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Peregrinos da fé: sobreviventes da Covid-19 pagam promessas em Aparecida após cura

Devotos de Nossa Senhora Aparecida caminham longas distâncias para agradecer à padroeira do Brasil por cura após batalha contra a Covid-19

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
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1 de 1 071021 FV_Peregrino_Aparecida_Senhor_Barreto_SP 015 - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Rio de Janeiro – O Brasil se aproxima de 22 milhões de casos confirmados de Covid-19 e alcançou a triste marca de 600 mil mortos na sexta-feira (8/10). O vírus invadiu lares e deixou famílias arrasadas. Nesse sentido, ter se curado da doença é um grande motivo para agradecer.

Nesta terça-feira (12/10), Dia de Nossa Senhora Aparecida, devotos da padroeira do Brasil que superaram a doença ou tiveram familiares acometidos pela enfermidade estão no Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, para orar e expressar gratidão.

Eles saíram de diversas regiões do país em peregrinação por estradas e enfrentaram calor e chuva para chegar ao destino.

O segurança Cícero Barreto, 49 anos, cresceu em uma família católica e é devoto de Nossa Senhora Aparecida. Em março deste ano, ele contraiu a Covid-19 e precisou ficar 23 dias internado na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde mora com a esposa, Lindalva, e duas filhas, Aline, 15, e Ana Beatriz, 12.

Recuperado, Barreto, como é conhecido, estará na basílica pela primeira vez.

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Em entrevista ao Metrópoles, ele contou que, em 20 de março deste ano, foi ao médico, sentindo muito cansaço. Tomou a medicação indicada, mas, com o passar dos dias, não houve sinal de melhora.

Foi quando Barreto resolveu ir ao hospital e fazer alguns exames, que detectaram a Covid-19. No mesmo dia, o trabalhador foi internado. Ele não chegou a ser intubado, mas não podia receber visitas da família. Nesse período, a devoção pela padroeira o ajudou a superar o momento difícil.

“Essa doença foi bem complicada. Eu convivia só com os médicos e enfermeiros, ninguém da família podia ir, né? Foi difícil, mas rezei muito e o reencontro foi muito bom, graças a Deus. A gente fica feliz e contente quando sai do hospital, com a família junto”, relatou.

Caminhada com amigos

Barreto se deslocou para Aparecida com amigos que costumam marcar presença no local todos os anos. Ele nunca havia tido a oportunidade de ir por causa do trabalho, mas desta vez conseguiu tirar férias para estar na basílica.

O grupo fez caminhadas de treinamento para, segundo Barreto, “não sofrerem tanto”. Começaram com 20 quilômetros e, depois, dobraram para 40. “É um grupo muito bom, muito forte, só amizade de primeira linha. Só anda mesmo aqueles que são realmente amigos de fé e de coração”, falou.

O analista de sistemas Mardey Argolo, 40 anos, também sobreviveu à Covid-19 e seguiu em direção a Aparecida com o objetivo de agradecer. Uma caminhada de 170 quilômetros.

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Morador da capital paulista, ele fez o teste para detecção da Covid-19 quando outros familiares ficaram doentes. O resultado foi positivo e, inicialmente, ele ficou de repouso em casa. Porém, com o passar dos dias, a febre baixa não passava, mesmo com o uso de antitérmicos, e ele tinha momentos de intensa falta de ar.

Asmático, Mardey resolveu ir ao hospital, mas, antes, fez uma promessa à divindade. “Foi nessa hora que bateu no meu coração a promessa de fazer a peregrinação a pé até a santa. Fiz um estandarte com a imagem da Sagrada Família e estou levando até lá. Pretendo fazer isso por mais nove anos”, contou ao Metrópoles.

Ele ficou internado por alguns dias e, numa ocasião, uma tia também pediu a São José que o sobrinho melhorasse. “Ela falou: ‘Fique em paz, eu sei que você vai ficar bem. Você vai se recuperar’. Aquela palavra naquele momento me acalmou bastante, porque ver que tem alguém rezando por você é bom. A gente fica muito debilitado”, disse Mardey.

