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Mais de 5,5 mi de pessoas viajaram até outra cidade para se vacinar

Situação tem crescido por causa da diferença em grupos prioritários e na disponibilidade de imunizantes contra Covid em estados e municípios

atualizado

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Arthur Menescal/Especial Metrópoles
Vacinação no Parque da Cidade para pessoas com 66 anos ou mais e segunda dose.
1 de 1 Vacinação no Parque da Cidade para pessoas com 66 anos ou mais e segunda dose. - Foto: Arthur Menescal/Especial Metrópoles

As diferenças em grupos prioritários e na disponibilidade de imunobiológicos estão levando milhões de brasileiros a viajar em busca de vacina contra a Covid-19. De acordo com microdados do Ministério da Saúde, quase 5,5 milhões de doses foram aplicadas em pessoas que não moram na cidade em que a aplicação do imunizante foi feita.

Isso representa 16,4% do montante registrado no banco de dados no momento da análise. Do total de doses aplicadas, 1,1 milhão contemplou pessoas que não moram na unidade federativa (UF) em que a vacina foi dada. As informações foram compiladas pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles.

As doses são distribuídas por unidade federativa, levando em conta a população-alvo de cada etapa do plano de imunização. Assim, o “turismo da vacina” acaba sendo mais grave quando envolve entes da Federação diferentes. O gráfico a seguir mostra quantas pessoas saem de um local específico para conseguir imunobiológico em outra UF e a quantidade das que chegam a determinado lugar em busca da proteção contra o novo coronavírus.

O Ministério da Saúde explicou, em nota, que “a distribuição das doses é feita em etapas e segue critérios técnicos de proporcionalidade do público-alvo a ser imunizado em cada Unidade Federada (UF)”. Isso é feito “de acordo com a estimativa de população dos grupos prioritários definidos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 (PNO) e com base na quantidade de doses entregues pelos laboratórios”.

Assim, diante da escassez do produto, que tem gerado problemas na aplicação da segunda dose, municípios vêm reclamando de pessoas que estão se vacinando fora do seu local de origem. Um exemplo disso é São Gonçalo (RJ), que desde 11 de fevereiro cobra comprovante de residência para injetar o reforço.

“A Secretaria de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo pede o comprovante de residência porque a quantidade de vacinas enviadas pelo governo do estado para o município é calculada com base no público-alvo da população de São Gonçalo. O objetivo é garantir a imunização dos munícipes”, justificou a prefeitura da cidade.

São Gonçalo é parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e faz divisa, entre outros municípios, com Niterói. Por causa da exigência de comprovar moradia em São Gonçalo, niteroienses não conseguem obter a proteção contra a Covid-19 na cidade, mas o contrário é possível. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 10,7 mil são-gonçalenses foram para Niterói em busca de uma dose do imunizante.

A questão das vacinas é apenas um dos pontos de discussão entre os prefeitos das duas cidades – Axel Grael (PDT), em Niterói, e Capitão Nelson (PL), em São Gonçalo. Os dois mandatários estão em pé de guerra devido à pandemia, com Grael criticando a falta de iniciativas no município vizinho. De acordo com o pedetista, 20% dos hospitalizados com o novo coronavírus em 13 de abril na cidade eram de São Gonçalo.

Apesar da disputa, o Ministério da Saúde aponta que “o acesso aos serviços de saúde, incluindo a vacinação contra a Covid-19, deve ser garantido a toda a população brasileira, sem discriminação, conforme os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)”.

A situação é familiar para quem mora no Distrito Federal, que está encravado em Goiás. A dinâmica do local envolve muita interação com as cidades do Entorno goiano, e na saúde não é diferente. Pelo menos 28,9 mil doses aplicadas no DF foram para cidadãos goianos, enquanto 24,1 mil em Goiás se destinaram a pessoas que moram no Distrito Federal.

Diante desse panorama, recomenda-se a articulação entre os dois entes federativos. “No caso do Entorno do Distrito Federal, onde há circulação da população residente tanto do DF quanto de Goiás, o Ministério da Saúde reforça a importância de estratégias de operacionalização das ações da campanha de vacinação com articulação entre as duas unidades federadas”, assinala o órgão.

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