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Mudanças climáticas: produtores rurais estão entre os mais mais afetados

Mudanças climáticas dificultam planejamento dos produtores rurais brasileiros e podem acarretar no aumento de preço dos alimentos

atualizado

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1 de 1 Imagem colorida mostra área de agricultura - Metrópoles - Foto: Flicker/Agência Brasília

A agricultura ocupa um dos papéis mais importantes para a manutenção do clima no Brasil, com a mitigação e a manutenção das reservas de florestas nativas dentro das propriedades agrícolas. Entretanto, os produtores rurais são afetados diretamente pelos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas, como a estiagem e chuvas intensas.

Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2022, alertou para a necessidade de adoção de medidas para conter os efeitos causados pelas mudanças climáticas. Entre esses impactos estão chuvas intensas, longos períodos de seca, geadas e o aumento das temperaturas.

O aumento desses eventos climáticos impactam diretamente a produção agrícola no Brasil, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles. No Rio Grande do Sul, por exemplo, produtores do município de Santiago sofrem com a falta de chuvas que dificultam a produção de soja e milho, utilizados na alimentação dos animais. A seca tem castigado bastante a região.

Tendo como carro chefe o leite, a produtora de Santiago Lérida Pivô do Pavanelly declara que a sua produção de milho, utilizada no alimento das vacas, está sendo afetada pela estiagem.

Com quase 50% de sua produção de milho perdida em sua primeira lavoura, Lérida declara que o prejuízo foi grande. “A seca está nos ajudando desde julho a agosto, mas começou a falta d’água, chuvas mais escassas. Então a gente está tendo um prejuízo ao longo de meses e agora a gente não se preocupa mais com a lavoura porque está quase tudo perdido. O que nós estamos preocupadíssimos agora é com a falta d’água para os animais.”

Lérida informou que os rios e os açudes que estão próximos da sua comunidade rural estão secando e sendo acometidos pela falta de água dos últimos meses. “A gente se sente impotente diante da situação e o que vai dando uma agonia é ver os animais pisando no pasto que não tem mais nada e ficam esperando comida”, lamentou a produtora.

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Aumento do preço dos alimentos

A gerente de clima no Instituto de Manejo e Certificação e Agrícola (Imaflora), Isabel Drigo, explica que tanto o excesso e a falta d’água são fatores que prejudicam a produção de alimentos no Brasil e que podem acarretar na escassez de alimentos para a população em geral.

“Os extremos climáticos são os principais efeitos que podem atrapalhar a agricultura. Quando você começar a ter problemas com os extremos climáticos a tendência é que tenha uma redução na oferta desses alimentos e um aumento de preço”, explica Drigo.

Para evitar que as produções rurais sejam afetadas pelos eventos climáticos extremos, Drigo e o coordenador de sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias Filho, defendem a necessidade de investimentos em atividades de mitigação climática e resiliência.

“O setor vem focando em mitigação e adaptação para que a gente consiga, a partir dos efeitos de mudanças climáticas, diminuir a emissão de carbono, investindo em resiliência e adaptação climática”, afirma Ananias Filho.

Entre as ações que podem garantir água no solo das propriedades rurais está a manutenção de áreas de reserva nativa dentro das propriedades, uma iniciativa estipulada no Código Florestal Brasileiro, de 2012.

“A vegetação nativa em uma propriedade apresenta uma proteção à produção, mas uma visão que os produtores têm de que elas são uma dificuldade ou um estorno”, declara a gerente do Imaflora.

Nelson Ananias Filho afirma que os produtores rurais precisam investir no plantio direto, fixação direta de nitrogênio, recuperação de pastagem e em atividades que usem menos máquinas agrícolas, uma vez que irá implicar na redução de combustíveis fósseis que são responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa.

Investimentos

Para auxiliar os produtores rurais e investir em novas tecnologias de plantio, o governo federal possui o Crédito Rural, financiamento destinado aos agricultores brasileiros.

Apesar do crédito facilitado para os produtores, Isabel Drigo reitera que, com os problemas relacionados aos eventos climáticos extremos, os agricultores acabam contratando um empréstimo com um juros cada vez maiores, dificultando assim a sua subsistência.

Com o maior risco de perda e o aumento dos juros o país poderá ter uma “redução de produção, mais escassez de alimentos e maior preço”, explica Drigo.

A produtora Lérida declarou que, para garantir uma produção saudável para consumo e alimentos dos animais, o governo do Rio Grande do Sul em parceria com a prefeitura firmaram uma parceria para a construção de açudes na região, mas segundo a agricultora a construção desses reservatórios de água ainda não aconteceram.

“Quem tem que fazer a licitação e coordenar o processo de abrir os açudes é a prefeitura, mas está tendo algum entrave que até agora na nossa região aqui não saiu nenhum”, declarou a produtora.

O Governo do Rio Grande do Sul informou que destinou R$ 66,3 milhões para 430 convênios para a construção de até 12 microaçudes por município.

O governo federal anunciou o investimento de R$ 430 milhões para ações de mitigação dos efeitos da estiagem no estado do Rio Grande do Sul. O montante será destinado por meio dos ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, da Agricultura e Pecuária, e do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

Para o aluguel de caminhões pipas e doações de cestas básicas e combustíveis, o governo federal destinou R$ 100. O restante do investimento será para financiamento de linhas de créditos direcionadas para pequenos agricultores da região.

Uma comitiva interministerial, aliás, esteve na região na última quinta-feira (24/2). Estiveram presentes Paulo Teixeira (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Wellington Dias (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), Edegar Pretto (da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab); e Irajá Lacerda, Secretário-executivo do Ministério da Agricultura e Pecuária.

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