Certo dia, um membro da equipe médica pediu para que Mardey se levantasse, e ele o fez como se não estivesse doente. “Praticamente pulei da cama. Naquele momento, me deu uma emoção e percebi que da mesma forma que a doença veio muito rápido ela também foi embora. Depois disso, eu fiquei em observação e melhorei aos pouquinhos. Nos três meses seguintes, houve uma série de pequenas dificuldades, dores por cansaço, mas graças ao bom Deus, estou com força aqui para cumprir essa promessa”, comemorou.

Orações por familiares

Mesmo sem terem enfrentado uma infecção por Covid-19, muitos devotos tiveram familiares acometidos pela doença e também estão em Aparecida para agradecer.

É o caso da paulista Marcela Colis Cabral, de 34 anos, que, assim como Mardey, integra a Associação dos Amigos da Rota da Luz, que parte de Mogi das Cruzes.

No ano passado, o tio dela, o analista de crédito e cobrança Ivair Viana Marques, 53, ficou 90 dias intubado por complicações da doença, sendo 45 deles em coma. Os familiares chegaram a ser chamados ao hospital para se despedir, porque o homem já havia perdido 80% de massa muscular e a pressão chegou a 6 por 3.

Foi quando Marcela, mãe de uma menina de 1 ano, fez uma oração para Nossa Senhora Aparecida. “Naquela noite, eu pedi para que ela [a santa] enviasse a Deus o meu pedido e tirasse meu tio daquela situação, que todas as pessoas que eu amo ficassem bem. Hoje, meu tio voltou a trabalhar, está bem, graças a Deus. Ele só tem uma sequela em um dos pés”, contou Marcela.

A advogada Andrea Santoli, 42 anos, que vai uma vez ao ano a Aparecida também passou por momentos difíceis. Ela mora com o marido, Edison Argel, e as filhas Rafaela, 16, e Laís, 8.

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Em agosto, a mais velha contraiu o novo coronavírus e passou o aniversário doente. Os amigos e o namorado dela cantaram “parabéns” da quadra do condomínio, a distância.

Andrea contou ao Metrópoles que a Covid-19 fez a rotina da família virar de ponta-cabeça, pois a caçula tem asma e poderia ter complicações caso contraísse o vírus.

“A Rafa ficou em casa quando testou positivo, totalmente isolada no quarto. Nós entrávamos no quarto para entregar alimentação, ela usava um banheiro específico, porque tenho uma filha pequenininha, de 8 anos, que tem asma. Então, a nossa preocupação era com ela, que não poderia ser infectada. Mas ninguém mais da casa teve a doença”, contou.

Expectativas

Também peregrinos da Rota da Luz, Andrea Santoli e Edison Argel estiveram no Santuário Nacional de Aparecida e encontraram um cenário diferente de anos anteriores. Não houve missas, e salas específicas, como a das velas, ficaram fechadas. Os romeiros foram abençoados a distância devido à Covid-19.

“Tenho uma recordação desde muito pequena de visitar a Senhora dos Milagres. Ir à basílica, fazer as promessas e acender a vela é algo que vem muito enraizado na minha família e eu trouxe isso para a família que construí. Vimos tudo fechado no ano passado, como as salas das velas e dos milagres… mas sentimos a energia, mesmo de longe, uma magia que envolve e só o devoto que consegue sentir essa fé. É como se fosse algo concreto, que pudéssemos pegar”, disse.

Santuário de Aparecida

Neste ano, o Santuário realiza missas em vários horários do dia e com limitações para não haver aglomerações. Há permissão de três fiéis por banco e, nas entradas, todos têm a temperatura aferida.

As medidas preventivas seguem valendo: uso de máscaras e álcool em gel. Não é necessário agendamento para assistir às celebrações, mas é recomendado que os fiéis cheguem meia hora antes nos dias de semana, e com uma hora de antecedência aos finais de semana.

Andrea diz que também estará na Basílica de Aparecida para agradecer pelos avanços da ciência que possibilitaram a chegada da vacina contra a Covid-19.

“É por isso que a gente está aqui agora: para agradecer todas as bênçãos”, definiu.

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