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Análise: sem entender de economia, Bolsonaro faz política no BNDES

Presidente derruba Joaquim Levy da presidência do banco e reforça impressão de que toma decisões com base em preconceitos e implicâncias

atualizado

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Valter Campanato/Agência Brasil)
Joaquim Levy
1 de 1 Joaquim Levy - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Desde a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) permite-se dizer que nada entende de economia. Em debates na TV, encaminhou as questões sobre o tema para Paulo Guedes, o “posto Ipiranga”, transformado em ministro responsável pelo setor.

Depois da posse, porém, Bolsonaro imiscuiu-se mais de uma vez nos assuntos da área como se dominasse os conceitos e as ferramentas disponíveis para a condução da economia do país. Em abril, por exemplo, uma interferência do presidente fez a Petrobras desistir de aumentar o preço dos combustíveis.

O objetivo, na ocasião, foi atender a uma reivindicação dos caminhoneiros. Mas, com essa atitude, Bolsonaro deu um sinal contraditório em relação à diretriz de não intervenção na estatal, sinalizada pela equipe liberal de Guedes. A medida assustou o mercado financeiro e, em particular, os acionistas da empresa.

No último sábado (15/06/2019), o presidente voltou a ingerir-se na área ao anunciar descontentamento com o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy (foto em destaque). Em entrevista coletiva, ele afirmou que o dirigente da instituição de fomento estava com a “cabeça a prêmio” por manter na equipe um ex-integrante dos governos do PT, Marcos Barbosa Pinto.

Levy pediu demissão no dia seguinte. Para o seu lugar, o governo anunciou a nomeação de Gustavo Montezano, antes no cargo de secretário especial adjunto de Desestatização do Ministério da Economia. Segundo o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, Bolsonaro tem a expectativa de que seja aberta a “caixa-preta” do banco para se identificar a aplicação dos recursos nas administrações anteriores.

O tratamento dado a Levy por Bolsonaro e Guedes – que não o defendeu – foi criticado no Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o gesto foi “de uma covardia sem precedentes”.

Aliado do Palácio do Planalto, o deputado Alexandre Frota (PSL-SP) também reclamou da atitude do presidente e creditou a decisão à influência do escritor Olavo de Carvalho no governo. “Depois que esse rato [Olavo] faz o serviço sujo, entram os miquinhos amestrados nas redes. Bom, aí entra o rei [Bolsonaro] e manda embora de um jeito absurdo”, escreveu o parlamentar em sua conta no Twitter.

Ao apontar o dedo para Olavo, Frota chama a atenção para o peso ideológico nas decisões de Bolsonaro. Se, de fato, não entende de economia – o que ninguém duvida –, o presidente demonstra não ter pudores em usar as instituições da área para fazer política.

Foi assim ao barrar o aumento dos preços dos combustíveis para agradar aos caminhoneiros. Não havia qualquer justificativa técnica para se desautorizar o aumento decidido pela Petrobras.

No caso do BNDES, Bolsonaro foi explícito ao atribuir sua insatisfação ao fato de Levy e Barbosa Pinto terem participado dos governos do PT. Nesse episódio, nem se pode dizer que foi uma decisão ideológica, pois o agora ex-presidente do banco pertence à mesma escola liberal de Guedes.

Trata-se, portanto, de uma questão meramente política, ancorada em um preconceito com ex-integrantes de administrações do PT. Assim como no caso dos caminhoneiros, o presidente pautou-se por suas implicâncias, não pelos interesses da economia do país.

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