Humorista é envolvido em ocorrência policial e denuncia racismo em GO

Goiânia – O humorista e produtor musical Brunno Jaka, de 42 anos, fez denúncia nas redes sociais por ter sido, segundo ele, vítima de racismo no domingo (23/5). Ele foi envolvido numa ocorrência policial, ao chegar para trabalhar em um bar de Goiânia e foi o único levado pela Polícia Militar, mesmo com as testemunhas dizendo que o artista não tinha ligação com o caso.

Brunno conta que chegou ao local de Uber, na companhia da namorada, por volta das 16h25. Quando ele desceu do carro, havia um senhor alcoolizado na porta do bar dizendo que tinha sido agredido. O humorista tentou ajudá-lo, diz que perguntou se ele queria ir para o hospital e orientou que ele ligasse para a polícia.

Assim que as viaturas chegaram ao estabelecimento, aconteceu o que Brunno não imaginava: o tal homem disse aos policiais que havia sido o humorista o responsável pelas agressões. “Esse negão aí que me socou”, teria dito o senhor, conforme o relato de Jaka publicado em seu perfil no Instagram.

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Uma publicação compartilhada por Brunno Jaka (@brunnojaka)

Desde segunda-feira (24/5), o humorista está em diligência própria, na região onde tudo ocorreu, para provar a inocência. Ao falar com o Metrópoles na manhã desta quarta-feira (26/5), ele contou que está em busca de imagens de câmeras dos bares que ficam na mesma rua para demonstrar que não foi ele quem agrediu o tal homem.

“Todo mundo do bar falou para a polícia na hora que eu não tinha envolvimento, mas mesmo assim a polícia não ouviu. Eu, praticamente, desci do Uber e entrei na viatura. Minha banda iria tocar, mas eu nem cheguei a entrar para trabalhar”, relata Jaka.

Revoltado com a situação, Brunno fez vídeos na porta do bar, mostrando a quantidade de viaturas, e também na Central de Flagrantes, para onde ele foi levado e ficou por cerca de 4 horas até a ocorrência ser registrada. “Quatrocentos brancos no bar, e vai levar quem? O preto. Aí vocês falam que racismo não existe”, diz ele nas imagens.

Veja:

“Algema ele”, disse o tenente

Ao ser abordado pelos policiais na porta do bar, um tenente chegou a determinar que Brunno fosse algemado. Segundo ele, isso só não ocorreu, porque os policiais o conheciam, sabiam que ele é humorista e alertaram o tal tenente que não seria preciso. “Se os outros policiais não soubessem ou não me conhecessem, eu teria ido algemado”, conta.

Na Central de Flagrantes, Jaka precisou assinar o termo da ocorrência. “Eu quis abrir uma queixa contra o homem, mas me disseram para esperar a intimação do delegado”, diz. Essa intimação, no entanto, não ocorreu até o momento e ele ainda não sabe se o caso foi encaminhado para alguma delegacia.

Jaka diz que ficou assustado com toda a situação. Ele cresceu e foi criado no Setor Bueno, bairro de classe média/alta da zona sul de Goiânia e que, portanto, sempre conviveu com pessoas de maioria branca. O racismo sempre esteve presente de alguma forma, “mas sempre tive forças para bater de frente e seguir adiante”, conta ele. Esta foi a primeira vez que o preconceito, segundo o humorista, virou caso de polícia.

“O que me assusta é que não conduziram a gerente, não ouviram as várias testemunhas que estavam lá na hora, não levaram ninguém. O que me revoltou foi que, simplesmente, os policiais deram ouvidos a um senhor branco, visivelmente bêbado, e eu, mesmo com testemunhas dizendo que eu não estava no local quando a suposta agressão ocorreu, não fui ouvido. Eles não me deram voz”, afirma.

Brunno tem quase 20 anos de profissão como humorista e produtor musical. Ele já se apresentou em programas nacionais de TV, como o Domingão do Faustão e o programa da Eliana, no SBT. Um de seus personagens famosos é a Mulher Jabuticaba.