MP vai investigar se houve execução e tortura por PMs em São Gonçalo
Diante dos relatos de moradores, Ministério Público decidiu investigar as circunstâncias das mortes de oito pessoas no Complexo do Salgueiro
atualizado
Compartilhar notícia

Rio de Janeiro – O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro vai investigar a operação conduzida pela Polícia Militar no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, após a localização de oito corpos na manhã desta segunda-feira (22/11) no trecho onde ocorreu uma ação de policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais).
Morador relata ação da PM no RJ: “Gente degolada. Vieram para matar”
O procurador-geral de Justiça do RJ, Luciano Mattos, destacou uma representação do MPRJ para ouvir os relatos de testemunhas, assim como acompanhar os exames da perícia técnica no IML.


Corpos foram encontrados após confrontos em favela de São Gonçalo Aline Massuca/Metrópoles

Ao menos oito pessoas morreram em confronto com a PM Aline Massuca/Metrópoles

Confronto iniciou após a morte de um PM baleado no sábado (20/11) Aline Massuca/Metrópoles

Mulher desmaia ao reconhecer corpo retirado do mangue Aline Massuca/Metrópoles
Além dos óbitos relacionados à operação do Bope, houve registro de um policial morto a tiros no sábado (20/11), durante um patrulhamento, por criminosos da região.
E, no domingo (21/11), uma equipe do SAMU foi chamada para socorrer um homem ferido no Complexo do Salgueiro, que não sobreviveu. De acordo com a PM, ele foi reconhecido como um dos indivíduos que participaram do ataque ao sargento morto na véspera.
Sinais de tortura
Além da quantidade de óbitos, o que chama a atenção no episódio é a descrição dos sinais de tortura e execução nos cadáveres localizados.
A reportagem do Metrópoles esteve no local e observou que entre os corpos havia um com os braços cortados.

Moradora desmaia ao reconhecer corpo Aline Massuca/Metrópoles

Moradores encontraram pelo menos oito corpos Aline Massuca/Metrópoles

Familiares e amigos se emocionam ao encontrar corpos Aline Massuca/Metrópoles

Moradores retiraram os corpos do manguezal Aline Massuca/Metrópoles

Moradores encontram oito corpos após confrontos em favela de São Gonçalo Aline Massuca/Metrópoles

Bombeiros auxiliam na retirada de corpos Aline Massuca/Metrópoles

Moradores choram as mortes ocorridas em São Gonçalo Aline Massuca/Metrópoles

Ministério Público acompanha a perícia dos corpos Aline Massuca/Metrópoles

Tenda improvisada para proteger os corpos Aline Massuca/Metrópoles

Morador relata ação da PM no RJ: “Gente degolada. Vieram para matar” Aline Massuca/Metrópoles

Policial faz a guarda dos corpos até a chegada da criminalística Aline Massuca/Metrópoles

Corpos foram retirados cobertos por plásticos no Complexo do Salgueiro Aline Massuca/Metrópoles

Moradores choram as mortes ocorridas em São Gonçalo Aline Massuca/Metrópoles

OAB cita relatos de moradores sobre sinais de tortura em corpos no RJ Aline Massuca/Metrópoles

Moradores encontram oito corpos após confrontos em favela de São Gonçalo Aline Massuca/Metrópoles

Polícia Civil realiza perícia no local Aline Massuca/Metrópoles

Policial faz a guarda dos corpos durante o trabalho da criminalística Aline Massuca/Metrópoles

Corpos foram retirados cobertos por plásticos do Complexo do Salgueiro Aline Massuca/Metrópoles

IML retira os corpos Aline Massuca/Metrópoles

Moradores pedem "Paz e socorro" Aline Massuca/Metrópoles
Essa cena brutal coincide com os relatos dos moradores que, desde o início desta manhã, começaram a resgatar os corpos espalhados por uma área de mangue num trecho do Complexo do Salgueiro.
“Tem gente torturada, gente esfaqueada, sem dedo. Tem gente degolada. Não vieram pra prender ninguém, vieram pra matar. E foi isso que eles fizeram. Eles mataram”, disse a parente de um dos mortos em depoimento ao Metrópoles.
Ela contou que seu primo estava dentro de casa quando os agentes do Bope surgiram e o levaram.
“Ele aí foi encontrado hoje dentro do mangue. O corpo dele foi retirado pelos moradores”, disse ela.
PM menciona roupas camufladas
Já a Polícia Militar afirmou que quatro dos oito homens mortos pelo Bope na área de mangue dentro da favela estavam vestidos com roupas camufladas – o que sinalizaria a participação do crime organizado local.
Sete de oito corpos foram identificados pela Polícia Civil, sendo que ao menos dois deles não tinham qualquer tipo de registro relacionado a crimes.
Operação do Bope
No último sábado (20/11), um policial foi morto na região do Salgueiro durante um patrulhamento. Na sequência, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio foi chamado ao local para fazer uma busca pelos responsáveis pelo crime.
A Polícia Militar do Rio confirmou que, após a morte do policial, uma equipe do Bope seguiu para um trecho do Morro do Salgueiro, onde, segundo informações recebidas pela PM, estaria um dos responsáveis pela ação.
OAB indica que houve tortura
De acordo com o advogado Álvaro Quintão, que integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB, os relatos dão conta de execuções com tortura dos mortos. Ele ponderou, no entanto, que os corpos ainda estão sendo analisados.
“Mesmo assim, a indicação é de que houve tortura, inclusive de pessoas inocentes, sem ligação estabelecida ou confirmada com o crime organizado”, disse Quintão ao Metrópoles.
Dos oito mortos mencionados até a tarde desta segunda-feira (22/11), um deles era um eletricista, sem antecedentes criminais e que não teria envolvimento com o crime, de acordo com Quintão.
“Os relatos de moradores e de residentes da área onde ocorreu a chacina também convergem neste sentido, de que era um homem de bem”, falou o representante da OAB.
Eletricista teve garganta cortada
O eletricista é Hélio da Silva Araújo. Ele e seu filho, que trabalhava com o pai como ajudante, estariam entre os mortos, segundo os relatos de familiares ao jornal O São Gonçalo – parceiro do Metrópoles.
“Se ele tivesse levado uma bala perdida, eu poderia aceitar, mas cortar a garganta não. Cortaram na covardia”, disse a irmã do eletricista.
Ele morava no Complexo do Salgueiro há 10 anos, segundo o relato dela. “A Justiça no Brasil é assim: infelizmente, os inocentes acabam pagando com a vida. Ele se rendeu e morreu com os braços para o alto. Isso não existe. É desumano”, afirmou a irmã.