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Garimpo ilegal: voo clandestino para sair da terra Yanomami custa até R$ 20 mil

Operações contra garimpo inflam preços de voos, e invasores ficam “presos” por dias em pistas de pouso clandestinas

atualizado

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Reprodução/Redes Sociais
Garimpeiros na pista do Jeremias
1 de 1 Garimpeiros na pista do Jeremias - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Garimpeiros que atuavam ilegalmente na terra indígena Yanomami relatam dificuldades para deixar a região após bloqueio do espaço aéreo pela Força Aérea Brasileira (FAB). Escondidos em acampamentos na mata, muitos deles se depararam com altos preços cobrados por pilotos que utilizam as pistas de pouso da área. Há casos de voos clandestinos que custam R$ 20 mil.

O Metrópoles acompanhou, por duas semanas, grupos de garimpeiros no WhatsApp. A reportagem conversou com garimpeiros, familiares, pilotos e outros trabalhadores do meio sobre o movimento de fuga das terras indígenas. Para evitar retaliações, as identidades das pessoas não serão reveladas.

Após o governo Lula anunciar que o espaço aéreo seria controlado pela FAB em medida para combater o garimpo, começaram a se multiplicar relatos sobre as tentativas de deixar a região.

Com intuito de facilitar a saída voluntária de garimpeiros, a FAB abriu três corredores aéreos para que voos particulares deixem a terra Yanomami.

Confira no mapa abaixo as rotas dos corredores aéreos definidos pela Aeronáutica:

Em conversa com a reportagem, uma mulher conta que sua irmã estava trabalhando em garimpo próximo à região de Homoxi, na terra Yanomami. A exploração de minérios do território ocorre principalmente em volta da pista de pouso do Jeremias, que servia de suporte para o atendimento de saúde do local, mas hoje está sob controle de garimpeiros.

 

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A irmã da mulher, que é enfermeira, tentou sair do local fretando um voo na pista do Jeremias, mas se assustou com o preço e resolveu esperar por alternativas mais acessíveis.

 “Estão cobrando R$ 15 mil. Minha irmã está lá ainda. Quando acalmar mais, ela vem. Por enquanto estão escondidos na mata mesmo.” O valor é referente ao total do frete de aeronaves, que costumam levar de 5 a 6 passageiros, com direito a 500 a 600 kg de carga.

“Mas ela não vai vir agora. Se vier, ela vai perder o que ela tem, então não adianta”, disse a mulher, em referência aos ganhos obtidos pela irmã no garimpo.

Em vídeo compartilhado em um grupo chamado “Rio Uraricoera Roraima”, é possível ver dezenas de garimpeiros esperando por transporte na pista clandestina que serve de apoio para o garimpo em Homoxi.

Uma mulher que também estava trabalhando em um canteiro de exploração de ouro próximo à pista do Jeremias diz que conseguiu sair da região após pegar carona em helicóptero custeado pelo “patrão” dos garimpeiros. 

“Acabei de chegar aqui a Boa Vista (RR). A gente veio de helicóptero, o patrão deles pagou R$ 20 mil pelo frete.”

Para se ter ideia dos valores cobrados pelos voos, relatório publicado em abril de 2022 pelo Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal da TI Yanomami aponta que o transporte aéreo na região custava, em média, R$ 11 mil na época.

Negociação com piloto

A reportagem também abordou um homem que anunciava voos em grupos de garimpeiros. O piloto, que é da Bahia, dizia cobrar R$ 2 mil por um assento no seu avião, que pousaria na pista batizada como “Parceiros de longa data” e levaria os passageiros até o avião de Boa Vista. 

De acordo com ele, o pagamento deveria ser feito com até 3 dias de antecedência ou antes das vagas do avião estarem lotadas. Os R$ 2 mil deveriam ser enviados para o Pix do próprio piloto. Segundo ele, só havia fretes disponíveis para fins de semana, pois já tinha “serviços na frente”. O voo combinado com o Metrópoles seria feito neste domingo (12/2).

Questionado pela reportagem se teria alguma comprovação de que o anúncio não era um golpe, o homem respondeu: “Para começo de conversa, quantos pilotos tu conhece que faz (sic) essa rota?. Quer meu CHT [certificado de profissionais da aviação civil] também?”. Após insistência, enviou fotos conduzindo seu avião.

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Pagamento em ouro

A forma de pagamento é variada, mas a maior parte dos pilotos aceita gramas de ouro obtidas nos garimpos para custear o frete. À reportagem do Metrópoles uma mulher relatou que um familiar está na pista de pouso do Jeremias há 3 dias, e que pilotos estão cobrando até 30 gramas de ouro por um lugar no avião. Cada grama vale R$ 280, na cotação dos garimpeiros ilegais. Logo, uma passagem neste preço custaria cerca de R$ 8.400.

Como alternativa, grupos de garimpeiros têm feito um caminho a pé até a Serra Couto Magalhães, região dentro da Terra dos Yanomami em que também há exploração de ouro. “Dizem que de lá tá saindo canoa a R$ 3,5 mil. Mas tem que ser um grupo grande, nunca pode descer em pouca gente. Tem que ser grande pra não correr risco”, ressaltou a familiar de um garimpeiro.

Com os preços altos, garimpeiros tomaram a pista do Jeremias nesta terça-feira (7/2). Em vídeos, eles dizem que não deixariam o local caso o preço das passagens não fosse reduzido. 

A rota para chegar até a pista de pouso do Jeremias é árdua e costuma ser feita a pé. Com os pertences amarrados às costas, às pressas, garimpeiros que atuam em explorações ilegais próximas à região enfrentam caminhadas de até 4 horas para alcançar seu destino.

 

 

Abertura de corredores

O espaço aéreo da Terra Indígena Yanomami está sob controle da Força Aérea Brasileira desde o dia 1º de fevereir0. A dificuldade de garimpeiros deixarem o local fez com que a FAB abrisse três corredores aéreos, para que invasores deixem voluntariamente a Terra Indígena Yanomami. A medida valerá até a 1h da próxima segunda-feira (13/2).

De acordo com a Aeronáutica, “as aeronaves que decolarem de localidades distantes desses corredores devem voar perpendicularmente até ingresso em um deles, para, após, prosseguirem em seu voo”. Os corredores são de seis milhas náuticas de largura, equivalente a cerca de 11 quilômetros.

O Métropoles perguntou ao Exército Brasileiro e à Força Aérea Brasileira se existem orientações para garimpeiros que queiram se entregar voluntariamente às autoridades competentes, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria. O espaço continua aberto.

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