Avanço de Bolsonaro entre os mais pobres pode ameaçar o lulismo, diz Singer
“É como se as pessoas tivessem saindo do programa lulista e entrando num programa bolsonarista”, afirma ex-porta voz do governo Lula
atualizado
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Porta-voz da presidência da República entre 2003 e 2007, durante boa parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o cientista político e jornalista André Singer avalia que a gestão recente de Jair Bolsonaro (sem partido) tem ameaçado o conceito de lulismo.
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada neste domingo (9/8), Singer destaca uma “mudança de rumo” no governo Bolsonaro com a chegada do auxílio emergencial de R$ 600, pago a famílias de baixa renda durante a pandemia, e a possível reformulação do programa Bolsa Família.
“O governo fez uma proposta que foi inteiramente revertida pelo Congresso e acabou, por meio dessa proposta, atingindo um eleitorado que nunca tinha sido base do bolsonarismo. O governo Bolsonaro nunca foi próximo do Nordeste. Parece claro que algo está acontecendo”, disse.
Segundo ele, a mecânica de pagamento do auxílio emergencial fez com que as pessoas tivessem que abrir mão do Bolsa Família. Até o momento, o governo federal pagou o auxílio de R$ 600 a mais de 67 milhões de pessoas. Desse total, quase 20 milhões são do Bolsa Família.
“É como se as pessoas tivessem saindo do programa lulista e entrando num programa bolsonarista. O governo começou a pensar numa estratégia inteligente, mas depende de ter recursos, que é fazer com que as pessoas não voltem mais para o Bolsa Família, mas entrem direto no Renda Brasil“, prosseguiu.