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Divórcio entre sócios da Usiminas é dado como certo

Na quinta-feira (12/5), o conselho de administração da companhia vai decidir sobre uma possível troca de boa parte da diretoria executiva

atualizado

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1 de 1 usiminas - Foto: Divulgação

Um dos símbolos da indústria do aço do País, a siderúrgica mineira Usiminas começa a discutir, nos próximos dias, mudanças que podem definir o futuro da empresa. Na quinta-feira (12/5), o conselho de administração da companhia vai decidir sobre uma possível troca de boa parte da diretoria executiva. Paralelamente, em conversas ainda não oficiais, começa a ganhar corpo a proposta de cisão da siderúrgica.

A Usiminas, que já chegou a ser avaliada em R$ 31 bilhões em 2010, quando o país teve um crescimento robusto, hoje vale um décimo desse valor e corre risco de pedir recuperação judicial, caso uma ampla reestruturação de suas dívidas não seja feita. Nos últimos meses, as ações se deterioraram com a crise do setor do aço (o grupo demitiu e desligou altos-fornos), aliada à briga entre seus principais sócios, que se transformou na maior disputa societária do País.

Há quase duas semanas, contudo, os dois sócios – a japonesa Nippon e a Ternium, subsidiária do grupo ítalo-argentino Techint – começaram a falar a mesma língua pela primeira vez, desde setembro de 2014, quando a disputa se tornou pública. O motivo para a mudança foi que a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch e maior sócia da Usiminas fora do bloco de controle, conseguiu aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para indicar dois membros para o conselho de administração da siderúrgica e um para o conselho fiscal. Esses representantes terão de se reportar ao Cade.

Justiça
Contrariados com a decisão do Cade, Nippon, Ternium e Usiminas recorreram na Justiça contra o órgão antitruste, sob o argumento de que essa medida dá voz à CSN, um ano depois de o próprio Cade ter barrado a intenção do grupo de Steinbruch por ter feito o mesmo pedido. Ao jornal O Estado de S. Paulo, o procurador-chefe do órgão Victor Santos Rufino, disse que a falta de consenso entre os sócios e a crise financeira delicada da Usiminas levaram o Cade a tomar essa decisão.

Em 28 de abril, um dia após a decisão do Cade, a Ternium conseguiu emplacar o presidente do conselho do grupo, o advogado Elias Brito, com o apoio da Nippon, o que foi considerado uma trégua na briga. Com acordo de acionistas engessado (válido até 2031), no qual tudo tem de ser decidido em consenso, a falta de entendimento entre os sócios daria o poder de decisão aos minoritários. Tudo o que Nippon e Ternium não querem agora.

“É uma situação pitoresca. De um lado, a disputa societária destrói o valor de uma empresa. Do outro, a CSN poder indicar conselheiros também é estranho. O próprio Cade tinha determinado (em 2012) que a CSN tinha de vender as ações da Usiminas”, diz Pedro Galdi, da Galdi consultoria.

Gestão e cisão
A gestão do atual presidente, Rômel de Souza, também tem sido questionada pelo mercado e por parte dos acionistas do grupo. A empresa divulgou no terceiro trimestre seu sétimo prejuízo líquido consecutivo e tem uma dívida de R$ 7,5 bilhões. Souza, nome de confiança da Nippon, foi imposto pela sócia japonesa após a destituição de executivos indicados pela Ternium.

Parte dos acionistas defende a saída de Souza para que a Usiminas conduza a reestruturação das dívidas, condicionada à capitalização de R$ 1 bilhão, já aprovada. A CSN discorda desse processo de capitalização e promete questionar todos os contratos feitos pelos sócios.

A cisão, que já tinha sido aventada em 2014, voltou à mesa, embora em discussões ainda não oficializadas. Fontes afirmaram que os dois lados vão contratar bancos para fazer o relatório de “fairness opinion” (avaliação de preços).

