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No TikTok, músicas pró-Bolsonaro viram meme e furam bolha petista

Jingles, oficiais ou não, são replicados milhares de vezes no aplicativo. Especialista explica que repercussão pode ser revertida em votos

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Celular sob mesa mostra aplicativo e logo do TikTok - Metrópoles
1 de 1 Celular sob mesa mostra aplicativo e logo do TikTok - Metrópoles - Foto: Photo Illustration by Drew Angerer/Getty Images

Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) travam batalha milionária para rebater desinformação, atacar o adversário e conseguir engajamento nas redes sociais, corre no TikTok campanha paralela de usuários que compartilham memes e hits favoráveis aos postulantes à Presidência. Em meio ao movimento, músicas pró-Bolsonaro viralizaram na plataforma e alcançaram, inclusive, eleitores do petista.

Um dos virais mais compartilhados é a música Somos Todas Bolsonaro, da cantora pernambucana Talita Caldas. A canção foi gravada em 2018, mas só estourou neste ano. E os números chegam a marcas desejadas por qualquer campanha política: de 1 a 3 milhões de visualizações em um mesmo vídeo. Tudo de forma orgânica, compartilhada de usuário para usuário, sem necessidade de investimento para impulsionar o conteúdo.

A música, que fala sobre mulheres que votam em Bolsonaro, furou a bolha de apoiadores do presidente e passou a ser replicada por eleitores de Lula, com a retórica de que, mesmo sendo do adversário, é difícil resistir ao ritmo. “Esquerda melhore nos singles pq esse da direita é hit”, diz uma das publicações.

@igorpagliasse5 a gata soube hitar, mas msm assim é lula lindo 2022 ⭐️❤️ #foryou #vaiprofycaramba #fyp #fy #lula2022 ♬ Somos Todas Bolsonaro – Talita Caldas

Os vídeos trazem coreografias improvisadas, memes com situações cotidianas e até cobrança por músicas chicletes por parte da campanha de Lula.

@milopalhaLula, precisamos de um hit!♬ Somos Todas Bolsonaro – Talita Caldas

Outro hit que circula no aplicativo é a música Vota e confirma, versão de Combate, de Aldair Playboy. O funk viralizou após o jogador Neymar compartilhar um vídeo em que dança e declara apoio ao atual presidente. No TikTok, eleitores de Lula se apropriaram do jingle, que virou “trend” e se transformou no axé Vai Dar PT, de Léo Santana.

@findmyllah ô o reverse #foryou #lula ♬ Bolsonaro é o carai – Ana Clara melo

Além disso, ganhou versão favorável ao ex-presidente. O “vota, vota e confirma, 22 é Bolsonaro” é substituído pelo “13 é Luiz Inácio” nos versos petistas.

@yanvitorporto finalmente essa música saiu #lula #lula2022 #lulapresidente2022 #lula13 #13 #votavotaeconfirma13élula #lulapresidente2022❤️ #lulapresidente13 #lulapresidente2022❤️⭐️🇧🇷🇧🇷 #forabolsonaro #lulinha ♬ 13 É LUÍS INÁCIO – Daniel Backe

Gustavo Essbich, artista e autor de um dos virais que circulam na plataforma, comenta que, mesmo votando em Lula, decidiu fazer o vídeo. Ele afirma que os conteúdos relacionados às eleições, em geral, têm trazido bom retorno em termos de engajamento.

“Tem dado um bom engajamento em todas as redes sociais. Muitas das vezes, porque o lado oposto do apresentado no vídeo vem em peso argumentar, o que acaba gerando muitas visualizações, comentários e, consequentemente, aparecendo para mais pessoas.”

Ele descarta que a viralização de memes, como o da música Somos Todas Bolsonaro, pode ajudar a impulsionar a campanha do adversário, pois tudo não passa de uma brincadeira. “Até mesmo pessoas que votam nele sentem uma indiferença com a música e acham ela engraçada”, argumenta.

“Pessoas que são a oposição de Bolsonaro estão preocupadas com a sociedade, com as lutas que temos que enfrentar todos os dias, então, de forma alguma, alguém vai mudar o seu voto por causa de uma música.”

@essbichSou bolsodiva bolsolinda sim 🥺♬ Somos Todas Bolsonaro – Talita Caldas

“Musa Bolsominion das gays”

A cantora Talita Caldas explica que a canção partiu de um projeto que busca “atrair os jovens à direita” de uma forma divertida, por meio da arte. A música foi gravada em 2018, mas não teve um terço do alcance que chegou neste ano. Ela lembra que, de uma hora para a outra, o vídeo passou a ser compartilhado até ficar entre as 20 músicas mais tocadas da plataforma.

“Estou gostando muito de ver gays, lésbicas e até mesmo pessoas que não são envolvidas com política, dançando e fazendo comentários, como ‘eu não voto no Bolsonaro, mas essa música não sai da minha cabeça’! ‘Essa música é muito chiclete’! Todos me tratando com respeito e muito carinho”, comemora a cantora.

“É um fenômeno estranho, mas pela primeira vez estou recebendo mensagens positivas de progressistas. Me intitulam no TikTok até de ‘Musa Bolsominion das gays’. Ah… eu tô amando demais tudo isso!”

Na esteira do sucesso, ela diz que, em breve, pretende lançar nova composição que vai abordar o tema do aborto e de um chamado “feminismo inverso”. Segundo Talita, os assuntos “ferem princípios e valores cristãos” e colocam “em risco a família”.

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Memes x votos

O movimento, apesar de parecer inofensivo, pode influenciar na escolha do eleitor, alerta Rute Favero, professora de computação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora em redes sociais. A docente lembra as eleições de 2014, quando ocorreu uma onda de memes e terminou com a vitória de Dilma Rousseff (PT).

“Foi, principalmente, quando surgiram [no contexto das eleições], e ainda hoje nós temos memes de vários tipos, para várias mídias. Isso deu certo, colou nas pessoas pela facilidade da linguagem que eles apresentam”, sinaliza a professora.

A linguagem, conforme Favero destaca, é uma das características que faz com que a mensagem seja disseminada de forma tão ampla, como acontece no TikTok. Sobretudo porque a plataforma concentra um público com acesso limitado à internet e, consequentemente, consome informação de forma fragmentada. O mesmo ocorre no WhatsApp.

“TikTok está criando muitos vídeos curtinhos, bonitinhos e alegres. Se fosse passar uma informação ou notícia, mais ‘acadêmica’, técnica, [o usuário] não iria entender absolutamente nada. Ou muito pouco. Então, o TikTok mostra de maneira mais leve, mais compreensível”, explica. “Além de tudo, eles colocam uma musiquinha que gruda e, mesmo sem saber, eu acabo reproduzindo.”

A educadora ainda alerta sobre os perigos de viralizar determinados conteúdos em um ambiente em que circula muita desinformação. “Isso tem um potencial enorme de atrair votos, porque gruda. Os vídeos passam verdades, mas, infelizmente, também muitas mentiras. Sendo eles a única forma de notícias, de informação, que muitas pessoas têm, obviamente, vão atrair, sim, os votos.”

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