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Evasão escolar cresce 20% durante a pandemia; instituições sentem o impacto

De acordo com o Inep, o abandono escolar é bastante significativo: 11,8% dos adolescentes brasileiros estão fora da escola

atualizado

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DAJ/Getty
Sala de aula vazia
1 de 1 Sala de aula vazia - Foto: DAJ/Getty

Dentre vários setores afetados pela pandemia do coronavírus, a educação é um dos principais. Agora, mais do que nunca, diversos desafios dentro do ambiente escolar devem ser superados, como a questão da evasão escolar, que acontece quando o aluno abandona o ensino em decorrência de qualquer motivo.

De acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe/DF), um levantamento aponta a evasão de 20% durante o período de março a agosto de 2020. Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) coletados em 2019 já mostravam que o abandono escolar é bastante significativo. Dos jovens brasileiros com 15 a 17 anos, estão fora da escola 11,8% , cerca de 1.152.846 . Quando o assunto são crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, esse número é de 169.521.

Os donos de escolas sentiram os números na pele. Para Leila Maia, fundadora da creche Colinho de Mãe em Sobradinho (DF) e do Centro Educacional Pia Máter na Asa Norte, nunca foi fácil manter uma escola aberta, mas a pandemia conturbou ainda mais o mercado. Antes do lockdown, a unidade localizada no Plano Piloto atendia 500 crianças bebês. Com as restrições implementadas pelo governo, ela perdeu 60% dos alunos.

“A empresa vai ficando mais cara, deixamos todos os profissionais na medida provisória e agora quando voltamos sentimos o baque. O impacto veio principalmente pelas medidas de segurança. Os professores, por exemplo, são obrigados a trabalhar usando luvas. Imagina o custo disso. A nossa escola também tem um trabalho com a alimentação saudável, comprávamos arroz por R$ 18 e hoje um saco de 5kg é mais de R$30”.

“Quando a questão é segurança, somos muito sérios, tivemos que diminuir o número de crianças em sala, então precisamos criar duas turmas”, diz a fundadora do Colinho de Mãe. Leila ainda conta que antes da pandemia ela fez um investimento bem alto, mas que até o momento não houve retorno: “Tínhamos acabado de fazer um auditório que custou quase  R$ 2 milhões, foi uma despesa bem alta e até o momento não foi muito usado”.

Para a fundadora do Colinho de Mãe os resultados só serão colhidos em 2022: “Não estamos trabalhando com expectativa de lucratividade em 2021, a ideia é somente fazer com que os nossos profissionais não percam o emprego e que a empresa se mantenha. Estamos trabalhando por 2022, para que a empresa volte a ser lucrativa”.

A presidente do Sinepe/DF, Ana Elisa Dumont, conta que o grande abandono escolar aconteceu na faixa etária da educação infantil: “Acredito que essa questão aconteça já que até os 3 anos de idade não é obrigatória a matrícula da criança na escola. Esse momento de pandemia foi também um tempo de mudança de rotina, antes da quarentena os pais desses garotos só tinham contatos com os filhos na parte da noite. Outro fator é que as crianças menores não tem tanta autonomia para os ensinos remotos, então há uma necessidade de um adulto alia ajudando e muitos pais não podiam acompanhar”.

Universidades

Já quando o assunto é universidade, parece que esse impacto foi mínimo. É o que apontaram duas instituições de ensino superior. Em São Paulo, o Mackenzie conta que os percentuais de evasão e trancamento “mantiveram-se dentro do planejamento institucional elaborado para o enfrentamento do período de pandemia”.

A Universidade Mackenzie conta ainda que dentro deste momento de pandemia “realizou novos investimentos em tecnologia e alterou o funcionamento de suas plataformas digitais de aprendizagem com o objetivo de possibilitar que suas aulas presenciais pudessem ser realizadas a distância e de forma síncrona”.

Mas mesmo assim a universidade reconhece que haverão profundas mudanças nos modelos de negócio e de governança das instituições de educação, “com possibilidade de adoção de modelos híbridos de ensino, facultando aos estudantes uma maior liberdade e flexibilidade no desenvolvimento de suas atividades escolares”.

O vice-presidente acadêmico da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Alexandre Gracioso, contou ao Metrópoles que a evasão foi mínima. “Não passou de 3%. Ao longo dos meses do primeiro semestre de 2020, montamos uma força tarefa para atender os casos que precisavam de nosso apoio e a instituição fez o possível para ajudar seus alunos e alunas a continuarem estudando”.

A instituição diz que já vinha estruturando um formato híbrido, mesmo antes da pandemia. “Os alunos que entraram no primeiro semestre da graduação no início de 2020 começaram a participar de disciplinas on-line. Quando a pandemia se agravou, conseguimos nos adaptar com maior facilidade. Apenas ampliamos o treinamento de professores e passamos tudo para a plataforma Zoom e Canvas. Nós investimos em metodologias ativas de ensino há mais de uma década e estávamos preparados para lidar com o imponderável”.

A ESPM adianta que no futuro continuará aproveitando o EAD e voltará a ter atividades presenciais. “Acreditamos que a volta será ainda melhor, de um profundo aprendizado. Os momentos de encontros presenciais deverão ser ainda mais enriquecedores daqui pra frente”.

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