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Bastidores da transição: rotina de lanches rápidos, reuniões e visitas

Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) foi palco, ao longo de dois meses, das atividades do presidente eleito e da cúpula do futuro governo

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Bolsonaro
1 de 1 Bolsonaro - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

De segunda a sexta-feira, das 8h até quase as 21h, o movimento era intenso e quase ininterrupto. Uma sequência de carros pretos se revezava nos estacionamentos do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, levando e trazendo o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL); seu vice, Hamilton Mourão (PRTB), e grande parte dos 22 futuros ministros de Estado da gestão Bolsonaro. Veículos similares e de aplicativos de transporte também enchiam as áreas de embarque e desembarque com ilustres visitantes que tinham encontro marcado com a próxima cúpula do governo federal.

Durante os últimos dois meses, o CCBB foi a sede do governo de transição – o local foi palco de uma infinidade de reuniões e recebeu representantes dos três poderes da República e de setores importantes da economia e sociedade brasileiras.

Tudo devidamente acompanhado por um batalhão de jornalistas, que, entre outras curiosidades, viu Sérgio Moro, ex-juiz federal e condutor da maior ofensiva anticorrupção no país, fazer pausas de 40 a 50 minutos em sua rotina de trabalho para almoçar – quase que diariamente – no bistrô do CCBB. Ao lado do titular do superministério da Justiça e Segurança Pública, dispostos em grandes mesas, seus principais auxiliares. Tudo sob a supervisão de seguranças responsáveis pela proteção do ex-magistrado.

Antes de desocupar o gabinete 482 do Anexo 2 da Câmara dos Deputados e se instalar no gabinete presidencial, localizado no 3º andar do Palácio do Planalto, Bolsonaro ficou praticamente alojado na sede do CCBB brasiliense. Por lá, ao longo de oito semanas, o grupo do futuro mandatário do país construiu diretrizes e medidas que devem ser adotadas a partir de 1º de janeiro de 2019.

Daniel Ferreira/Metrópoles
CCBB Brasília – sede da transição governamental

 

O CCBB foi adaptado para receber o presidente eleito e sua equipe. Parte do primeiro andar do prédio principal foi destinado às atividades exclusivas de Bolsonaro e futuros ministros. Detectores de metal e grades também alteraram a paisagem do ambiente, destinado à cultura e ao lazer de brasilienses e turistas.

O acesso do público a um museu do CCBB foi bloqueado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Apesar de Bolsonaro ocupar o Palácio do Planalto a partir de 2 de janeiro, a segurança no centro cultural ficará reforçada até pelo menos o próximo dia 5.

No CCBB, Bolsonaro teve à sua disposição 22 gabinetes; recepção; auditório; salas de espera e de reuniões dos grupos técnicos, de coordenação, administração, gestão interna e assuntos jurídicos. Para trabalhar nesse espaço, o presidente eleito teve direito a indicar até 50 nomes, com salários de R$ 2.585,13 a R$ 16.581,49.

A função do gabinete de transição foi a de fornecer informações à futura equipe do Executivo nacional sobre o funcionamento da administração pública federal, como contas, implementação de medidas, resultados, preparação de atos para a nova gestão, entre outros temas.

Assista vídeo sobre os bastidores da transição:

Relação com a imprensa
Embora avesso a debates e a um contato maior com jornalistas, Bolsonaro não adotou postura que atrapalhasse o trabalho da imprensa. Os profissionais de comunicação deslocados para a cobertura no CCBB tiveram acesso aos ministros, à área reservada para entrevistas e ao comitê – bem estruturado para desempenharem suas funções.

A aversão à imprensa, no entanto, voltou a se acentuar após a revelação do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou transações financeiras suspeitas de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro, deputado estadual pelo Rio de Janeiro, senador eleito e filho do próximo presidente da República. Fabrício Queiroz, que atuava como motorista e segurança de Flávio, teria movimentado mais de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

À época das transações, Queiroz recebia um salário de R$ 23 mil. Além disso, repassou R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama, de acordo com o documento do Coaf. O ex-assessor indicou para atuar no gabinete do deputado estadual a mulher, duas filhas, a enteada e o ex-marido da atual esposa.

Questionado sobre o caso, Bolsonaro se calou diante da imprensa que atuou no CCBB. O próximo mandatário do país passou a se limitar, a partir do episódio, a entrar no carro sem atender as demandas dos jornalistas.

