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Bolsonaro repete Collor com sucessivas trocas no comando da Petrobras

O uso político da Petrobras prejudica a empresa e deixa o mercado financeiro temeroso. Bolsonaro fará a quarta troca no comando da empresa

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Presidente Jair Bolsonaro e Fernando Collor de Mello
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro e Fernando Collor de Mello - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

As sucessivas trocas de presidente da Petrobras tem tido efeito zero na crise dos combustíveis, e, ao mesmo tempo, irritado o mercado financeiro. O pedido de demissão de José Mauro Coelho e a indicação de Fernando Borges como presidente interino, nessa segunda-feira (20/6), enquanto o Palácio do Planalto espera a confirmação de Caio Mario Paes de Andrade como novo comandante da estatal, são mais um capítulo dos dias turbulentos que a empresa tem vivido.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fará a quarta troca na presidência da estatal petrolífera em três anos de mandato. A velocidade das trocas promovidas pelo atual chefe do Palácio do Planalto tem se aproximado do ritmo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB).

Entre março de 1990 e novembro de 1992, Collor substituiu o comando da Petrobras cinco vezes. Bolsonaro, entre janeiro de 2019 e junho deste ano, fará a quarta troca.

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Outros presidentes, como José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, também fizeram várias trocas. Contudo, o tempo de mandato deles foi maior (veja o o ranking ao longo da reportagem).

Nos governos Sarney e Collor, entre 1985 e o fim de 1992, época marcada pela hiperinflação, a estatal trocou 10 vezes de presidente em sete anos.

Veja o ranking das trocas de presidentes da Petrobras após a redemocratização:

  • José Sarney (1985-1990): cinco trocas
  • Fernando Collor de Mello (1990-1992): cinco trocas
  • Itamar Franco (1992-1995): uma troca
  • Fernando Henrique Cardoso (1995-2003): quatro trocas
  • Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011): duas trocas
  • Dilma Rousseff (2011-2016): três trocas
  • Michel Temer (2016-2019): duas trocas
  • Jair Bolsonaro (2019-2022): quatro trocas

A situação degringolou após os seguidos reajustes dos combustíveis em 2022, embalados pelas perturbações causadas pela pandemia de Covid e pelos efeitos da Guerra da Ucrânia. A persistente inflação alta em ano eleitoral indignou Bolsonaro, dando início a uma batalha entre o governo – acionista majoritário e responsável pela indicação da maioria do Conselho de Administração – e a empresa – que tem muitos acionistas privados, minoritários.

Na prática, o governo quer mudar a Política de Paridade Internacional, o alinhamento de preços da Petrobras ao mercado externo, impedindo que as oscilações do mercado internacional sejam repassadas ao mercado interno. Atuação semelhante ocorreu no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e colaborou para a derrocada da petista, alvo de críticas duríssimas pelos efeitos da política no desempenho financeiro da empresa.

O cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), avalia que a interferência política prejudica a empresa.

“É ruim em todos os aspectos que a gente possa imaginar. É ruim para o governo, que se apresentou em 2018 com discurso liberalizante, de privatização. Essa atuação também não é benéfica em nada para a empresa, para o país”, explica.
Rui avalia que os ex-presidentes da estatal tentaram conduzir a empresa com autonomia, mas a pressão do governo fez sucumbir o desejo. “Não poderia ser espaço de negociação política para que não houvesse corrupção”, pondera.

Os impactos são claros. Quando o preço dos combustíveis sobe, pressiona a inflação e prejudica toda a economia do país – e as ambições eleitorais do presidente. A empresa, por sua vez, alega que, além da responsabilidade financeira com os acionistas, uma eventual manutenção artificial dos preços baixos pode gerar desabastecimento de combustível, pois o mundo está todo sofrendo com os efeitos da confusão mundial.

Além disso, as interferências deixam o mercado financeiro inseguro. “De certa maneira, o comportamento do presidente [Bolsonaro] já foi assimilado por parte da economia. Não é mais uma surpresa, mas aprofunda o problema”, conclui.

Crise

Petrobras comunicou, na manhã de segunda-feira (20/6), que José Mauro Coelho pediu demissão do cargo.

Coelho cedeu à pressão de Bolsonaro, que tem afirmado que o conselho da Petrobras está “boicotando” o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, ao não se reunir para votar as indicações feitas pelo governo para a última troca no comando da empresa.

Após o pedido de demissão de José Mauro Coelho, a Petrobras indicou Fernando Borges como presidente interino da estatal. Ele é diretor-executivo de Exploração e Produção e faz parte do Conselho de Administração da estatal desde abril de 2016. Ele ficará no cargo até a eleição e posse do novo presidente da empresa.

O governo trabalha para que Caio Mario Paes de Andrade assuma a presidência da Petrobras. Caio é secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, e tem a bênção do Palácio do Planalto para chegar ao comando da estatal petrolífera.

Para assumir o cargo efetivamente, Paes de Andrade precisa passar por assembleia do conselho da empresa.

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