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Desmate na Amazônia aumenta 55% nos primeiros 4 meses de 2020, diz Inpe

Área florestal desmatada neste ano foi de 1,2 mil km², o maior número desde 2016, início da série histórica disponibilizada pelo Inpe

atualizado

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Em meio à crise da pandemia do novo coronavírus, o desmatamento da Amazônia segue registrando recordes no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A área desmatada entre janeiro e abril deste ano foi de 1,2 mil quilômetros quadrados (km²), o maior número para o período desde 2016, início da série histórica disponível. Essa área equivale a 1/5 do Distrito Federal.

Os dados são do programa Deter-B, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram consultados pelo Metrópoles. Confira aqui.

Neste ano, o desmate disparou em 55% se comparados aos primeiros quatro meses do ano passado. Só em abril, o avanço foi de 64% em relação ao mesmo mês de 2019.

Quando comparado a 2017, que registrou o menor nível de desmatamento nesse período de cinco anos analisado, o crescimento computado neste ano é de 233%.

Veja os dados:
Análise

Em 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro, 9,8 mil km² foram desmatados da Amazônia Legal. Essa foi a maior área registrada para um ano desde 2007, quando 12,9 mil km² de árvores sumiram do mapa.

Esses números são do sistema Prodes, também do Inpe, mas que medem as áreas de desmatamento em período anual e de forma mais precisa que o Deter-B.

O diretor de Justiça Socioambiental da ONG WWF-Brasil, Raul do Valle, analisa que a elevação dos níveis de desmate nesses últimos meses se deve a um sentimento de “certeza de impunidade dos criminosos”, o que seria motivado, segundo ele, pelo atual governo.

“Essa certeza de impunidade vem de atos muitos concretos do governo federal como, por exemplo, a proibição de queimar máquinas apreendidas e a exoneração de servidores do Ibama que estavam atuando em investigações”, diz.

Levando em consideração os números dos primeiros quatro meses de 2020, Raul do Valle aponta que o sentimento é de pessimismo sobre o restante do ano. Ele considera, nesta análise, medidas defendidas pelo governo, como a Medida Provisória 910, batizada de “MP da grilagem” por ambientalistas.

O texto, que estabelece novos critérios para a regularização fundiária de imóveis da União e do Incra ocupados, não foi votado durante esta semana na Câmara dos Deputados. A pedido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a proposta será reapresentada em forma de projeto de lei (PL).

“O principal motivo do aumento do desmate é a expectativa de que atividades que hoje são ilegais serão legalizadas. A MP 910 legaliza grandes grileiros que ocuparam terras recentemente”, complementa o diretor da WWF-Brasil.

Outro lado

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu na última segunda-feira (11/05) que o desmate da Amazônia cresce desde 2012. “E essa curva de aumento vem mais forte de 2018 para frente”, completou.

Ele alega que o motivo da alta do desmate registrada nesses últimos anos é a dificuldade de fiscalização e necessidade de logística.

“Mas também a não adoção pelos últimos 20 anos de medidas que dessem alternativa econômica sustentável para a população que vive na Amazônia”, sustenta.

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, disse, por sua vez, que os “dois grandes problemas que nós temos são o zoneamento ecológico e a regularização fundiária”.

“Enquanto a gente não obtiver esses dois aspectos devidamente regulamentados na área amazônica, vamos continuar a viver nesse eterno jogo de gato e rato entre os elementos do governo responsáveis pela fiscalização e aquelas pessoas que se dedicam a praticar algum tipo de ilegalidade, seja desmatamento, queimada ou exploração”, afirmou.

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