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Em escuta, ex-secretário defendia 100 fuzis para bandidos: “É mais lucro”

“Você talvez seja o cara mais importante que o secretário de Segurança Pública no Rio”, disse Raphael a Marcinho VP em gravações

atualizado

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Agentes da Polícia Federal prenderam o secretário de Administração Penitenciária do Rio, Raphael Montenegro
1 de 1 Agentes da Polícia Federal prenderam o secretário de Administração Penitenciária do Rio, Raphael Montenegro - Foto: Reprodução

Rio de Janeiro – Mesmo sob segredo de Justiça, trechos de conversas gravadas dentro da Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, entre o agora ex-secretário de Estado de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro, e traficantes líderes da facção criminosa Comando Vermelho, a maior do Rio, sustentam a decisão de pender temporariamente o secretário e mais dois integrantes da cúpula da pasta.

As escutas revelam que Montenegro negociou trégua com criminosos, demonstrando aos bandidos as vantagens de um cessar fogo entre policiais e traficantes. “É mais barato para vocês não ter guerra. Se vocês não precisarem de 400 fuzis e tiverem só 100 para se defender, o lucro é maior, pô”, disse Raphael a um dos chefes encarcerados no Paraná.

O encontro de Raphael Montenegro com o traficante Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, aconteceu em maio, após um pedido de visita do ex-secretário ao Presídio Federal de Catanduvas (PR), o que levantou suspeitas. “O fato foi apontado como incomum pela corregedoria da penitenciária”, destacou o desembargador federal Paulo Cesar Espírito Santo.

Nas conversas, Raphael Montenegro também diz que o traficante é mais importante que a figura de um secretário de Segurança Pública – cargo extinto no governo do Rio. A decisão aponta que Montenegro foi gravado negociando com vários líderes do Comando Vermelho, como Marcinho VP, FB, Claudinho da Mineira, Arafat e Marreta. Em contrapartida aos benefícios oferecidos à quadrilha, a cúpula da facção daria uma trégua em determinadas atividades criminosas — como a venda de crack. O objetivo seria fabricar uma falsa sensação de tranquilidade social.

Veja o que disse Raphael

‘Papo de homem’
“Papo de homem. Ninguém tá chegando aqui pra dizer pra você que quando você chegar no Rio a gente vai te botar um terno, não quero isso de você. Não cobro isso do Abelha, não cobro isso do Xará, não cobro isso do Marcinho, não cobro isso do Wallace. A gente não cobra isso de ninguém. A vida de vocês lá fora é de vocês lá fora. Agora, eu tenho que ter certeza do seguinte: se eu trouxer o Claudio pro Rio, no primeiro problema que eu tiver, eu vou falar: ‘Pô, o Claudio não teve papo de homem comigo’” — para Claudinho da Mineira

‘Vai entrar telefone’
“Eu não vou falar pra você que não vai entrar telefone, vai entrar! Agora, mas também tem o seguinte, eu vou tentar segurar esse telefone, e vou dar geral. Assim, a gente dá esse espaço pra facção, tipo assim, dá espaço pra todas as facções” — para Marreta

‘Lucro maior’
“A ideia é a gente usar essa possibilidade de vocês voltarem exatamente pra mostrar isso, não só entre nós. Mas pros caras lá fora. Mostrar que o Comando não é mais aquele Comando da guerra. O Comando quer vender as paradas dele e tá tudo certo, ter o lucro dele. É mais barato pra vocês não ter guerra, se vocês não precisarem de 400 fuzis. Se tiverem só 100, pra se defender, o lucro é maior, pô” — para Marreta

Marcinho VP, ‘o cara mais importante’
“Você é um cara que fala bem, você é um cara inteligente, todo mundo sabe, então, irmão, a bola tá contigo, vende teu peixe aí, p*rra. (…) A gente tem consciência do compromisso que você tem com a facção. Agora, a gente também sabe que você é um cara que, no Rio, pô, pode baixar a poeira pra c*ralho. (…) Você, p*rra, talvez seja o cara mais importante que o secretário de Segurança Pública no Rio” — para Marcinho VP

“Traição”, diz governador Cláudio Castro

O governador Cláudio Castro afirmou, em entrevista à TV Globo, que está se sentindo traído e garantiu que seu governo não faz acordos. “Meu governo é, inclusive, criticado pelo excesso de combate, como nas ações na Maré e no Jacarezinho [operação policial mais letal da história do estado]”, disse. Castro afirmou ainda que Montenegro é motivo de vergonha e de constrangimento diante dos mais de 80 mil policiais do Rio, que “arriscam suas vidas para combater o crime, enquanto ele estava negociando tréguas”.

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