Brasília e São Paulo – As medidas de isolamento social também tiveram impacto na realidade do trânsito brasileiro. Durante a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o número de acidentes automobilísticos caiu, mas ainda assim o número de vítimas é alto. No país, 181 pessoas morreram no trânsito durante a crise sanitária.
De março de 2020, mês dos primeiros registros da enfermidade no Brasil, a setembro deste ano, dado mais recente disponível, 87.830 pessoas perderam a vida em colisões.
Os dados fazem parte de uma análise do Metrópoles com base em informações do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito, elaborado pela Secretaria Nacional de Trânsito do Ministério da Infraestrutura.
O panorama das mortes acompanha a tendência dos acidentes. O número de vítimas caiu de janeiro a setembro de cada ano.
No nove primeiros meses de 2020, foram 49.726 óbitos. No mesmo período deste ano, foram 28.702 — uma redução de 42,2%.
Antes da pandemia, as mortes já estavam em queda, mas em ritmo menor. Entre janeiro e setembro de 2018, por exemplo, ocorreram 55.652 mortes. No mesmo período de 2019, foram 53.432. Queda de 4%. Na comparação com 2020, nova baixa: menos 6,93%.
Na quarta-feira (27/10), o Metrópoles mostrou que de janeiro a setembro deste ano, ocorreram 390,7 mil desastres automobilísticos no país— 34% a menos que no mesmo período de 2020, quando foram 595,9 mil.
As maiores capitais do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte, registram queda nas estatísticas de acidente de trânsito.
A próxima atualização do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito, no qual a reportagem foi baseada, trará dados de outubro e uma família inteira entrará para a triste estatística.
No sábado (23/10), quatro pessoas da mesma família morreram em um acidente de trânsito na BR-116, em Capão do Leão, no Rio Grande do Sul.
Veja as mortes computadas de janeiro a setembro de cada ano:
- 2018 – 55.652
- 2019 – 53.432
- 2020 – 49.726
- 2021 – 28.702
As vítimas foram a professora de gestão de turismo da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) Adriana Pisoni, de 46 anos, o marido dela, o empresário Antônio Carlos Azambuja, de 41, e os dois filhos do casal, de 6 e 4.
A família voltava de Gravataí para Jaguarão, cidade onde moravam, quando o veículo saiu da pista, capotou e afundou em um lago na rodovia, de acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Adriana Pisoni, de 46 anos, o marido dela, Antônio Carlos Azambuja, de 41, e os dois filhos do casal, de 6 e 4, morreram em um acidente de trânsitoReprodução/Redes sociais

No sábado (23/10), quatro pessoas da mesma família morreram em um acidente de trânsito na BR-116, em Capão do Leão, no Rio Grande do Sul
Deixaram saudades em familiares e amigos. Kenya Martins, aluna de Adriana, lamenta a tragédia e lembra com carinho da disposição da professora e amiga.
“Ela era extremamente dedicada, amorosa, compreensiva, assertiva, fazia as coisas parecerem mais fáceis do que realmente eram. Estava sempre disposta a auxiliar, pegava mil tarefas e dava conta com perfeição”, recorda.
Kenya comentou brevemente a tragédia que ceifou a vida de Adriana e dos familiares. “Mês passado nos reunimos presencialmente. Comemoraremos o sucesso do último evento que organizamos e que culminou no lançamento de uma revista. Foi um momento de muita alegria, jamais imaginamos que seria o último”, disse.
Risco na retomada
O professor da Universidade de Brasília (UnB) David Duarte Lima, doutor em segurança no trânsito, considera que o total de mortos no trânsito ainda é alto e alerta: a retomada do funcionamento das cidades deve alavancar a estatística.
“Durante a pandemia, aumentou consideravelmente o número de entregadores de comida, produtos, etc. Isso coloca no trânsito mais pessoas vulneráveis: os motociclistas. Eles são os que mais morrem e os que mais ficam com lesões permanentes”, aponta.
Outro problema apontado pelo especialista é o excesso de velocidade nas ruas, sobretudo, em áreas urbanas. “Um acidente a 60km por hora é quatro vezes mais brutal que um a 30km por hora. A velocidade aumenta o risco de acidentes, de lesões graves e de mortes”, pondera.
O professor frisa que as autoridades públicas devem ter atenção na dinâmica do trânsito nos próximos meses. “Não há programas efetivos de proteção à vida no trânsito. Com o retorno [do funcionamento das cidades], a tendência é que aumente o número de acidentes, de feridos e de mortos”, vaticina.