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Ministro da Cidadania escolhido por Bolsonaro foi militante do PCdoB

Osmar Terra fez parte de base comunista na UFRJ no início da década de 1970. Colegas dele na universidade foram mortos pela ditadura

atualizado

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Valter Campanato/Agência Brasil
Osmar terra
1 de 1 Osmar terra - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), faz do anticomunismo uma de suas bandeiras políticas mais ostensivas. De forma genérica, o capitão reformado costuma se referir a integrantes de partidos de esquerda como “vermelhos” e a militantes contra a ditadura como “terroristas”.

Na montagem do futuro governo, no entanto, pelo menos um ex-comunista foi escalado para a Esplanada. Anunciado para o Ministério da Cidadania, o deputado Osmar Terra (MDB-RS) fez parte da base do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no início da década de 1970.

Documentos militares confidenciais guardados pelo Arquivo Nacional (veja cópias abaixo) e aos quais o Metrópoles teve acesso com exclusividade registram a atuação de Terra na organização de esquerda. Na época, o PCdoB funcionava na clandestinidade e era perseguido pelos agentes de repressão da ditadura.

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O nome de Osmar Gasparini Terra aparece, por exemplo, na relação de 114 “elementos envolvidos em atividades subversivas” citados por militantes do PCdoB presos pelos militares. Essa lista foi anexada ao Relatório Informação nº 01131/73/ARJ/SNI, com data de 4 de abril de 1973, produzido pelo Serviço Nacional de Informações (SNI).

Ao lado do nome do futuro ministro da Cidadania, entre parênteses e aspas, foi grafada a expressão “Cesar”, o que seria o codinome do estudante dentro do partido. O uso de nomes falsos era um procedimento adotado pelas organizações clandestinas para dificultar a identificação pelos organismos de repressão.

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Outra referência ao futuro ministro foi feita em um relatório sobre o depoimento de um militante do PCdoB. Nesse caso, Terra é citado em uma lista de 10 nomes de “elementos” presentes em reuniões do partido.

Datado de 8 de fevereiro de 1974 e com cabeçalho do Destacamento de Operações de Informação (DOI) do I Exército, com sede no Rio de Janeiro, o documento atribui ao atual deputado o codinome “Comprido”.

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Outro detalhe importante nessa lista é a citação a Antônio Teodoro de Castro, militante do PCdoB. Depois de morar no Rio de Janeiro, ele participou da Guerrilha do Araguaia, implantada pelo partido no Pará, onde foi morto pelos militares. Hoje, é um dos mais de 200 opositores desaparecidos durante a ditadura.

Estudante de medicina, Osmar Terra teve outros contemporâneos mortos nos anos de chumbo. O PCdoB era influente na universidade, e de lá saíram vários militantes para a guerrilha comunista. Estudaram na UFRJ, por exemplo, Adriano Fonseca Filho, Antônio de Pádua costa, Maria Célia Corrêa e o casal Arildo e Áurea Valadão.

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Outro político que atuou no Rio de Janeiro, no mesmo grupo do atual deputado, foi o ex-ministro da Defesa Jaques Wagner. Na época, Wagner mudou-se para a Bahia, onde fez carreira política.

Terra deixou o PCdoB tempos depois desses episódios. O Metrópoles fez contato com a assessoria do deputado no início da noite dessa quarta-feira (28/11) para ouvi-lo a respeito de como ele avalia hoje a militância da juventude e, também, o que pensa sobre o fato de fazer parte da equipe de um presidente declaradamente defensor da ditadura. Até o fechamento desta reportagem, o parlamentar não havia se manifestado.

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