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“Ele me usou”, diz vítima de “Don Juan” que se passava por servidor da Receita

Estelionatário conheceu comerciante de 38 anos por aplicativo de namoro e usou relacionamento para levar cerca de R$ 50 mil de sete pessoas

atualizado

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PCGO
don juan golpista valparaiso
1 de 1 don juan golpista valparaiso - Foto: PCGO

Goiânia – Uma comerciante de 38 anos, de Valparaíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal, conta que teve prejuízos emocionais depois de se relacionar de forma amorosa com o golpista David Alves Bezerra, de 30 anos, também conhecido como “Don Juan”, “Berlim” e “Alemão”.

O estelionatário responde por vários processos e inquéritos em várias partes do Brasil, por aplicar golpes, usando a boa fé de mulheres para que o ajudassem a cometer crimes sem que elas soubessem. Ele está preso desde junho em um presídio no Ceará.

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Uma nova prisão preventiva de David foi determinada na semana passada, depois dele levar uma bolada de cerca de R$ 50 mil de sete vítimas de Goiás e Distrito Federal. Ele se passava por funcionário da Receita Federal e recebia depósitos por produtos eletrônicos que simplesmente não existiam.

Beleza e boa lábia

Todas as sete vítimas tinham algum tipo de relação com a comerciante de 38 anos, que conheceu o “Don Juan” pelo aplicativo de namoro Badoo. Ela, que tinha uma loja de lingeries na época e estava recém-separada, conta que David passava confiança e tinha “boa lábia”, além de ter boa aparência.

“Ele falava que eu era uma pessoa muito bonita, que ficou interessado e queria me conhecer. Ele era sempre uma pessoa muito educada. Quando foi fluindo, ele foi falando do serviço dele”, conta a mulher.

A comerciante lembra que “Don Juan” dizia ser um servidor da Receita Federal que estava em Brasília prestando um serviço para a Infraero. O golpista pediu para que a companheira o ajudasse a achar compradores de produtos eletrônicos e perfumes importados, que teriam sobrado de um leilão.

“Como ele sabia que eu trabalhava com vendas, ele meio que me desafiou: ‘Mostra para mim que você é uma boa vendedora, me ajuda, mostra as pessoas (compradores) para mim”, narra a comerciante.

Os produtos eram TVs, computadores e celulares bem abaixo do preço de mercado. Tudo seria legalizado e com nota fiscal, segundo David.

Intermediária

A partir daí, a comerciante passou a contatar amigos e colegas para que fechassem o negócio com “Don Juan”. Ela enganava os compradores, dizendo que conhecia o homem desde a época de escola.

“Ele usou da beleza e da lábia dele para me enganar. Infelizmente eu caí. Ele me usou. Não tive prejuízo financeiro, mas tive prejuízo emocional. Perdi colegas por causa disso. Fiquei de cama dois meses de depressão. Foi terrível essa fase”, lembra a mulher.

As vítimas começaram a desconfiar de “Berlim” após a demora para a entrega das mercadorias. Um rapaz que havia feito depósito pediu o dinheiro de volta. O golpista devolveu o valor e isso acabou gerando mais confiança nas vítimas, que por um alguns dias acreditaram nas desculpas.

Quebra de confiança

Algumas pessoas lesadas começaram a pesquisar e descobriram que os donos das contas bancárias que depositaram valores não eram chefes da Receita Federal. Um dia, por ligação, a comerciante deixou claro que desconfiava de “Berlim”.

“Ele perguntou se eu estava gravando a conversa, disse que eu estava estranha, que eu nunca tinha agido assim, que sempre confiava em mim. Depois disso, não me ligou mais. Mandei mensagem e não me respondeu. Acho que já tinha desativado”, relata a comerciante.

David ficou cinco meses fora do radar da polícia, até ser preso em Fortaleza (CE), onde estaria fazendo novas vítimas usando o mesmo modus operandi. A comerciante acabou fechando sua loja de lingirie e tenta recomeçar a vida.

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Ela deixa o alerta: “O certo seria a gente ter averiguado primeiro se as informações que ele estava falando eram verdadeiras. A gente confiou demais. Hoje em dia não se pode confiar em ninguém.”

Defesa

Procurado pelo Metrópoles, o advogado de David, Roberto Castelo Branco, informou que o cliente colabora com as investigações e que será demonstrada a sua boa conduta durante o processo.

Castelo Branco defende que David nunca agrediu fisicamente ou ameaçou alguém e que, por isso, tem todas as condições e requisitos para responder ao processo em liberdade.

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