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“Estamos surpresos e chocados”, diz trabalhador que está há 28 anos na Ford

Funcionários foram surpreendidos com decisão da montadora de encerrar a produção: “Assim como meu pai, esperava me aposentar aqui”

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
Assembleia de trabalhadores da Ford, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, que acontece na câmara Municipal da cidade, nesta quarta-feira (13). Após anos de perdas, agravadas pelo cenário de pandemia, a Ford anunciou na última segunda-feira (11) o fechamento de suas fábricas no Brasil, mais precisamente as operações nas plantas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller (em Horizonte, CE) ainda em 2021.
1 de 1 Assembleia de trabalhadores da Ford, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, que acontece na câmara Municipal da cidade, nesta quarta-feira (13). Após anos de perdas, agravadas pelo cenário de pandemia, a Ford anunciou na última segunda-feira (11) o fechamento de suas fábricas no Brasil, mais precisamente as operações nas plantas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller (em Horizonte, CE) ainda em 2021. - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Taubaté (SP) – Trabalhadores da Ford em Taubaté (SP) estão surpresos com a decisão da montadora de encerrar a produção no Brasil, embora soubessem que os negócios não andavam bem no país. Agora, as perspectivas se dividem entre a esperança de uma possível manutenção da unidade, a partir de negociações com autoridades, e o receio de enfrentar um mercado de trabalho com 14 milhões de desempregados.

Francisco Pedro Ferreira, 50 anos, operador de máquina, começou a trabalhar na Ford Ipiranga, que fechou há 20 anos, em 1990. Foi transferido para São Bernardo do Campo (SP), que encerrou as atividades em 2019, e, então, acabou sendo realocado para a planta de Taubaté (SP). “Estamos passando pela mesma situação. Mas, na época do Ipiranga, fomos transferidos para São Bernardo. Aqui não tem a possibilidade de mandar ninguém para lugar nenhum”, afirma.

Ferreira ficou surpreso ao ter conhecimento pela imprensa sobre o fim da produção da Ford no Brasil. “É uma empresa muito boa. Até a década de 1990, tratava muito bem os funcionários. Mas é um total desrespeito fazer uma demissão sem nos avisar. Poderia pelo menos esperar essa pandemia para ver o que ia fazer. Mas simplesmente jogaram a gente sem convênio e salário no meio de uma pandemia”, diz.

O operador ainda espera que a situação possa ser revertida e que a fábrica volte às atividades. “A gente sabe que é difícil, mas sem luta não há conquista”, afirma.

Altamir Alexei Guatura da Silva trabalha há 28 anos na empresa, entrou na Ford como aprendiz do Senai aos 14. “A gente sabia que as coisas não iam muito bem. É esperar agora para ver qual é o melhor desfecho para poder tocar a vida. Na terça, eu comecei a preencher o meu primeiro currículo”, diz.

Apesar de criticar a empresa por não ter avisado os funcionários sobre as demissões, Guatura diz reconhecer que a Ford proporcionou muitos aprendizados. “Agradeço muito pelas oportunidades, só não esperava que o fim fosse abrupto. Na verdade, eu ainda estou meio atordoado, está todo mundo em suspenso agora”, afirma.

Por enquanto, ele aguarda a negociação para que a fábrica seja mantida ou uma indenização mais vantajosa. “Um pacote melhor para que a gente tenha um pouco mais de tranquilidade para esse recomeço: seja buscando emprego em outras empresas ou empreender, embora a situação do país não seja muito favorável para isso. O rumo exato ainda não sei”, afirma.

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“Não caiu a ficha ainda. Vou sentar com a minha esposa. Não digeri ainda, estou aqui, mas a minha cabeça está a mil. Vamos entregar na mão do sindicato e na mão da direção da Ford e ver o que vai acontecer”, afirma Reginaldo Tabosa da Silva, 46 anos, auxiliar de manutenção.

Com 27 anos de empresa, Tabosa saiu da fábrica de São Bernardo do Campo para Taubaté, onde trabalha desde 2002. “Foi uma história muito bonita, pensei que ia me aposentar aqui, e meus amigos também. É muito triste. Pegou todos de surpresa. Tem muito pai de família que comprou uma casa, comprou um carro e não vai ter condições de pagar. Muitas crianças pequenas vão ficar sem convênio”, afirma.

É o caso de Monique Medeiros Gonçalves, 34 anos, funcionária da linha de montagem de transmissão, que começou a trabalhar na Ford em Taubaté aos 18 anos de idade, em 2004, substituindo o pai, que se aposentou. “Esperava me aposentar lá dentro também. Sempre ouvimos que fecharia, mas a gente nunca acreditou que isso fosse acontecer e da maneira como foi feita”, afirma.

Monique cuida sozinha dos três filhos – de 14,12 e 6 anos – e diz que está sem expectativas em relação ao futuro. Segundo ela, a sua maior preocupação é conseguir manter o plano de saúde das crianças “Precisamos ter calma nessa hora. E pensar certinho o que vamos fazer, como a gente está enfrentando essa pandemia. Então está muito difícil para gente”, diz.

Antes do anúncio do fechamento da fábrica, a funcionária da Ford diz que planejava fazer um curso para se aperfeiçoar. “Eu ia começar a me programar neste ano, porque a gente ouvia falar sobre a situação a empresa, mas não acreditava. Até porque a gente tem uma estabilidade na fábrica até o final do ano em acordo fechado com a montadora, então a gente não esperava. Como tenho filhos, me acomodei. A prioridade sempre foi os meus filhos”, afirma.

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Segundo Alan Victor de Oliveira, 36 anos, coordenador de produção, até a gerência local foi pega de surpresa com o anúncio do encerramento das atividades da Ford no Brasil. “A gente terminou a semana passada fazendo a programação para iniciar esta semana. Inclusive, na segunda-feira, estávamos conversando sobre as faltas que teríamos na semana”, afirma.

Há 16 anos na Ford, Oliveira conta que a história da sua família se confunde com a história da montadora na cidade. “Meu pai trabalhou 42 anos aqui e se aposentou no final do ano passado. Quando contei para ele, foi um baque. Tudo o que a gente conquistou hoje a gente deve muito à Ford”, lamenta.

Oliveira diz que já está “conformado” com o fechamento da fábrica. “Os companheiros ainda têm esperança de retomar as atividades; eu, particularmente, não tenho. Só quero um pacote mais robusto para minimizar os impactos”, afirma.

Mesmo com duas graduações e um MBA em curso, o coordenador afirma que está muito preocupado em enfrentar o mercado de trabalho no atual momento, mas tem esperança em conseguir um emprego com base na sua formação. “Primeiro, precisamos finalizar esse processo porque não adianta se programar antes de fechar esse ciclo. Então, é terminar essa negociação para colocar os pensamentos em ordem para seguir a vida”, afirma.

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