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Facção da Venezuela cresce em Roraima e já domina bairros de Boa Vista

Facção El Tren de Aragua, presente em vários países, aproveita acordos e parcerias com PCC e CV, em Roraima, para expandir domínio na região

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Venezuelanos na praça Simón Bolívar, em Roraima
1 de 1 Venezuelanos na praça Simón Bolívar, em Roraima - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A facção criminosa venezuelana El Tren de Aragua cruzou a fronteira do Brasil e já se faz presente em Roraima, com domínio confirmado em determinados bairros da capital Boa Vista (RR). Os faccionados aproveitaram a intensificação do fluxo migratório, nos últimos anos, para expandir a presença na região e articular parcerias com facções brasileiras.

De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Roraima (MPRR), a facção já possui integrantes presos no sistema prisional do estado e lideranças estabelecidas em bairros locais, como o 13 de Setembro e o São Vicente, em Boa Vista. Os planos de expansão incluem, ainda, conquistar outras áreas da cidade, como o bairro Calungá.

A Tren de Aragua é considerada a maior facção criminosa da Venezuela. De alta periculosidade, o grupo surgiu dentro do presídio de Tocorón, no país de Nicolás Maduro, e se expandiu com foco no tráfico de drogas, contrabando e tráfico de pessoas. Hoje, a organização tem perfil transnacional e, além de estar no Brasil, já registra presença em países como Colômbia, Chile, Bolívia, Equador e até Estados Unidos.

O acirramento da crise econômica e política na Venezuela favoreceu as intenções da facção, que se aproveitou da vulnerabilidade de milhões de venezuelanos, em fuga e em busca de asilo em outros países, para lucrar com a prática de extorsão e exploração sexual e, ao mesmo tempo, infiltrar-se para ampliar os territórios de domínio e atuação.

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Maioria dos presos venezuelanos foi colocada na Ala 5 da penitenciária
Governo do estado estima que existam cerca de 180 mil venezuelanos refugiados em Roraima
De cada quatro moradores de Roraima hoje, um é venezuelano, conforme estimativa do estado
Lado externo da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, Roraima
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Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista (RR)

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Maioria dos presos venezuelanos foi colocada na Ala 5 da penitenciária

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Governo do estado estima que existam cerca de 180 mil venezuelanos refugiados em Roraima

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De cada quatro moradores de Roraima hoje, um é venezuelano, conforme estimativa do estado

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Lado externo da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, Roraima

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Praça Simón Bolívar, em Boa Vista (RR), onde venezuelanos se concentraram no início da crise migratória

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Venezuelanos na Praça Simón Bolívar, em Boa Vista (RR)

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Acordos com PCC e CV

Em Roraima, apesar dos registros de homicídios com a “assinatura” da Tren de Aragua – esquartejamento –, ainda não houve embates diretos entre a facção venezuelana e os grupos brasileiros também presentes na região, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Pelo contrário, o que se vê, segundo o MPRR, são tratativas e acordos entre eles.

De início, a facção tentou estabelecer uma aliança com o PCC, visando o comércio de armas. Hoje, no entanto, a aproximação maior está com o Comando Vermelho, que se fortaleceu no estado, nos últimos anos, com dominação de áreas consideradas estratégicas, como locais de exploração do garimpo ilegal, a vila de Nova Colina, em Rorainópolis (RR), e alguns bairros de Boa Vista.

“A ausência de confronto ou oposição das facções nacionais ao El Tren de Aragua, em conjunto com a posição geográfica estratégica do estado de Roraima, favorece a expansão e o fortalecimento da facção estrangeira com relevante projeção internacional em território brasileiro e, com ela, o aumento das tensões de segurança na região”, aponta o Gaeco do MPRR.

O contexto facilitador exige monitoramento constante das forças de segurança e inteligência. As informações levantadas, até então, já apontam a presença em território roraimense não só da Tren de Aragua, mas também de outros dois grupos criminosos da Venezuela, como a Tren de Guayana e o Sindicato de Las Claritas.

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Manifestantes com os rostos cobertos sentam-se em rua de Caracas
Manifestantes com os rostos cobertos sentam-se na rua enquanto protestam contra o governo de Nicolás Maduro em 2 de fevereiro de 2019 em Caracas, Venezuela
Manifestantes com os rostos cobertos deitam nas rua enquanto protestam
Manifestantes cobrindo o rosto posam para foto
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Apoiadores da oposição se reúnem na Venezuela

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Manifestantes com os rostos cobertos sentam-se em rua de Caracas

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Manifestantes com os rostos cobertos sentam-se na rua enquanto protestam contra o governo de Nicolás Maduro em 2 de fevereiro de 2019 em Caracas, Venezuela

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Manifestantes com os rostos cobertos deitam nas rua enquanto protestam

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Manifestantes cobrindo o rosto posam para foto

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Presídio com boate, clube e zoológico

A preocupação ficou ainda maior depois que o líder da facção Tren de Aragua, Héctor Rustherford Guerrero Flores, o Niño Guerrero, fugiu da prisão, no ano passado, após megaoperação policial que invadiu o presídio de Tocorón, na Venezuela, e retomou o local. O grupo havia feito da penitenciária uma minicidade, com direito a boate, clube aquático, bares, restaurantes e até um zoológico.

Durante os anos de liderança de Niño Guerrero no local, a polícia não adentrava o presídio e o criminoso saía, viajava e retornava como bem entendia, apesar de cumprir pena de 17 anos de prisão em regime fechado. Hoje, o líder da facção segue procurado pela polícia e está na lista da Interpol. Desde setembro do ano passado, as autoridades venezuelanas buscam informações sobre o paradeiro de Guerrero.

imagem colorida de hector guerrero, líder da facção venezuelana tren de aragua é procurado pela interpol
Registro no site da Interpol

Ele é considerado o grande responsável pelo projeto de transnacionalização da Tren de Aragua. De dentro do presídio, que virou a base de operações da facção, Niño Guerrero colocou em prática o plano de recrutar detentos, adotou um modelo de arrecadação interna baseado, primeiramente, em extorsões e ampliou os territórios de domínio, com tráfico de drogas e exploração sexual em diferentes regiões do país.

Nos Estados Unidos, em meio aos relatos crescentes da presença de integrantes da facção, o governo Joe Biden definiu, em julho deste ano, a Tren de Aragua como uma “organização criminosa transnacional”.  As investigações locais apuraram que os integrantes possuem marcas de identificação semelhantes: tatuagens com relógios, âncoras, coroas e até frases com a palavra “Guerrero”, em menção ao líder.

Presença maciça de venezuelanos

Todo esse projeto de expansão preocupa o lado brasileiro da fronteira. Roraima ainda tenta se reestruturar, após os efeitos gerados pelo fluxo migratório intenso dos últimos anos. O governo local estima que 180 mil venezuelanos vivem no território roraimense hoje – algo em torno de 25% de toda a população do estado.

Nos últimos seis anos, a quantidade de venezuelanos presos em penitenciárias e presídios de Roraima aumentou cinco vezes. Passou de 77, no primeiro semestre de 2018, para 414 no fim de 2024. A maioria está na Ala 5 da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista. Dentre eles, estão alguns faccionados da Tren de Aragua, envolvidos, principalmente, em assassinatos brutais na região.

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