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Governo Bolsonaro só enviou flores fúnebres a uma pessoa desde 2019

Desde que tomou posse, o presidente Jair Bolsonaro somente enviou coroas para o velório do ex-aliado Arolde de Oliveira, vítima da Covid-19

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Presidente Jair Bolsonaro
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Desde que tomou posse como presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) enviou coroa de flores somente após a morte de uma pessoa. O homenageado foi o senador Arolde de Oliveira (PSD), vítima de complicações causadas pela Covid-19, em outubro do ano passado.

Arolde era aliado de Bolsonaro e defendia pautas em comum com o chefe do Executivo federal do país, como a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, a redução da maioridade penal, a redução do número de parlamentares e posições contra a legalização do aborto e das drogas.

O senador também era a favor do uso da cloroquina no tratamento da Covid e chegou a dizer que o isolamento social era “inútil”. Ele foi o único a receber a homenagem póstuma do presidente.

A informação foi obtida pelo Metrópoles por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A reportagem solicitou quem foram os homenageados com flores fúnebres desde 2016 pela Secretaria de Administração da Presidência da República, responsável por esse serviço .

A homenagem com coroas fúnebres a autoridades e figuras públicas de destaque é praxe nos Três Poderes. Em setembro deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por exemplo, abriu licitação do mesmo tipo. A Corte previu a aquisição de 30 coroas, que serão entregues em caso de falecimento de autoridades do país. O valor total do pregão, na época, foi de R$ 10.569,75 – ou seja, cada unidade custará, em média, R$ 352,32, valor individual bem abaixo do previsto na licitação do Planalto.

Nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2021, nenhuma pessoa recebeu essa deferência oficial. Em 2016, quando Dilma Rousseff e Michel Temer ocuparam a cadeira presidencial devido ao processo de impeachment, seis pessoas receberam as homenagens póstumas da Presidência. Veja abaixo a lista dos agraciados:

  • João Luiz Duarte de Abreu, pai da ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Kátia Abreu: coroa fúnebre entregue em 17/03/2016;
  • Francisco Pereira Nascimento, pai do ex-deputado federal Alfredo Nascimento: coroa fúnebre entregue em 21/03/2016;
  • Josefa Iracelli Santiago, ex-secretária da Fazenda do estado do Tocantins: coroa fúnebre entregue em 28/03/2016;
  • Maria Aparecida de Siqueira Garcia, juíza aposentada e mãe do ex-prefeito de Goiânia Paulo de Siqueira Garcia (PT): coroa fúnebre entregue em 24/04/2016;
  • José Arai da Silva Soares, vereador do município de Eldorado (SP): coroa fúnebre entregue em 26/09/2016;
  • Don Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo: coroa fúnebre entregue em 15/12/2016.

Apesar das poucas homenagens, a Presidência abriu licitações neste ano e fechou a compra potencial de 24 coroas fúnebres, que incluem flores e plantas de variados tipos. Segundo o edital, aberto em 9 de março, as coroas devem ser de “tamanho grande, medindo no mínimo 200 cm de altura por 150 cm de largura, com, no mínimo, 200 flores nobres de 1ª qualidade, tipo: callas, narciso, jacinto, rosa, copo de leite, lírio, gérbera, lisianto, íris, tulipa, girassol, estrelícia, antúrio vermelho e verde, astromélia, boca de leão, gipsofila, gladíolo (palma), cravo, orquídea”.

O vencedor também fica com a obrigação de entregar metade das homenagens no Distrito Federal, e o restante nos outros estados do país.

Segundo o site comprasnet, portal em que as entidades governamentais publicam as tramitações dos pregões de licitações, o valor total da negociação das coroas foi de R$ 30.720, e cada unidade foi adquirida por R$ 1.280. A vigência do contrato é de um ano.

A empresa Internacional Comércio de Flores e Plantas Ltda., localizada em Brasília, foi a vencedora. Por mensagem, a companhia afirmou “não poder fornecer a informação” daqueles que receberam as homenagens presidenciais.

Com uma modesta fachada em um galeria na Asa Sul do Plano Piloto, a pequena loja foi a única a enviar proposta para o pregão deste ano. Em julho e novembro do ano passado, dois pregões solicitando a mesma quantidade de flores foram feitos, mas nenhuma empresa enviou propostas para o fornecimento.

Homenagens presidenciais

O presidente prestou homenagens a outras personalidades por meio de publicações em redes sociais. Em alguns casos, os posts tornaram-se alvo de polêmicas.

Em 2019, o presidente lamentou a morte de Tales Volpi, 26 anos, conhecido como MC Reaça. O artista ficou conhecido após produzir jingles para a campanha do chefe do Executivo federal nas eleições ocorridas no ano anterior. Parte da controvérsia se deu pela desigualdade na reação à morte de outro artista na mesma semana, um dos criadores da Bossa Nova, o cantor João Gilberto.

Em rede social, Bolsonaro afirmou que Volpi seria “lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil”. A polêmica tornou-se ainda mais intensa porque o MC havia sido acusado de ter agredido uma mulher com quem mantinha um caso extraconjugal, espancada após supostamente ter lhe informado que estava grávida.

A gravidez, que teria motivado as agressões, foi descartada em exames feitos no Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), de Indaiatuba, onde a mulher esteve internada.

Sobre a morte de João Gilberto, Bolsonaro comentou na ocasião: “Era uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?”. A resposta foi dada após questionamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo.

Outra figura que também não recebeu nenhuma homenagem presidencial foi o ex-aliado de Jair Bolsonaro e ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno. Coordenador da campanha presidencial de Bolsonaro em 2018, Bebianno morreu aos 56 anos em Teresópolis (RJ), vítima de um infarto fulminante.

Ele rompeu com o presidente após denúncias de candidaturas-laranja no PSL, partido que chegou a presidir. Depois disso, tornou-se crítico ao bolsonarismo e disse, em mais de uma ocasião, que teria segredos a revelar sobre as eleições de 2018.

Vítima de complicações da Covid-19 neste ano, o ator Paulo Gustavo recebeu nota de pesar de Bolsonaro, mas a mensagem não foi bem-recebida pela família do humorista.

“Essa boca que disse não à vacina e condenou tantos à morte, essa mesma boca que debochou imitando pessoas com falta de ar, pessoas que viveram o horror que meu irmão viveu, não pode ser usada para pronunciar o nome dele nem lamentar a morte de todos os vitimados pela Covid”, desabafou a irmã de Paulo Gustavo na época. Na ocasião, o país contabilizava quase 500 mil mortes pela pandemia, número que chegou a 602.099 vidas perdidas nesta semana.

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