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Transferências a ex-motorista eram perto do dia de pagamento na Alerj

Há um padrão nos depósitos feitos na conta de antigo assessor de Flávio Bolsonaro, além das datas: os valores se repetem ou são aproximados

atualizado

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Reprodução/Facebook
Fabrício Queiroz
1 de 1 Fabrício Queiroz - Foto: Reprodução/Facebook

 

Mais da metade dos depósitos em espécie recebidos por Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-motorista do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) –, aconteceram no dia do pagamento dos funcionários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ou até três dias úteis depois. É o que informa reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, com base em análise do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Segundo a reportagem, o estudo apontou movimentações atípicas em contas de assessores e ex-servidores do legislativo: 34 das 59 operação financeiras seguiram a mesmo padrão. O restante ocorreu em até uma semana.

O jornal identificou que 15 depósitos em espécie na conta de Queiroz ocorreram nos mesmos dias de pagamento dos servidores da Alerj em 2016. Segundo o texto, as datas variaram a cada mês, por causa da crise do Rio de Janeiro, que levou a atraso nos salários, mas foram mapeadas através do cruzamento do relatório do Coaf com o cronograma de pagamentos da assembleia fluminense. Outros 19 depósitos na conta de Queiroz ocorreram em até três dias úteis após os funcionários receberem seus vencimentos.

Ainda conforme a apuração, os valores depositados mensalmente também se repetem ou são aproximados. Investigadores analisam se há padrão nas ações, em valores ou periodicidade. O veículo lembra que outra reportagem, da Folha de S. Paulo, mostrou que logo após receber os valores, Queiroz teria realizado saques em espécie em quantias aproximadas às que haviam entrado em sua conta.

Como exemplo, a reportagem lista que, em 12 de janeiro de 2016, data de pagamento na Alerj, o então assessor recebeu três depósitos em espécie, nos valores de R$ 4.400, R$ 5.566 e R$ R$ 1.771. Outra sequência é vista em 14 e 15 de abril, novamente pagamento na Alerj: na primeira data Queiroz teria recebido R$ 7.400 em sua conta; no seguinte, mais R$ 1.771 e R$ 4.300. No mês seguinte, os servidores da Alerj receberam no dia 11, data na qual teriam sido feitos três depósitos para o ex-motorista, nos valores de R$ 1.771, R$ 3.071 e R$ 1.000. Um dia depois, nova transferência: R$ 6.300. Em 16 de maio, mais R$ 1.160.

Segundo a publicação, padrões que se repetiram em junho e novembro, mas o relatório do Coaf não identifica quem foi o responsável pelos novos depósitos. No relatório preliminar da operação Furna da Onça, que investiga a corrupção no Legislativo carioca, a delegada Xênia Ribeiro Soares citou a suposta existência de esquema de funcionários fantasmas e auxílio-alimentação que seriam repassados pelos servidores dos gabinetes aos deputados.

De acordo com a delegada, o procedimento foi mapeado no gabinete do deputado estadual Paulo Melo, preso pela operação, mas já foi “identificada em outros gabinetes e que se afigura como uma prática criminosa disseminada na Alerj”: “As informações apresentadas são de máxima gravidade e demandam uma enérgica resposta da Justiça”, assinala a investigadora.

Depoimento
Está marcado para a próxima semana depoimento do ex-motorista ao Ministério Público do Rio de janeiro. O Estado apurou que as transações entre funcionários do Legislativo estão entre os motivos que levaram os bancos a classificar as movimentações como atípicas e a advertir o Coaf a seu respeito: o conselho também concluiu que as operações eram atípicas. O relatório indicou que pelo menos nove funcionários e ex-funcionários do gabinete de Flávio fizeram operações (depósitos ou recebimentos) na conta do ex-motorista e ex-segurança do deputado. Entre elas, estão as filhas de Queiroz, Nathalia e Evelyn Melo de Queiroz, e a sua mulher, Marcia Oliveira de Aguiar.

Por fim, a reportagem registra que o dinheiro depositado na conta de Queiroz, às vezes, superava o valor do salário do então assessor. Houve casos nos quais a maior parte do que o funcionário recebeu foi parar na conta do então motorista e segurança de Flávio Bolsonaro.

Outro lado
A assessoria do senador eleito ressaltou, em nota encaminhada ao Estadão, que não é investigado “no assunto relacionado ao ex-assessor (Fabrício) Queiroz, visto que não praticou qualquer ilícito em sua atividade parlamentar”. Segundo o texto, o deputado “segue à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades, se instado for” e “espera ver, dentro dos trâmites legais, a completa resolução do caso pelas autoridades competentes o mais rápido possível, pois é o principal interessado em que tudo se esclareça o quanto antes.”

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