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Cotados para Itamaraty vão de senador do agro a embaixador que boicotou homenagem a Marielle

Com chanceler Ernesto Araújo na berlinda, Palácio do Planalto avalia nomes para assumir Ministério das Relações Exteriores

atualizado

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Andre Borges/Especial para o Metrópoles
Bolsonaro e Ernesto Araújo
1 de 1 Bolsonaro e Ernesto Araújo - Foto: Andre Borges/Especial para o Metrópoles

Com o aumento das pressões pela saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o Palácio do Planalto mantém o chanceler em banho-maria enquanto busca um nome de perfil menos ideológico e que tenha melhor receptividade no meio político.

A avaliação entre parlamentares é que a política externa brasileira não consegue mais se recompor com Araújo à frente da pasta.

Entre os cotados, há senadores aliados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e nomes de diplomatas, que seriam “solução caseira” caso a saída de Ernesto do posto se concretize.

Três senadores são citados nos bastidores: Fernando Collor (Pros-AL), Antonio Anastasia (PSD-MG) e Nelsinho Trad (PSD-MS). Também no seio político, o nome do ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) é citado, porém com menos força. No campo diplomático, são lembrados os nomes de dois embaixadores: Luís Fernando Serra, que representa o Brasil na França, e Nestor Forster, embaixador nos Estados Unidos.

A saída de Araújo do governo não ocorrerá pela sua postura à frente do Itamaraty, uma vez que, segundo aliados, o chanceler segue um discurso que agrada a Bolsonaro. A eventual troca deve atender a parlamentares, especialmente do Centrão – que tem dado sustentação ao governo no Congresso –, e a interesses de setores econômicos preocupados com a imagem do país no exterior.

Confirmada a saída do ministro, ela terá sido feita, explicam interlocutores, em favor da “nova imagem” do presidente que, recentemente, trocou o comando do Ministério da Saúde por um perfil técnico e passou a defender a vacinação em massa.

Um dos cotados há mais tempo, o senador e ex-presidente da República Fernando Collor tem se aproximado do chefe do Executivo ao longo dos últimos meses. Collor tem participado de eventos no Palácio do Planalto e já viajou com Bolsonaro para inauguração de uma obra no Nordeste, seu domicílio eleitoral.

Collor, que foi alvo de impeachment quando presidente da República, disse que o presidente Bolsonaro está vivendo uma “tempestade do nada” e afirmou que o mandatário não deve se abalar porque “seu capote é robusto” na sociedade e no Congresso.

Procurado por meio de sua assessoria, o ex-presidente afirmou que não comenta hipóteses.

Por sua vez, o senador Antonio Anastasia teria interesse na nomeação para outro posto: uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU). Ele pode ser indicado pelo presidente Bolsonaro para a vaga decorrente da aposentadoria compulsória da ministra Ana Arraes, que completa 75 anos em 2022. Recentemente, Bolsonaro indicou um aliado, Jorge Oliveira, para a Corte de contas.

O caminho mais viável para Anastasia, porém, seria chegar por indicação do Senado, vaga que só será aberta em 2023, quando Raimundo Carreiro deixará a Corte. Como ainda falta pelo menos um ano para que a indicação seja viabilizada, seu nome para o Itamaraty não é descartado.

Apesar disso, o senador, que não costuma se envolver em disputas políticas com o governo Bolsonaro, teria receio das investidas do chamado “gabinete do ódio”. Procurado, a assessoria do senador disse que ele não iria se manifestar.

O almirante Flávio Rocha, hoje responsável pelas secretarias de Comunicação do governo e de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE), tem bom relacionamento no meio diplomático. Rocha é fluente em seis línguas e tido por integrantes do governo como um homem culto.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a atuação de Rocha em missões diplomáticas lhe rendeu no Planalto o apelido de “02 do Itamaraty”.

Nos corredores do Planalto, a competência do almirante é reconhecida. Rocha ainda goza de proximidade com Bolsonaro. Apesar disso, não deve deixar as dependências palacianas, uma vez que, recentemente, bateu o pé para continuar no comando da SAE.

Após exonerar o general Eduardo Pazuello do comando do Ministério da Saúde, o governo ventilava a ideia de que o militar assumisse o comando da secretaria. A “saída honrosa,” no entanto, perdeu forças e o general voltou para o Exército.

Ligado ao agronegócio, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que presidiu a Comissão de Relações Exteriores do Senado nos dois últimos anos, tem o apoio do senador Ciro Nogueira (PP-PI), uma das principais cabeças do Centrão, para assumir o Itamaraty.

Nelsinho já foi cotado para o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e é figura constante na agenda presidencial. Seu irmão, o deputado federal Fábio Trad (PSD-MS), já se manifestou publicamente contra a ida do senador para o governo. Segundo ele, a opinião se mantém.

“Ele é soberano em sua decisão, mas se me pedir opinião, direi o seguinte: como você integrará um governo que festejará o dia 31 de março, símbolo da morte da democracia?”, disse Trad ao Metrópoles.

Questionado como seria a relação de Nelsinho com a ala ideológica do governo, Fábio disse não temer ataques. “Sei que ele enfrentaria com coragem a investida dos radicais, porém espero que ele pense na sua biografia política antes de aceitar o convite.”

Tido como conselheiro por Bolsonaro, o ex-presidente Michel Temer aparece entre os cotados, embora as chances de assumir o comando do Itamaraty sejam pequenas. Auxiliares do emedebista dizem que o assunto é “mais torcida do que realidade de fato”.

Por meio de sua assessoria, o ex-presidente afirmou que sempre que for convocado, irá ajudar, a exemplo da missão de ajuda ao Líbano. No ano passado, a capital do país árabe, Beirute, foi atingida por uma forte explosão, deixando mais de 150 mortos e 3 mil feridos. Temer liderou a missão.

“Solução caseira”

A substituição de Ernesto por um nome político é mal interpretada pela ala mais ideológica do governo, que vê na troca uma perda dupla. Uma solução caseira seria a indicação de um perfil técnico, mas conservador, vindo do próprio ambiente diplomático. Nesse grupo, o primeiro nome citado é o de Nestor Forster.

Diplomata do Itamaraty desde 1985, o atual embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, tem a confiança do presidente Jair Bolsonaro.

O embaixador, no entanto, é próximo do filósofo Olavo de Carvalho, considerado como “guru” da ala ideológica do governo. Foi inclusive por meio de Forster que Olavo e Ernesto Araújo se conheceram.

À época da indicação de Araújo para assumir o ministério, sua afinidade de ideias com Olavo foi citada por diversos meios como fator determinante para que ele fosse escolhido para liderar o Itamaraty.

Também é lembrado o chefe da embaixada brasileira em Paris, Luís Fernando Serra. Em agosto de 2020, o portal Uol revelou que Serra cancelou sua participação em evento que reuniu acadêmicos em Paris ao descobrir que a vereadora Marielle Franco (PSol), assassinada em 2018, seria homenageada.

Na ocasião, a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo (Partido Socialista), inaugurou um jardim que leva o nome da parlamentar brasileira.

O embaixador foi interpelado pela senadora francesa Laurence Cohen, que preside o grupo interparlamentar de amizade França-Brasil, sobre as investigações relativas ao assassinato de Marielle.

Em resposta, ele disse que “o assassinato de Celso Daniel e o ataque à vida de Bolsonaro não tiveram o mesmo eco na França que o assassinato de Marielle, que foi até objeto de uma mobilização da Assembleia Nacional”.

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