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Bolsonaro diz que documentos oficiais sobre mortes na ditadura são “balela”

Chefe do Executivo declarou que duvida do trabalho feito pela Comissão da Verdade sobre mortos e desaparecidos no período militar

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro
1 de 1 O presidente Jair Bolsonaro - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a fazer declarações a respeito do desaparecimento de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. O chefe do Executivo disse que os documentos da Comissão da Verdade ou os produzidos durante a ditadura não comprovariam nada sobre a morte de Fernando.

Para Bolsonaro, os documentos produzidos sobre mortos e desaparecidos no período da ditadura são “balela”. “Nós queremos desvendar crimes. Sobre a questão de 64, não há documentos de ‘matou, não matou’, isso é balela”, afirmou.

O mandatário da República duvidou também da veracidade do trabalho da Comissão. “Quem aqui acreditar?”, perguntou aos jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada, na manhã desta terça-feira (30/07/2019). O presidente insinuou que os integrantes do colegiado formado para apurar os crimes ocorridos na ditadura não seriam imparciais por terem sido escolhidos pela ex-presidente Dilma Rousseff.

“Você acredita em Comissão da Verdade? Qual foi a composição da Comissão da Verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma [Rousseff]. Não vou discutir esse assunto”, encerrou.

A Comissão da Verdade foi um colegiado instituído pelo governo brasileiro, em 2012, para investigar as violações de direitos humanos que aconteceram entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, concentrando os esforços na ditadura militar. Foram identificados 434 casos de mortes e desaparecimentos de pessoas sob a responsabilidade do Estado brasileiro referente àquele período.

O presidente da OAB é filho de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974 depois de ter sido preso por agentes do DOI-Codi no Rio de Janeiro. Estudante de direito, ele integrava a Ação Popular Marxista Leninista. Era funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo.

Bolsonaro buscou elencar crimes que, em seu entender, se equiparam aos cometidos durante a ditadura militar. “Vamos recordar um pouquinho, vamos lá. Celso Daniel [prefeito de Santo André, filiado ao PT, morto em janeiro de 2002, em Juquitiba, São Paulo]. Quem foi o advogado? Greenhalgh [ex-deputado pelo PT de São Paulo]”, relatou.

Entenda
Nessa segunda-feira (29/07/2019), ao criticar a postura da OAB em relação à investigação sobre o atentado à faca que sofreu durante a campanha eleitoral, Bolsonaro disse que, se o presidente da ordem quisesse saber como o pai dele desapareceu, ele contaria.

A declaração provocou reação em várias entidades. Felipe Santa Cruz afirmou que Bolsonaro agia com “crueldade” e adiantou que vai ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir explicações do presidente da República.

Trabalhos no Congresso
Antes de deixar o Alvorada, o chefe do Executivo se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na ocasião, ele disse que conversou com o parlamentar sobre a reforma da Previdência, mas sem detalhar quais pautas seriam prioritárias para o governo no segundo semestre de trabalho da Câmara dos Deputados.

Há uma grande expectativa do mercado em relação à volta dos trabalhos no Congresso na próxima semana. Além da votação em segundo turno da reforma da Previdência, espera-se o início de uma reforma tributária, tanto no Senado, quanto na Câmara, assim como medidas provisórias que correm prazo para votação. Duas delas editadas em julho, a exemplo da que define cargos para o Departamento de Patrimônio da União (DPU) e outra com novas regras para saque do FGTS.

Há também uma expectativa em relação à medida conhecida como da liberdade econômica que vem sendo tratada como uma minirreforma trabalhista. Nesse contexto, as declarações recentes de Bolsonaro são tidas no mercado como desestabilizadoras, na medida em que podem ocupar as discussões na Câmara e no Senado.

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