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Meirelles: “Péssima administração desse governo gerou crise econômica”

Ex-ministro e mentor de Michel Temer na aprovação da reforma trabalhista será candidato ao senado por Goiás e promete pauta de mais reformas

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
henrique meirelles
1 de 1 henrique meirelles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Goiânia – A disputa pela vaga ao Senado em Goiás, nas eleições deste ano, deverá ter entre os concorrentes o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PSD). Após atuação direta na implantação da reforma trabalhista, em 2017, durante o governo de Michel Temer (MDB), o pré-candidato apresenta-se com sede de mais mudanças e diz que defenderá no Congresso Nacional, caso eleito, as reformas administrativa e tributária.

Quase cinco anos depois, a reforma trabalhista, da qual Meirelles foi mentor e defensor à frente do Ministério da Fazenda, ainda não mostrou a que veio, do ponto de vista da geração de empregos – ele previu 6 milhões em 10 anos. Questionado pelo Metrópoles, durante entrevista em Goiânia, onde ele cumpriu agenda de reuniões e articulações políticas nessa semana, Meirelles disse que mantém a previsão, mas alegou que “a reforma sozinha não faz mágica”.

“O que mudou é que a economia entrou numa crise em função de uma péssima administração desse governo. Só isso. Numa economia funcionando bem, aí sim a reforma trabalhista faz a diferença, porque permite que as empresas trabalhem com mais eficiência”, expôs.

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Confusão e incertezas

O contexto de “confusão” e “incertezas” geradas pela política econômica atual, no Brasil, especialmente em relação ao calote dos precatórios e se vai ou não furar o teto de gastos, é o que, na visão dele, vem afastando investimentos e a possibilidade de geração de empregos. Meirelles rechaça a alegação de que o impedimento maior seria a pandemia da Covid-19, pois os demais países já retomaram o crescimento.

“A economia [do Brasil] vai mal, não há dúvida. O mundo já está voltando a crescer, mas o Brasil segue com problema. Não é por causa da pandemia. As empresas já aprenderam a trabalhar com a pandemia. Não tem empresa parada agora, muito pelo contrário. Neste ano de 2022, o crescimento [no Brasil] deve ser próximo de zero. Isso é indiscutível que é uma performance muito ruim”, argumenta.

Retomada da relação com o eleitor goiano

Meirelles é natural de Anápolis (GO), a 55 Km da capital goiana, e construiu carreira internacional como banqueiro, chegando até a presidência do Bank of Boston. Hoje ele é secretário de Fazenda e Planejamento do Governo de São Paulo, cargo que deve deixar nos próximos dias para focar no planejamento da campanha eleitoral, em Goiás. A candidatura dele ao Senado será marcada, em muito, pela retomada da relação com o eleitor local.

A primeira investida política de Meirelles no estado ocorreu em 2002, quando ele se candidatou para deputado federal pelo PSDB e acabou sendo o mais votado nas urnas, com pouco mais de 183 mil votos. Ele, no entanto, não exerceu o mandato, pois, antes mesmo de tomar posse, aceitou o convite feito pelo, então, presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o Banco Central.

Assim que Meirelles anunciou a pré-candidatura ao Senado por Goiás, no final de 2021, ressurgiu a dúvida: será que desta vez ele cumprirá o mandato? Ele diz que sim. A situação de 2002 acabou marcando a trajetória dele como político, no estado, e já começou a ser utilizada como motivo de crítica por adversários. Um deles é o senador Luiz do Carmo (MDB) que afirmou no Twitter, nessa sexta-feira (25/2), que Meirelles “só aparece em Goiás por interesse”.

Veja:

O ex-ministro se defende: “É preciso esclarecer bem essa questão de 2002. Eu não deixei o mandato para fazer outra coisa que não tinha impacto sobre Goiás. Eu assumi o cargo de presidente do Banco Central e, como resultado da minha gestão, 350 mil empregos foram criados no estado e mais de 1 milhão de goianos saíram da pobreza. É algo que eu não conseguiria como deputado, apenas”, contrapõe.

Escolha do Senado

A opção por se candidatar ao Senado surgiu após convite do PSD, que o convenceu a deixar o MDB, partido pelo qual ele havia se candidatado à presidência em 2018. Meirelles filiou-se na nova sigla em fevereiro do ano passado. Desde então, ele passou a amadurecer a ideia e diz, hoje, que é uma chance para levar adiante os projetos de reforma administrativa e tributária em âmbito nacional. “O país precisa delas para voltar a crescer e se desenvolver”, afirma.

A composição partidária em Goiás, ainda, não está fechada. Ao contrário do que chegou a ser ventilado, sobre uma possível aproximação dele com o atual governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil), que é candidato à reeleição, o ex-ministro contou ao Metrópoles que ainda não tem um lado definido.

“Já conversei com os três pré-candidatos. Conversei com o governador Caiado, com o Gustavo Mendanha (sem partido ) e também com o Marconi Perillo (PSDB). Foram conversas fluídas, boas e, no devido tempo, chegaremos a uma definição sobre qual será a composição da chapa”, conta.

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Reformas essenciais

O que está certo, até então, no projeto de campanha de Meirelles é a pauta que será defendida: reformas essenciais. A administrativa, segundo ele, seria “para não só melhorar o funcionamento e o serviço da máquina pública federal, mas também para cortar custos”.  A consequência disso, alega o ex-ministro, seria a geração de recursos para aplicação, seja em programas sociais ou em infraestrutura.

A outra reforma defendida por ele, a tributária, tem como diretriz a unificação de impostos de valor adicionado, como ICMS, ISS, PIS/Cofins e IPI, em um só, o chamado Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS). Seria um tributo que deixaria de ser cobrado a cada etapa do processo de produção, o que na visão de Meirelles dificulta e eleva os custos, e passaria a ser cobrado no destino do produto, na venda.

Tributação de riquezas

O ex-ministro pontua que não entraria na reforma a questão relacionada à tributação de riquezas. Ele se diz contrário a essa ideia, inclusive, pois seria uma penalização aos investidores. “Acho que tem que se mover com muito cuidado nessa área. Se todos os investidores nacionais e internacionais que investirem no Brasil, na hora de receber os dividendos, forem penalizados nessa tributação, nós teremos uma queda dos investimentos”, argumenta.

São pautas que gerarão enorme debate, com certeza, até mesmo pelas carências atuais do eleitorado (desemprego e inflação) que devem definir a economia como tópico principal das eleições. Meirelles é hoje o responsável pela elaboração do plano econômico da pré-candidatura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), à presidência. Em um provável segundo turno entre Lula e Bolsonaro (PL), já apontado pelas pesquisas, ele diz que prefere não tomar uma posição, ainda.

Aquele que o convidou para assumir a presidência do Banco Central em 2002 (Lula) já sinalizou, caso eleito, a intenção de rever alguns tópicos da reforma trabalhista aprovada em 2017, já que ela ainda não gerou o efeito prometido e acarretou perda de direitos trabalhistas. Fica a pergunta no ar se Meirelles e Lula entrariam em concordância, novamente, assim como ocorreu no primeiro mandato do petista.

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