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Hábitos dos ministros
Ao longo dos dois meses de transição governamental, jornalistas foram apresentados aos estilos dos 22 futuros ministros de Estado do país. Repórteres, fotógrafos e cinegrafistas testemunharam, por exemplo, a indisposição de Ernesto Araújo (Relações Exteriores) em atender a imprensa, e o oposto com Osmar Terra (Cidadania) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que concederam entrevistas quase diariamente, sempre com disposição e bom humor.

Confira o perfil e a trajetória dos ministros escolhidos por Jair Bolsonaro:

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Baixo apelo popular
As semanas de trabalho no CCBB Brasília foram marcadas por raros momentos de apoio popular ou protestos contra o presidente eleito. Apesar do peesselista ter conquistado mais de 57,8 milhões de votos nas urnas em outubro, poucos eleitores se dispuseram a comparecer à sede da transição para tentar uma foto ou registrar em vídeo a chegada de Bolsonaro. Em uma dessas ocasiões, apoiadores levaram uma faixa e tentaram mostrá-la ao militar da reserva (imagem abaixo).

Rafael Carvalho/Governo de transição
A presença de apoiadores do presidente eleito foi tímida durante o governo de transição. Grades e seguranças impediram contato mais próximo

 

Apenas três manifestações contrárias foram vistas. Em um dos casos, uma historiadora adentrou o espaço reservado à imprensa e proferiu ofensas contra Bolsonaro. Em outro momento, o trompetista Fabiano Leitão tocou músicas em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Siva (PT) e protestou contra o futuro líder do Brasil (vídeo abaixo). Houve também uma visita da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib): indígenas dançaram do lado de fora do CCBB e entregaram uma carta com demandas a membros do governo de transição.

 

Um dos momentos de maior tietagem no CCBB ocorreu durante visita do apresentador de televisão Carlos Massa, o Ratinho. Ele acompanhava o filho e governador eleito do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que tinha encontro marcado com Jair Bolsonaro. A estrela do SBT parou para tirar fotos com funcionários do local (foto abaixo).

Ian Ferraz/Metrópoles

 

Resultados
Fruto das 8 semanas de transição, o governo de Bolsonaro preparou um material com seu cronograma de metas para o início da gestão. Os objetivos foram estipulados em prazos de 10, 30, 60, 90 e 100 dias. Além das prioridades, o documento traz informações sobre posse, benefícios a serem concedidos aos integrantes da gestão e governança, atos administrativos e recomendações sobre ética/integridade que devem nortear o comportamento da nova cúpula do Executivo federal.

Entre as medidas que serão cobradas por Bolsonaro, estão a revisão e a possível revogação de atos adotados pelo atual presidente, Michel Temer (MDB), nos últimos dois meses. Isso deverá ser feito já nos 10 primeiros dias do novo governo para “avaliação de aderência aos compromissos da nova gestão”, conforme orientação da equipe mais próxima do presidente eleito.

Bolsonaro quer que cada um dos seus 22 ministros eleja uma matéria para se dedicar e implantar já nos 100 dias iniciais de governo. “Em 30 dias, os ministérios deverão elaborar os atos normativos necessários à concretização das propostas eleitas como prioritárias e, dentro de 60 dias, a proposta deverá ser submetida à Casa Civil”, diz o documento.

Confira, abaixo, as metas estipuladas pela equipe de Bolsonaro para o início do governo:

  • 10 dias: nomeação de cargos-chave; conhecer o modelo de governança do órgão; elaboração do plano de governo; identificar as propostas prioritárias; preparação de reuniões de alinhamento; e reuniões com servidores comissionados.
  • 30 dias: revisar o modelo de governança de seus órgãos; apresentar ideias de pautas legislativas; enviar atos normativos prioritários; consultar acórdãos do Tribunal de Contas da União (TCU) pendentes de solução.
  • 60 dias: revisão de comitês e conselhos que os órgãos fazem parte; enviar à Casa Civil os atos normativos prioritários; enviar relatórios de gestão para o TCU e iniciar balanço de 100 dias de gestão.
  • 90 dias: encaminhar balanço de 100 dias de gestão à Casa Civil e levar ao Comitê de Monitoramento e Avaliação dos Subsídios da União (CMAS) lista de políticas públicas financiadas por subsídios da União que a pasta entende que necessitam ser avaliadas.

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