A expectativa é de que haja venda de ativos. A Nippon ficaria com a fábrica de Ipatinga (MG), por já ter contratos com parceiros locais, e a Ternium, com Cubatão (SP), beneficiando-se do lado logístico. O ponto nevrálgico seriam o preço e os passivos tributários e ambientais. Essa decisão, se tomada, só seria concluída no fim do ano, segundo fontes.

O divórcio de Nippon e Ternium é dado como certo. Procurados sobre o tema, nem os sócios nem a Usiminas comentam. No mercado, fontes afirmam que a CSA, da ThyssenKrupp, poderia se unir à Ternium após a cisão, pois há sinergias entre os grupos. A Ternium nega; a Thyssen não comenta.

A prioridade dos dois sócios, agora, de acordo com fontes, é se livrar da pedra no sapato que se tornou a CSN.

CSN
Considerada carta fora do baralho na Usiminas, a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch, voltou à cena com a decisão do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) de autorizar o grupo a indicar nomes para o conselho de administração e fiscal. A autorização do Cade pegou todos de surpresa, inclusive a própria CSN que já tinha feito o mesmo pedido em 2015, sem sucesso, e tem de se desfazer de suas ações na siderúrgica mineira.

Com 14% das ações ordinárias e 20% das preferenciais, a CSN começou a comprar ações na Usiminas em 2011. “A CSN quer fazer barulho e está conseguindo”, disse uma fonte familiarizada com o assunto.

E é verdade. A CSN quer incomodar. Fontes afirmam que todos os contratos feitos na Usiminas envolvendo os sócios passarão por um pente-fino com objetivo de detectar possíveis favorecimentos de contratos dos sócios da siderúrgica com fornecedores e detectar onde é possível cortar custos.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Paulo Caffarelli, ex-Banco do Brasil e diretor executivo da CSN, não comenta os próximos passos a partir da decisão do Cade. Afirmou que a intenção da companhia é “salvar a Usiminas e proteger os minoritários”.

Acionista
Mas o fato é que a CSN não é um minoritário qualquer. O grupo é o maior acionista fora do bloco de controle – fez um investimento de cerca de R$ 3 bilhões para comprar ações da companhia, que hoje são avaliadas em cerca de R$ 500 milhões. A companhia precisa fazer com que as ações da Usiminas se valorizem.

Steinbruch vai ter de se desfazer dessas ações. O prazo para sair do negócio está sob sigilo.

Fontes afirmam que a CSN já tentou oferecer sua fatia tanto para Nippon quanto para Techint. Nenhum dos envolvidos comenta o assunto.

Dívida
Com uma dívida bruta de R$ 35,3 bilhões, a CSN, assim como a sua rival Usiminas, colocou seus ativos à venda, mas não avançou neste sentido ainda. “A CSN tem um histórico de colocar negócios à venda e voltar atrás. Agora dizem que não querem vender, mas buscar sócios minoritários. Ninguém quer ser sócio da CSN”, disse uma fonte do mercado financeiro. “A companhia está queimando cerca de R$ 3 bilhões de caixa este ano somente para pagar os juros da dívida”, disse outra fonte.

Caffarelli disse que a companhia recebeu propostas por seus ativos, mas ainda não fechou negócio. As renegociações das dívidas de curto prazo, que somam R$ 5,4 bilhões, com o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram estendidas de 2016/2017 para 2020/2021. Isso dá mais fôlego para a companhia não vender ativos na bacia das almas.

Além das ações da Usiminas, a companhia poderá se desfazer de fatia da ferrovia MRS, os portos de Tecon, de contêineres (considerado o ativo mais próximo de ser vendido), e de Sepetiba, e vender sua divisão de cimento, que passa por um momento ruim.

Ferrovia
O projeto da ferrovia Transnordestina corre o risco de ser paralisado. Caffarelli diz que esse projeto, para avançar, não depende do grupo, mas do governo. O executivo afirmou que há ainda alguns imóveis do grupo, que somam cerca de R$ 2 bilhões.

A saúde financeira da companhia, assim como a da Usiminas, é frágil. A recuperação dos preços do minério neste ano até tem dado um fôlego para a companhia, mas não é suficiente para garantir para o grupo respirar mais aliviado.

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