De Petrópolis – No mesmo ponto há 20 anos, o comerciante Amauri Madeira, 56, teve todo o seu estoque de livros submerso em 3 metros de água e lama durante 48 horas. Dono da livraria Nobel, na Rua 16 de Março, no centro de Petrópolis, ele diz nunca ter perdido nenhum produto para as enchentes. Dessa vez, 15 mil exemplares acabaram destruídos.
“Eu não estou contando o prejuízo agora, não consigo. Acho que o prejuízo mesmo são as vidas perdidas. Isso aqui é material, coisas materiais não são importantes nessas horas”, disse ao Metrópoles, emocionado.

Depósito da livraria ficou com 3 metros de lamaFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Moradores procuram livros no meio da pilhaFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Amauri Madeira, dono da livraria, diz que dependerá da ajuda de editoras e moradoresFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Livros acadêmicos estão no meio da pilha que vai direto para o lixoFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Forte chuva que assolou Petrópolis fez livraria perder 50% do estoqueFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Nobel perde 50% dos produtosFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Pilha de livros estragados ocupa calçada em frente a livrariaFoto: Aline Massuca/Metrópoles
No depósito, no subsolo do estabelecimento, não sobrou nada. “Os livros de lá ficaram com esgoto, com excrementos, não é seguro mantermos. Recuperamos o que estava no andar de cima, o que foi possível. Em 15 minutos, o depósito acabou completamente submerso”, explicou.
Amauri faz um apelo para que as pessoas apareçam para comprar os livros que ficaram intactos: “Não tenho grandes quantidades, mas tenho. Peço que os petropolitanos comprem na cidade e não em sites. A gente precisa disso para se reerguer”.
Segundo ele, o ritmo de clientes já vinha diminuindo por conta da pandemia de Covid-19 e, agora, com a tragédia, a situação piorou. “A nossa livraria corre riscos. Se os editores não ajudarem, se as pessoas não ajudarem, podemos fechar.”
Momento da tragédia
“Eu não estava aqui na hora, mas meu filho me ligou desesperado: ‘Pai, perdemos tudo’. Só conseguia pensar nos meus funcionários e se todos estavam bem. Eu vivi as enchentes de 1988 e 2011. Fiquei muito preocupado com todos. Então, falei para ele ficar calmo, porque iríamos resolver a livraria depois”, relata Amauri.

Além de livros, estabelecimento também perdeu móveisFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Em 15 minutos, todo o depósito foi completamente inundadoFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Funcionários e moradores ajudam na limpeza do localFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Livraria Nobel ocupa o ponto há 20 anosFoto: Aline Massuca/Metrópoles

Livraria precisará ser higienizada e dedetizada, diz donoFoto: Aline Massuca/Metrópoles
De acordo com ele, agora, não adianta se preocupar com o valor perdido, já que “sem leitor, os livros não são nada”: “Minha tristeza está aí, muitos leitores morreram. Amanhã, quando as pessoas forem encontradas e enterradas como merecem, aí eu penso no meu prejuízo”, afirmou.

Livraria Nobel na última terça-feira (15/2)Arquivo pessoal

Água chegou a 3 metros no depósito do estabelecimentoArquivo pessoal

Estoque da loja foi 100% destruídoArquivo pessoal
A paixão de Amauri pela cultura reflete até na razão social do estabelecimento. “Coloquei ‘Madeira e filhos’, porque é uma continuidade. Meus filhos trabalham aqui comigo. É um investimento na cultura”, relatou o empreendedor.
Para o comerciante, os livros “salvam as pessoas de uma forma diferente”: “A gente vê onde a leitura leva as pessoas. O livro é importante para a sociedade, é importante para formar crianças”.