidos os candidatos que têm pouca experiência política) é vinculá-los a projetos do governo tidos como cases de sucesso. Até o fim de março, o mandatário pretende seguir viajando o país e apresentando seus auxiliares ao público, na tentativa de lhes render uma bagagem.

Os ministros-candidatos precisam se desvincular dos respectivos cargos até abril, seis meses antes do pleito.

Na última quinta-feira (24/2), por exemplo, em São Paulo, Bolsonaro rendeu uma série de elogios a Tarcísio Gomes de Freitas (PL), que será candidato ao governo estadual. Tarcísio é servidor público de carreira da Câmara dos Deputados, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e engenheiro pelo Instituto Militar de Engenharia (IME).

Ele vai concorrer pela primeira vez a um cargo eletivo este ano, a fim de garantir palco eleitoral para Bolsonaro no principal colégio eleitoral do país.

0

A estratégia de usar ações dos ministérios como ativo eleitoral não é exatamente inovadora. Entretanto, no caso dos ministros de Bolsonaro é ainda mais importante porque alguns desses outsiders não desepenhavam, até então, sequer atividades partidárias.

Entre os principais empecilhos dessa associação estão a popularidade em baixa do governo federal e questionamentos sobre a natureza e eficiência das medidas empreendidas.

Além disso, histórico recente levantado pelo Metrópoles aponta que há alguma resistência aos nomes de aliados do governo em eleições subsequentes. Em 2018, o ex-presidente Michel Temer (MDB) só conseguiu eleger sete dos seus 18 ex-ministros. Aliados no Congresso tampouco se reelegeram: o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS) e o senador Romero Jucá (MDB-RR), por exemplo, perderam seus mandatos.

Em posição semelhante à que se encontra hoje Bolsonaro, Dilma Rousseff (PT) contribuiu para a vitória de 10 ex-auxiliares que disputaram cargos eletivos em 2014, quando ela mesma se reelegeu para o Palácio do Planalto. Quatro aliados não conseguiram se eleger, entre eles os pedetistas Brizola Neto e Carlos Lupi.

Os ministros-candidatos e os projetos

Já confirmado pré-candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio Freitas aposta nos leilões e concessões realizados em sua gestão e no perfil vendido pelo chefe de “entregador de obras”. Bolsonaristas já tentam colar nele o apelido “Tarcisão da massa”, na tentativa de torná-lo mais popular. Tarcísio só se filiou ao PL, atual partido do chefe, em 2022.

Queridinha de Bolsonaro, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, indicou que pode se candidatar a senadora por algum estado do Norte, como Amapá, Roraima e Pará. Ela conta com um programa federal chamado Abrace o Marajó, voltado à geração de empregos e renda, melhoria da educação e da saúde na Ilha do Marajó.

“Alcolumbre, tô chegando”, diz Damares sobre se candidatar pelo Amapá

A ministra, que ainda está sem partido, pretende apostar ainda na pauta ideológica cara ao bolsonarismo, como a oposição ao aborto e a defesa da família tradicional.

O ministro-sanfoneiro Gilson Machado (PSC) tem um histórico maior de atividade partidária — passou por PFL/DEM, PHS, MDB e PSL. Este ano, ele quer disputar o governo de Pernambuco com o socorro ao turismo como carta na manga.

O ministro sabe ser pouco provável uma vitória, devido à força do palanque que terá Danilo Cabral, provável candidato do PSB e do PT, respectivamente o maior e o segundo maior partido local. Ainda assim, sua candidatura é importante para garantir o palanque a Bolsonaro em Pernambuco.

No Distrito Federal, o ministro da Justiça, Anderson Torres (PSL), pretende apostar em dados sobre grande apreensão de drogas pelas Polícias Federal (PF) e Rodoviária Federal (PRF), vinculadas a seu ministério. Antes de entrar no governo, Torres era secretário de Segurança Pública do DF.

Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, deve deixar a pasta para se lançar ao Senado pelo estado de São Paulo. Pontes tem como vitrine programas como a internet nas escolas. Ele também se filiou ao partido do presidente.

Nome que vinha sendo cotado para concorrer ao Senado pela Paraíba, Marcelo Queiroga deve permanecer no governo e lançar o filho, Antônio Queiroga, o Queiroguinha, a deputado federal no estado.

Temendo derrota, Mario Frias desiste de disputar Câmara pelo RJ

Lotado na Secretaria Especial de Cultura, que não tem status de ministério, Mario Frias também vai tentar um cargo eletivo, de deputado federal por São Paulo, baseado em sua atuação na pasta. Ele quer explorar a reestruturação da Lei Rouanet e medidas voltadas ao socorro ao setor cultural em meio à pandemia.

Ministros já conhecidos

Aliado de primeira hora de Bolsonaro, o hoje ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni (União-RS), aposta na melhoria dos índices de desemprego e em medidas para promover a desburocratização e desregulamentação do mercado de trabalho. Onyx pretende disputar o Palácio Piratini.

Na Bahia, o candidato ao governo estadual João Roma (Republicanos), atual ministro da Cidadania, é deputado federal e foi próximo do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Roma aposta no Auxílio Brasil como ativo para a derrota do grupo petista que comanda o estado há 15 anos. O programa social substituiu o Bolsa Família e foi criticado por especialistas que estudam políticas sociais.

Entre bolsonaristas, no entanto, ele é considerado um programa de êxito, entre outros fatores, por ter aumentado o piso do benefício para R$ 400 em pleno ano eleitoral. O Bolsa Família pagava, em média, R$ 192.

Em outro estado do Nordeste, Rogério Marinho (PL) pretende sustentar a candidatura nas obras de transposição do Rio São Francisco entregues na atual gestão, ainda que tenham sido iniciadas em gestões passadas. A ideia é apresentar o governo Bolsonaro, e o próprio ministro, como os responsáveis por “levar água ao Nordeste”.

O ministro do Desenvolvimento Regional vai disputar a única vaga do estado ao Senado. Ele conseguiu desbancar o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que também pretendia concorrer a uma cadeira. Marinho não conseguiu ser reeleito em 2018.

Tereza Cristina (União-MS), da Agricultura, que ainda analisa qual será seu destino partidário, estuda se vai se lançar ao Senado ou à reeleição na Câmara. Chamada por Bolsonaro de “pequena grande mulher”, ela é bem-vista pelo agronegócio nacional e tida como uma autoridade que atende as demandas do setor.

Já a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL), pretende disputar a vaga ao Senado pelo Distrito Federal. Apesar de receber elogios públicos do chefe e de ter conseguido se manter no posto mesmo com pressões de adversários, Flávia não depende tanto de Bolsonaro a nível local. Ela é casada com o ex-governador José Roberto Arruda, ainda hoje bastante popular na capital federal.

0

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?