Porto Alegre – O velório de João Alberto Silveira Freitas, o João Beto, levou ao cemitério São João familiares, amigos e pessoas solidárias ao homem negro assassinado por seguranças do supermercado Carrefour. Além da saudade, o sentimento de indignação e clamor por justiça estavam presentes nos rostos e nas falas de cada um dos presentes.
Primo de João Beto, Flávio Jones Machado, 41 anos, foi um dos primeiros a chegar ao Carrefour após o crime. “Quando eu cheguei, ele já estava na ambulância e os dois seguranças dentro do camburão, que era onde deveriam estar.” O parente da vítima explicou qual o problema de saúde que levou Beto a receber um pecúlio de aproximadamente R$ 400 por mês. “Ele era ajudante de caminhoneiro e uma caixa caiu na mão dele, e ficou sem conseguir movimentar direito a mão.”

João Beto caído no chão após as agressõesReprodução/Redes Sociais

Ele foi espancado até a morte em uma unidade do Carrefour, em Porto AlegreReprodução/Redes Sociais

Um vídeo mostra as agressõesReprodução/Redes Sociais

Ele morreu ainda no localReprodução/Redes Sociais

João AlbertoReprodução/Redes Sociais

Cenas do espancamento de João BetoReprodução/Redes Sociais

Cenas do espancamento de João BetoReprodução/Redes Sociais

Cenas do espancamento de João BetoReprodução/Redes Sociais

Cenas do espancamento de João BetoReprodução/Redes Sociais

Um desentendimento com funcionários do Carrefour teria motivado as agressões sofridas por João Alberto. Dois seguranças foram presos em flagranteReprodução/Redes Sociais

A vítima foi atacada com vários socos e golpes, registrados em vídeos por pessoas que assistiam à cena de terrorReprodução/Redes Sociais

Cenas do espancamento de João BetoReprodução/Redes Sociais

João Alberto foi morto no dia 19/11, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, ao ser espancado por dois seguranças de uma das filiais da rede CarrefourReprodução/Redes Sociais

Dezenas de pessoas – entre amigos, familiares e militantes de movimentos negros – acompanharam o velório e o sepultamento de João Alberto Silveira FreitasReprodução/Redes Sociais

Ele foi enterrado na manhã de 21/11, no Cemitério Municipal São João, zona norte de Porto AlegreReprodução/Redes Sociais
Como o valor do pecúlio não era suficiente para bancar a dívidas mensais, Beto foi procurar outras alternativas de conseguir renda. “Ele trabalhou em muita coisa, inclusive vendendo frutas na sinaleira”, afirma Machado. Para o primo da vítima, foi justamente em razão desse trabalho que podem ter iniciado problemas com os seguranças do supermercado. “Não sei se não tinha uma rusga antiga. Porque ele ia sempre no mercado justamente para comprar frutas que depois vendia no sinal.”
Beto era pai de cinco filhos, frutos de dois relacionamentos anteriores ao que tinha com Milena Borges Alves, 43, atual esposa que estava com ele no dia do crime. Segundo Flávio, o primo Beto gostava de futebol. Morador da Vila Farrapos, um bairro próximo à Arena do Grêmio, participava da torcida organizada Geral do Grêmio.
Há dois anos, ele se mudou para a Vila IAPI para morar com Milena. O novo bairro é berço do São José, um time tradicional de Porto Alegre, e ali se aproximou da torcida organizada do clube. A participação e identificação com o São José tornou rapidamente Beto uma figura identificada e querida no time. Membro da Farrapos, Carlos Eduardo Borges, lembra do amigo brincalhão e sempre presente nos encontros do grupo. “Vamos continuar honrando a memória dele no estádio e esperamos justiça”, diz Borges. O grupo está preparando uma bandeira em homenagem a Beto.
Borges também vai ao encontro da impressão que o primo de Beto sentia, de uma animosidade antiga dos funcionários do Carrefour com Beto. “A gente sempre ia ali em dias de jogos e eles olhavam torto para nós, alguns seguranças nos seguiam”, conta Borges, que também é negro.
O São José também prestou homenagem a Beto, com a presença de dirigentes do clube no velório. O conselheiro do São José Rodrigo Santos Paines não mediu as palavras para classificar o assassinato como um ato racista. “Quem quer negar que isso foi racismo está negando o próprio racismo”, classificou.

No enterro, o pai da vítima, João Batista Rodrigues Freitas, 65, lamentou a morte brutal do filhoEduardo Amaral

"Eu gostaria que o estopim para que as pessoas se dessem conta da existência do racismo não fosse o fim de uma vida", disse o pai de João BetoEduardo Amaral

E finalizou: "Queria que a educação pela igualdade começasse pelos bancos escolares. Mas, já que aconteceu com o meu filho, que sirva de exemplo. Se não podemos banir o racismo, que possamos ao menos reduzi-lo"Eduardo Amaral